O mundo, de um momento para o outro, mudou. E nós, homens e mulheres até então despreocupados (ou melhor, preocupados tão somente com nossas questões/dificuldades hodiernas comuns), dotados de livre-arbítrio e da prerrogativa constitucional de ir e vir, nos vimos confinados, isolados, amedrontados em razão da propagação de um vírus capaz de afetar tragicamente os mais vulneráveis, incluindo nosso frágil sistema de saúde. Obrigados, à força, a sair da agradável zona de conforto que nos faz protagonistas absolutos de nosso cotidiano egoísta. Um baque e tanto, certamente. Contudo, não é novidade.
Embora naturalmente cada experiência seja única, esse não é o primeiro (e nem será o último) obstáculo que, como coletividade, testemunhamos. Talvez o mais complexo da atual geração, porém nós, como espíritos imortais, herdeiros de múltiplas existências, já passamos por inúmeras provas sombrias: guerras de aniquilação e anexação de territórios; inquisição; revoluções; peste negra; hanseníase; gripe espanhola; escravidão; holocausto. De cada uma delas, saímos um pouco mais fortalecidos, conscientes, instruídos. Melhor habilitados, em suma, a cumprir a meta ascensional evolutiva a que estamos destinados.
Essa, aliás, é a dinâmica da vida: conforme os séculos passam, estamos (ou deveríamos estar) mais aptos a apreender a verdade. Afinal, como narra o apóstolo Paulo, em sua epístola aos Coríntios: “Quando eu era menino; falava como menino; pensava como menino; raciocinava como menino. Quando me tornei homem, deixei para trás as coisas de menino”.
Mas, o que isso quer dizer? Em nossa infância espiritual, Deus nos enviou, através de seus profetas, as verdades que, então, tínhamos condições de assimilar. A partir da vinda do Messias ao orbe terrestre, nosso período de maioridade (de acordo com Emmanuel, no livro A Caminho da Luz), chegam-nos outros axiomas sublimes. Na época da maturidade, por fim, vem a terceira revelação, a Doutrina Espírita, nos chamar à realidade: não estamos aqui a passeio. A benção da reencarnação deve ser aproveitada em sua justa finalidade, qual seja, a do crescimento individual e coletivo. É hora de abandonar o menino que teimosamente habita em nós; de crescer e amadurecer; amealhar virtudes; vivenciar o Evangelho de Jesus, pondo em prática a máxima do “amor ao próximo como a ti mesmo”.
Não é necessariamente o fim dos tempos – quer dizer, não da forma que alguns apregoam. Todavia é, sim, o fim de uma era. Estações de dúvida, de temor e de dor conjunta nos induzem à reflexão. Nos fazem compreender que, a despeito do orgulho e egoísmo ainda presentes em nossas relações, somos seres sociais. Dependemos uns dos outros. Que a segurança e o bem-estar de todos sustenta-se no comportamento de cada um. No apoio mútuo. No olhar caridoso e igualmente respeitoso a nossos irmãos.
A pandemia do novo Corona vírus escancarou sim, nossos medos, ansiedades, problemas. Afetará, de forma contundente, nossa economia. Entretanto vem dando lugar, e nos parece, de forma irreversível, a uma nova postura perante o semelhante: mais humana, mais empática, mais terna. Mais próxima, enfim, das atitudes usuais que convém a um planeta regenerado – destino inexorável da Terra.Tudo passa. Quando, em breve, isso também passar, certamente estaremos mais perto de uma sociedade rica em amor, igualdade, justiça e solidariedade.
Daniele BarizonJornalista/trabalhadora e expositora espírita
Membro do Centro Espírita caridade e União – Três Rios - RJ
Fonte: texto enviado pela autora em 29/03/2020