“O vácuo absoluto existe em alguma parte no Espaço universal?
‘Não, não há o vácuo. O que te parece vazio está ocupado por matéria que te escapa aos sentidos e aos instrumentos.’” (“O Livro dos Espíritos”, questão 36)
O fluido universal, também referido por fluido cósmico, é a matéria elementar primitiva. Na obra “Evolução em Dois Mundos” [1], André Luiz assim discorre a seu respeito:
“O fluido cósmico é o plasma divino, hausto do Criador ou força nervosa do Todo-Sábio. (...) na essência, toda a matéria é energia tornada visível e que toda a energia, originariamente, é força divina de que nos apropriamos para interpor os nossos propósitos aos propósitos da Criação, cujas leis nos conservam e prestigiam o bem praticado, constrangendo-nos a transformar o mal de nossa autoria no bem que devemos realizar, porque o Bem de Todos é o seu Eterno Princípio. Compete-nos, pois, anotar que o fluido cósmico ou plasma divino é a força em que todos vivemos, nos ângulos variados da Natureza, motivo pelo qual já se afirmou, e com toda a razão, que ‘em Deus nos movemos e existimos’” (Paulo de Tarso, em Atos 17:28 ).
Tudo o que existe de matéria, ponderável e imponderável — ou seja, a matéria que forma nossos corpos densos e perispirituais —, é originário do Fluido Universal. Considerando matéria como energia tornada visível, também segundo o mesmo autor e obra acima citados, entende-se que toda energia também advém do Fluido Universal. O Princípio Inteligente, outra criação divina, se utiliza de todas essas formas de energia para se manifestar; não é o Princípio Material, mas faz uso deste.
Como antenas emissoras e receptoras de radiofrequência, emitimos e recebemos pensamentos constantemente. Nossos pensamentos, como energia que são, se propagam por meio do fluido universal, razão pela qual Espíritos podem “ouvir” nossos pensamentos e se afinizar com os mesmos, independente de qualquer conotação de mediunidade ostensiva.
Na obra “A Gênese”, encontramos diversas explanações acerca do fluido universal, como, por exemplo:
“Há um fluido etéreo que enche o espaço e penetra os corpos. Esse fluido é o éter ou matéria cósmica primitiva, geradora do mundo e dos seres. São-lhe inerentes as forças que presidiram às metamorfoses da matéria, as leis imutáveis e necessárias que regem o mundo.” [2]
“A matéria cósmica primitiva continha os elementos materiais, fluídicos e vitais de todos os universos que estadeiam suas magnificências diante da eternidade. Ela é a mãe fecunda de todas as coisas, a primeira avó e, sobretudo, a eterna geratriz. Absolutamente não desapareceu essa substância donde provêm as esferas siderais; não morreu essa potência, pois que ainda, incessantemente, dá à luz novas criações e incessantemente recebe, reconstituídos, os princípios dos mundos que se apagam do livro eterno. A substância etérea, mais ou menos rarefeita, que se difunde pelos espaços interplanetários; esse fluido cósmico que enche o mundo, mais ou menos rarefeito, nas regiões imensas, opulentas de aglomerações de estrelas; mais ou menos condensado onde o céu astral ainda não brilha; mais ou menos modificado por diversas combinações, de acordo com as localidades da extensão, nada mais é do que a substância primitiva onde residem as forças universais, donde a Natureza há tirado todas as coisas. [3]
Pesquisas científicas do final do século XX e primeira década do século XXI indicam que o Universo não é dotado de vácuo, ou seja, não é vazio, em lugar algum. Também se constatou que uma radiação de fundo, existente desde a formação do Universo, está presente em cada canto deste. Foi descoberta uma forma de energia ainda não detectável fisicamente, porém com sua influência verificável de forma teórica e prática. Esta se denomina energia escura. Em nossa interpretação, a partir das constatações de diversos artigos científicos, a energia escura pode ser um componente do fluido universal ainda em seu estado primitivo, ou seja, não transformado em outras formas de energia e matéria.
Vejamos alguns trechos de publicações científicas baseadas em medições de sondas espaciais como WMAP (Wilkinson Microwave Anisotropy Probe) e COBE (Cosmic Background Explorer). Verifica-se, em artigos como os abaixo, que cientistas constatam uma ordem perfeita na distribuição de massa e energia em cada etapa da existência do Universo, incompatível com uma formação “ao acaso”. De fato, uma Inteligência Superior preside a tudo.
“(...) o universo realmente é repleto de uma radiação em microondas (se os nossos olhos fossem sensíveis a essa radiação, veríamos um brilho difuso no espaço à nossa volta) cuja temperatura é de aproximadamente 2,7 graus acima do zero absoluto, o que coincide exatamente com a expectativa da teoria do big-bang. Em termos concretos, em cada metro cúbico do universo — inclusive esse em que você está — existem em média 400 milhões de fótons que compõem coletivamente o vasto mar cósmico da radiação em microondas, o eco da criação.” [4]
“Energia escura: essa é uma forma verdadeiramente estranha de matéria, ou talvez uma propriedade do próprio vácuo, que é caracterizada por uma grande pressão negativa. Esta é a única forma de matéria que pode fazer a expansão do universo acelerar.” [5]
“WMAP mede a composição do universo. A composição varia conforme o universo expande: a matéria escura e átomos tornam-se menos densos à medida que o universo expande (...). Parece que a densidade de energia escura não diminui de forma alguma, então ela agora domina o universo ainda que tivesse uma minúscula contribuição há 13,7 bilhões de anos.” [6]
“(...) WMAP confirmou a existência de uma energia escura que age como uma antigravidade, levando o universo a acelerar sua expansão. Se a energia escura tivesse dominado mais cedo, o universo teria expandido rápido demais para comportar o desenvolvimento de vida. Nosso universo aparenta ter o princípio de Goldilocks [da fábula “Cachinhos Dourados e os Três Ursos”]: nada demais e nada de menos — exatamente a massa e energia suficientes para comportar o desenvolvimento de vida.” [7]
“(...) a densidade de energia do vácuo permanece constante mas a energia total do vácuo cresce conforme o universo cresce (expande). Esta energia adicional provém da energia potencial gravitacional do universo. (...) se a densidade de energia escura mudou, não pode consistir de energia do vácuo. Para solucionar este problema, Robert R Caldwell, Paul J Steinhardt e Rahul Dave, em 1998, propuseram a quintessência: (...) uma forma de energia dinâmica, que evolui com o tempo e depende do espaço, com pressão negativa o suficiente para acelerar a expansão do universo. (...) O nome provém da ideia de um 5º elemento como um tipo especial de matéria que preenche o cosmos introduzida pelos gregos. Na cosmologia aristotélica, por exemplo, o universo seria finito, estático e formado por cinco elementos primordiais: água, ar, terra, fogo e quintessência.” [8]
Fonte: NASA / WMAP Science Team
Allan Kardec apresentou, aos Espíritos da falange do Consolador, diversas questões acerca de tal fluido. Vejamos alguns exemplos.
“Será o fluido universal uma emanação da divindade?
‘Não.’
Será uma criação da divindade?
‘Tudo é criado, exceto Deus.’
O fluido universal será ao mesmo tempo o elemento universal?
‘Sim, é o princípio elementar de todas as coisas.’
(...)
Já disseram que o fluido universal é a fonte da vida. Será ao mesmo tempo a fonte da inteligência?
‘Não, esse fluido apenas anima a matéria.’
Pois que é desse fluido que se compõe o perispírito, parece que, neste, ele se acha num como estado de condensação, que o aproxima, até certo ponto, da matéria propriamente dita?
‘Até certo ponto, como dizes, porquanto não tem todas as propriedades da matéria. É mais ou menos condensado, conforme os mundos.’
Como pode um Espírito produzir o movimento de um corpo sólido?
‘Combinando uma parte do fluido universal com o fluido, próprio àquele efeito, que o médium emite.’” [9]
“Será o fluido universal o veículo do pensamento, como o ar o é do som?
‘Sim, com a diferença de que o som não pode fazer-se ouvir senão dentro de um espaço muito limitado, enquanto que o pensamento alcança o infinito. O Espírito, no Além, é como o viajante que, em meio de vasta planície, ouvindo pronunciar o seu nome, se dirige para o lado de onde o chamam.’” [10]
“Como se comunicam entre si os Espíritos?
‘Eles se veem e se compreendem. A palavra é material: é o reflexo do Espírito. O fluido universal estabelece entre eles constante comunicação; é o veiculo da transmissão de seus pensamentos, como, para vós, o ar o é do som. É uma espécie de telégrafo universal, que liga todos os mundos e permite que os Espíritos se correspondam de um mundo a outro.’” [11]
“De onde tira o Espírito o seu invólucro semimaterial?
‘Do fluido universal de cada globo, razão por que não é idêntico em todos os mundos. Passando de um mundo a outro, o Espírito muda de envoltório, como mudais de roupa.’
a) — Assim, quando os Espíritos que habitam mundos superiores vêm ao nosso meio, tomam um perispírito mais grosseiro?
‘É necessário que se revistam da vossa matéria, já o dissemos.’” [12]
Ponderando sobre as orientações acima, dentre outras, Kardec assim conclui a respeito do elemento que forma os corpos densos e semimateriais:
“O fluido cósmico universal é, como já foi demonstrado, a matéria elementar primitiva, cujas modificações e transformações constituem a inumerável variedade dos corpos da Natureza (Cap. X). Como princípio elementar do Universo, ele assume dois estados distintos: o de eterização ou imponderabilidade, que se pode considerar o primitivo estado normal, e o de materialização ou de ponderabilidade, que é, de certa maneira, consecutivo àquele. O ponto intermédio é o da transformação do fluido em matéria tangível. Mas, ainda aí, não há transição brusca, porquanto podem considerar-se os nossos fluidos imponderáveis como termo médio entre os dois estados.” [13]
“(...) O corpo perispiritual e o corpo humano têm, pois, sua fonte no mesmo fluido; um e outro são matéria, conquanto em dois estados diferentes. Assim, tivemos razão de dizer que o perispírito é da mesma natureza e da mesma origem que a mais grosseira matéria. Como se vê, nada há de sobrenatural, já que o perispírito se liga, por seu princípio, às coisas da Natureza, das quais não passa de uma variedade.
Sendo o fluido universal o princípio de todos os corpos da Natureza, animados e inanimados e, por conseguinte, da terra, das pedras, razão tinha Moisés quando disse: “Deus formou o corpo do homem do limo da terra.” Gênesis 02:07[] Isto não quer dizer que Deus tomou terra, petrificou-a e com ela modelou o corpo do homem, como se modela uma estátua com argila e como acreditaram os que tomam as palavras bíblicas ao pé da letra; mas, sim, que o corpo era formado dos mesmos princípios ou elementos que o limo da terra.
Moisés acrescenta: “E lhe deu uma alma vivente, feita à sua semelhança.” [Gênesis 05:01] Ele faz, assim, uma distinção entre a alma e o corpo; indica que ela é de natureza diferente, que não é matéria, mas espiritual e imaterial como Deus. Diz: uma alma vivente, para especificar que nela só está o princípio da vida, ao passo que o corpo, formado da matéria, por si mesmo não vive. Estas palavras: à sua semelhança, implicam uma similitude e não uma identidade. Se Moisés houvesse considerado a alma como uma porção da Divindade, teria dito: Deus o anima dando-lhe uma alma tirada de sua própria substância, como disse que o corpo tinha sido tirado da terra.
Estas reflexões são uma resposta às pessoas que acusam o Espiritismo de materializar a alma, porque lhe dá um envoltório semimaterial.” [14]
Outra função do fluido universal é a de veículo do pensamento. Compreendendo tal propriedade, a prece deixa de ser ritual místico e se torna mecanismo lógico de comunicação, como pontua o Codificador da Doutrina Espírita a seguir:
“O Espiritismo torna compreensível a ação da prece, explicando o modo de transmissão do pensamento, quer no caso em que o ser a quem oramos acuda ao nosso apelo, quer no em que apenas lhe chegue o nosso pensamento. Para apreendermos o que ocorre em tal circunstância, precisamos conceber mergulhados no fluido universal, que ocupa o espaço, todos os seres, encarnados e desencarnados, tal qual nos achamos, neste mundo, dentro da atmosfera. Esse fluido recebe da vontade uma impulsão; ele é o veículo do pensamento, como o ar o é do som, com a diferença de que as vibrações do ar são circunscritas, ao passo que as do fluido universal se estendem ao infinito. Dirigido, pois, o pensamento para um ser qualquer, na Terra ou no espaço, de encarnado para desencarnado, ou vice-versa, uma corrente fluídica se estabelece entre um e outro, transmitindo de um ao outro o pensamento, como o ar transmite o som.
A energia da corrente guarda proporção com a do pensamento e da vontade. É assim que os Espíritos ouvem a prece que lhes é dirigida, qualquer que seja o lugar onde se encontrem; é assim que os Espíritos se comunicam entre si, que nos transmitem suas inspirações, que relações se estabelecem a distância entre encarnados.
Essa explicação vai, sobretudo, com vistas aos que não compreendem a utilidade da prece puramente mística. Não tem por fim materializar a prece, mas tornar-lhe inteligíveis os efeitos, mostrando que pode exercer ação direta e efetiva. Nem por isso deixa essa ação de estar subordinada à vontade de Deus, juiz supremo em todas as coisas, único apto a torná-la eficaz.” [15]
O entendimento de que tudo, mundos e criaturas, provêm do mesmo Criador, nos traz a noção de todos sermos irmãos. A compreensão de que, na totalidade do universo, estamos imersos no mesmo fluido universal, interligando tudo e todos, faz perceber que somos irmãos muito próximos, estejamos em lados opostos da Terra ou em mundos sitos a milhões de anos-luz de distância do planeta que ora habitamos.
O que pensamos, dizemos e fazemos, ecoa por todos os mundos; influi nessa teia energética que a todos interconecta e, portanto, faz toda a diferença. Nossa escolha por vencer nossas más tendências, traduzidas por ações em prol do Bem do próximo, irradia vibrações de frequências mais elevadas — e, portanto, de maior energia — nesse fluido. Evolui a atmosfera psíquica ao nosso redor e, por extensão, do próprio Universo. Eis o nosso compromisso.
Autores: Carla e Hendrio
Referências:
[1] XAVIER, Francisco Cândido. “Evolução em Dois Mundos”. Pelo Espírito André Luiz. 14ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1995. Primeira Parte. Capítulo 1.
[2] KARDEC, Allan. “A Gênese”. 34ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1991. Capítulo VI, item 10.
[3] Ibidem, item 17.
[4] GREENE, Brian. “O universo elegante: supercordas, dimensões ocultas e a busca da teoria definitiva”. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2001. Capítulo 14. “O Teste do Big-Bang”.
[5] National Aeronautics and Space Administration (NASA). “Cosmology: The Study of the Universe”. Publicado em 19 de outubro de 2009. Disponível em http://wmap.gsfc.nasa.gov/universe/WMAP_Universe.pdf. Acesso em 03/08/2010.
[6] NASA/WMAP Science Team. “Content of the Universe”. Publicado em 07 de março de 2008. Disponível em http://wmap.gsfc.nasa.gov/news/5yr_release.html. Acesso em 02/08/2010.
[7] National Aeronautics and Space Administration (NASA). “Understanding the Evolution of Life in the Universe”. Disponível em http://map.gsfc.nasa.gov/universe/uni_life.html. Acesso em 02/08/2010.
[8] BERGMANN, Thaisa Storchi. “Constante Cosmológica”. Departamento de Astronomia. Instituto de Física. Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Disponível em http://www.if.ufrgs.br/~thaisa/cosmologia/Constante_Cosmologica1.htm. Acesso em 02/08/2010.
[9] KARDEC, Allan. "O Livro dos Médiuns". 55ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Segunda Parte, Capítulo IV, item 74, questões I, II, III, VI, VII e VIII.
[10] Ibidem, Capítulo XXV, item 282, questão 5ª-a.
[11] KARDEC, Allan. “O Livro dos Espíritos”. 66ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Questão 282.
[12] Ibidem, Questão 94.
[13] KARDEC, Allan. “A Gênese”. 34ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1991. Capítulo XIV, item 2
[14] KARDEC, Allan. “Revista Espírita de março de 1866”. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 2004. “Introdução ao Estudo dos Fluidos Espirituais”, Item VII.
[15] KARDEC, Allan. “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. 97ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Capítulo XXVII, item 10.