A dor do luto continuará tentando chamar sua atenção até que você tenha coragem, de forma suave e em pequenas doses, de se abrir para sua presença.
E essa coragem vai te acompanhar todos os dias em uma jornada de cuidado, cura, renovação e autoconhecimento

O que é coragem? Quando você pensa em coragem, as imagens da bravura podem vir à mente – cavaleiros lutando, bombeiros arriscando suas vidas para resgatar uma família de um edifício em chamas ou escaladores subindo o Monte Everest. Isso é bravura, não coragem. A bravura é barulhenta e turbulenta. A coragem é suave e silenciosa. Sem a firmeza, a determinação tranquila e o compromisso infalível da coragem, a bravura nunca aconteceria. A coragem é o que alimenta a bravura. É a ponte entre medo e ação. É uma voz calma e silenciosa que te incentiva a continuar.

A bravura é ousada e fazedora, a coragem é amigável e acolhedora. Imagine o que seria ter a coragem como um amigo que caminha ao seu lado em todos os momentos, um amigo que nunca se aborrece, nunca empurra, mas simplesmente coloca uma mão gentil nas suas costas e sussurra palavras de incentivo, te ajudando a dar o próximo passo.

 

“Qualquer coisa que você faça, é preciso coragem.”- Ralph Waldo Emerson

Quando se reconhece a inevitabilidade da dor da perda e a disposição para abraçá-la gentilmente é que se demonstra a coragem de honrar a dor. Honrar é “reconhecer o valor de” e “respeitar”. Não é da nossa natureza olhar para a dor abertamente, como algo a ser honrado. Mas o luto é o preço que se paga por ter amado. Honrar o seu sofrimento não é autodestrutivo ou prejudicial mas sim corajoso e vital.

A palavra “expressar” significa literalmente “pressionar ou espremer, divulgar e revelar”. A auto-expressão pode mudar a forma como você percebe e experimenta seu mundo. Transformar seus pensamentos e sentimentos em palavras lhes dão significado e forma. Reconhecer honestamente o seu luto pode ajudar a sobreviver neste momento tão difícil. O propósito não é reprimir suas emoções, mas sim permitir que sejam tão completas que se movam através de você.

A dor do luto continuará tentando chamar sua atenção até que você tenha coragem, de forma suave e em pequenas doses, de se abrir para sua presença. A alternativa de negar ou suprimir a dor é de fato mais dolorosa. Mas aí você se pergunta: “Como vou abrigar essa perda? O que eu faço com essa dor? Será que faço amizade, ou farei dela minha inimiga?”.

A dor que envolve um coração fechado é a dor de viver contra si mesmo, a dor de negar como uma perda nos transforma, a dor de se sentir sozinho e isolado, incapaz de chorar abertamente, incapaz de amar e ser amado por aqueles ao seu redor. Em vez de morrer enquanto você está vivo, você pode optar por se permitir permanecer aberto à dor, o que, em grande parte, honra o amor que sente pela pessoa que morreu. Afinal, amor e tristeza são dois lados da mesma moeda preciosa.

Um antigo ditado hebraico diz: “Se você quiser a vida, você deve esperar o sofrimento”. Paradoxalmente, é o próprio ato de ter coragem de se mover para a dor que finalmente leva à cura.

Você está “enlutado”, o que literalmente significa que você foi “despedaçado” e tem “necessidades especiais”. Você está começando ou está no meio de uma jornada dolorosa, muitas vezes solitária e naturalmente assustadora. Dentre as suas necessidades mais especiais no momento está a coragem de expressar o seu luto – e sabemos que a nossa cultura nem sempre nos convida a fazer isso.

Há uma diferença entre a dor e o luto. A dor é uma constelação de pensamentos e sentimentos internos que temos quando alguém que amamos morre. O luto é quando você pega o sofrimento que você tem por dentro e expressa fora de si mesmo. Em outras palavras, o luto é um sofrimento em ação.

É importante dar as mãos para dor e deixá-la nos conduzir através da escuridão mas em direção à luz. Você pode não ver a luz no início, mas avançar com coragem e com a fé de que a luz da esperança e da felicidade existe. Sinta a sua dor, tristeza, descrença, agonia, desgosto, medo, ansiedade e solidão, tanto quanto você pode.

Isso pode parecer estranho, pois essas emoções podem ser as que você mais deseja evitar. Você pode cair no pensamento comum da nossa sociedade de que negar esses sentimentos fará com que eles desapareçam. Você pode ter o desejo de “manter a cabeça erguida” e ficar ocupado esperando “superar” seu sofrimento. No entanto, ironicamente, a única maneira de ajudar esses sentimentos difíceis é carregar o peso deles. O pesar não é limpo, arrumado ou conveniente. No entanto, senti-lo e expressá-lo é a única maneira de ficar inteiro mais uma vez.

E enquanto você anda com sua dor, lute ativamente. Chore quando precisar, chame um amigo quando se sentir devastado, junte-se a um grupo de apoio ao luto, expresse-se através da escrita, música, dança ou esportes. Ao agir, você acabará por integrar a morte do seu ente querido à sua vida. Em troca, você encontrará a esperança, a coragem e o desejo de viver novamente uma vida plena e gratificante.

Ao caminhar com a tristeza, lembre-se de duas coisas importantes: 1) A dor e o luto não têm cronologia. Sua jornada é única e terá o tempo necessário, dependendo das circunstâncias únicas de sua perda. 2) É preciso e necessário fazer pausas ao longo do caminho. Eu gosto de usar a palavra “dosagem” quando falo de luto. O sofrimento não é algo que você sente ou vive de uma vez só. Aceite uma pausa quando necessário.

Cultive um relacionamento com a coragem todos os dias. Todas as manhãs dê as boas vindas à coragem. Antes de se levantar, diga sua frase favorita sobre coragem em voz alta. Isso ajuda a manter a coragem próxima, durante todo o dia.

Um exercício de coragem talvez seja simplesmente ter o desejo de sair da cama. Também pode ser corajoso compartilhar o que você sente sobre sua perda com um colega de trabalho ou amigo, ou passar pelas portas de um grupo de apoio de luto. Pode ser simplesmente fazer um telefonema que você adiou, escrever um agradecimento a alguém que o ajudou, ir sozinho a uma igreja ou templo ou encontrar uma forma de ser honesto com você mesmo sobre algo que teme. Cura após uma morte é difícil. É preciso coragem em todas as formas e tamanhos para lutar plenamente enquanto vivemos pelo dia a dia. Parabenize-se por ter coragem, independentemente do tamanho ou do alcance.

 

Esse post foi inspirado no artigo “Mustering the Courage to Mourn” de Alan D. Wolfelt, Ph.D.

Autora:  Gisela Adissi

 Fonte: http://www.espiritualidades.com.br/



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