Nicolas Camille Flammarion nasceu em Montigny-le-Roi, Haute-Marne, França, à uma hora do dia 26 de fevereiro de 1842; e, como ele mesmo diria mais tarde, “estava muito impaciente para chegar à Terra, e não esperou os 9 meses: nasceu aos 7 meses”.

 De modesta família de lavradores, ele era o mais velho de quatro filhos, apresentando qualidades excepcionais desde muito jovem. Aos quatro anos de idade já sabia ler, aos quatro e meio sabia escrever e aos cinco já dominava rudimentos de Gramática e Aritmética. Tornou-se o primeiro aluno da Escola Comunal conquistando, nos primeiros cursos, uma Cruz de Honra, que guardava como recordação de seu primeiro mestre, o Senhor Crapelet.

 Os Flammarions sempre tiveram uma vida dura, e Camille compreendeu o mérito de seu pai entregando tudo aos credores. Reconhecia nele o mais belo exemplo de energia e trabalho, entretanto, essa situação levou-o a viver com poucos recursos. Depois de muito procurar, Camille encontrou serviço de aprendiz de gravador, recebendo como parte do pagamento casa e comida.

 Pretendia completar seus estudos, principalmente a Matemática, a língua inglesa e o latim. Queria obter o bacharelado e por isso estudava sozinho à noite. Deitava-se tarde e nem sempre tinha vela. Escrevia ao clarão da lua e considerava-se feliz. Apesar de estudar à noite, trabalhava de 15 a 16 horas por dia. 

 Para que ele seguisse a carreira eclesiástica, seus pais o puseram a aprender latim com o vigário Lassalle. Flammarion conheceu o Novo Testamento e a Oratória. O padre Mirbel falou da beleza da ciência e da grandeza da Astronomia, porém, mal sabia que um de seus auxiliares, Camille Flammarion, lhe bebia as palavras. Aliás, seria ele a ilustrar a letra e a significação galo-romana do seu nome Flamma Orionis = “Aquele que leva a luz”. 

 Ingressou na Escola de desenho dos frades da Igreja de São Roque, a qual frequentava todas as quintas-feiras. Tinha os domingos livres e os ocupava assistindo as conferências feitas pelo abade sobre Astronomia. Em seguida, tratou de difundir as associações dos alunos de desenho dos frades de São Roque, todos eles aprendizes residentes nas vizinhanças. Seu objetivo era tratar de ciências, literatura e desenho, o que era um programa um tanto ambicioso.

 A primeira obra de Camille Flammarion foi “O Mundo Antes da Aparição dos Homens”, que fez quando tinha apenas 16 anos de idade. Também escreveu “Cosmogonia Universal”, um livro de quinhentas páginas; o irmão, Ernest Flammarion, também muito seu amigo, tornou-se livreiro e publicava-lhe os livros através das Edições Flammarion.

 Durante uma missa de domingo, Camille desmaia e é atendido em casa pelo doutor Edouvard Fornié. Um desmaio providencial, pois, ao ver o doente, o médico avista sob a cabeceira de Camille um manuscrito de “Cosmogonia Universal”. Após ver a obra, achou que o jovem merecia posição melhor e consegue-lhe uma vaga como aluno de Astronomia no Observatório de Paris, onde foi admitido como auxiliar, em 1858. Como calculador fez parte do “Bureau des Longitudes”.

 Trabalho e notoriedade

 A notoriedade de Camille Flammarion se deu com a obra “La Pluralité des Mondes Habités” (“A Pluralidade dos Mundos Habitados”), que escreveu em 1862, após deixar o Observatório de Paris, onde muito sofreu com as impertinências e perseguições do diretor Levèrrier, que não podia conceber a ideia de um rapazote acompanhá-lo em estudos de ordem tão transcendental.

 A partir dessa época, Flammarion começou a escrever livros populares de astronomia que foram traduzidos para diversas línguas. Para conhecer a direção das correntes aéreas, realizou, no ano de 1868, algumas ascensões aerostáticas.

 Mas, a guerra de 1870 interrompeu temporariamente a publicação de suas obras. Após estabilizado o período, mudou-se para uma casa situada na esquina da rua Cassini com a avenida do Observatório, em Paris.

Em 1874, casou-se com Sylvie Petiaux, sua namorada de infância, e levou-a em sua lua de mel em nada menos que um balão. Sylvie Flammarion fundaria a associação pacifista “Paz e Desarmamento por mulheres”, em 1899.

 O gabinete de Camile era muito singelo; mas, nas paredes, sobre o pavimento, em cima das mesas e das cadeiras, por todos os lados, uma montanha de livros, periódicos, folhetos e papéis. A sua mesa estava sempre coberta de cartas, que chegavam todos os dias, dos quatro extremos do mundo, e de provas para a sua Revista “L´Astronomie”, que fundara em 1882, e para o “Nouveau Dictionnaire Encyclopedique, etc.”

 No ano de 1880, Camille Flammarion recebeu o prêmio Montyon da Academia Francesa pela publicação de sua “Astronomia Popular”. Em 1883, ele fundou o Observatório Juvisy, do qual foi Diretor durante toda a sua vida, incentivando o trabalho de observadores amadores.

 Em 1887, funda a Société Astronomique de France [1] (Sociedade Astronômica da França) com o objetivo, em suas palavras, de “disseminar as ciências do universo e envolver os fãs em seu progresso.” Foi o Presidente da entidade e professor do Príncipe Imperial. Seus trabalhos para a popularização da Astronomia fizeram com que fosse agraciado, em 1912, com um prêmio da Ordre National de la Légion d'Honneur (Ordem Nacional da Legião de Honra).

 Em 1919, viúvo, ele se casou com Gabrielle Renaudot, sua secretária durante anos. Em 1923 presidiu a “Society for Psychical Research”. Fez experiências, entre outras, com as médiuns Madame Girardin (na casa de Victor Hugo, em Jersey), Mademoiselle Huet e Eusápia Paladino.

 O Imperador Pedro II, amante das ciências, foi visitar o astrônomo em seu retiro e plantou, com as suas próprias mãos, no parque, para perpetuar a memória de sua passagem, um pequeno cedro do Líbano, de cujo ato Flammarion, por sua vez, gravou em uma prancha de cobre, os detalhes desse acontecimento.

 Relação com Allan Kardec

 Tornando-se espírita convicto, Camille Flammarion foi amigo pessoal e dedicado de Allan Kardec, tendo sido o orador designado para proferir as últimas palavras à beira do túmulo do Codificador do Espiritismo.

 Rendendo homenagem a Kardec, que desencarnara, repentinamente, dia 31 de março de 1869, Flammarion, a convite da Direção da Sociedade Espírita de Paris, consigna, no seu discurso, para a posteridade que “Ele era o que eu denominarei o bom senso encarnado”, publicado, posteriormente, sob o título “Discours prononcé sur la tombe d´Allan Kardec”, [2] em “Oeuvres Posthumes d´Allan Kardec” (Obras Póstumas [3]) (RE - 1869 - Maio; OP, Discurso pronunciado junto ao túmulo de Allan Kardec).

 Obras

 As obras de Camille Flammarion foram traduzidas para grande número de idiomas: inglês, espanhol, sueco, dinamarquês, italiano, húngaro, checo, holandês, romeno, russo, alemão, português; e são referidas na “Revue Spirite” (“Revista Espírita [4]”), que também publica seus artigos.

 Suas obras, de uma forma geral, giram em torno do postulado espírita da pluralidade dos mundos habitados e são as seguintes: “Os Mundos Imaginários e os Mundos Reais”, “As Maravilhas Celestes”, “Deus na Natureza”, “Contemplações Científicas”, “Estudos e Leitura sobre Astronomia”, “Atmosfera”, “Astronomia Popular”, “Descrição Geral do Céu”, “O Mundo antes da Criação do Homem”, “Os Cometas”, “As Casas Mal-Assombradas”, “Narrações do Infinito”, “Sonhos Estelares”, “Urânia”, “Estela”, “O Desconhecido”, “A Morte e seus Mistérios”, “Problemas Psíquicos”, “O Fim do Mundo”, entre outras.

 Desencarne

 Popularizador da Astronomia e divulgador do Espiritismo, Camille Flammarion desencarnou no dia 4 de junho de 1925, aos 83 anos, em Juvisy-sur-Orge. Com o fato, sua esposa Mme. Gabrielle Camille Flammarion assumiu a direção do Observatório Juvisy, desencarnando, porém, dois anos depois.

 Segundo Gabriel Delanne, Camille Flammarion foi um filósofo enxertado e sábio, possuindo a arte da ciência e a ciência da arte. Flammarion “poeta dos Céus”, como o denominava Michelet, tornou-se baluarte do Espiritismo, pois, sempre coerente com suas convicções inabaláveis, foi um verdadeiro idealista e inovador. 

 

Fontes:

 - Grandes Vultos do Espiritismo;

- Site Ministério da Cultura da França [5];

- Revista ICESP, nº 14.

 www.uemmg.org.br

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