O Espírito se recorda do que foi em sua existência corporal.
Essa lembrança da existência corporal se apresenta ao Espírito pouco a pouco, como surgindo do nevoeiro, e à medida que fixa a sua atenção. Ele se lembra das coisas em razão das consequências que tiveram para o seu estado de Espírito, mas compreende que há circunstâncias de sua vida às quais ele não dá importância e que nem mesmo procura recordar.
Todos os atos de que tenha interesse de se lembrar são para ele como se fossem presentes. Os outros estão mais ou menos vagos em sua mente ou totalmente esquecidos. Quanto mais se desmaterializa, menos importância atribui às coisas materiais. O que se lembra muito bem são os fatos principais que o ajudam a melhorar-se.
Todo o passado de existências anteriores que precederam a última se desenrola diante do Espírito. Mas não se lembra de maneira absoluta de todos os atos; recorda-os em razão da influência que tem sobre seu estado presente. Quanto às primeiras existências, as que são consideradas a infância do Espírito, se perdem no vago e são esquecidas.
Considera o corpo como uma veste incômoda e fica feliz por estar livre. Conserva a lembrança dos sofrimentos que experimentou durante a última existência corporal, e essa lembrança faz sentir melhor o preço da felicidade que experimenta como Espírito.
A situação dos Espíritos e sua maneira de ver as coisas variam ao infinito em razão do grau do seu desenvolvimento moral e intelectual. Os Espíritos de ordem mais elevada geralmente fazem da Terra paradas de curta duração; tudo que se faz aqui é tão mesquinho em comparação com as grandezas do infinito, as coisas às quais os homens ligam a maior importância são tão pueris aos seus olhos, que eles encontram poucos atrativos, a menos que sejam chamados com o objetivo de concorrer para o progresso da Humanidade. Os Espíritos de ordem mediana consideram as coisas de um ponto de vista mais elevado do que quando em vida. Os Espíritos vulgares constituem a massa da população ambiente do mundo invisível; conservam as mesmas idéias, os mesmos gostos e as mesmas inclinações que tinham quando no corpo físico; intrometem-se nas nossas reuniões, nas nossas ocupações, nas nossas recreações, nas quais tomam parte mais ou menos ativa, conforme seus caracteres. Entre eles existem alguns mais sérios que vêem e observam para se instruírem e se aperfeiçoarem.
As idéias dos Espíritos sofrem modificações muito grandes à medida que o ele se desmaterializa. Ele pode ficar muito tempo com as mesas idéias, mas, pouco a pouco, a influência da matéria diminui, e vê as coisas mais claramente; é então que procura os meios de se tornar melhor.
Referência:
O Livro dos Espíritos – Livro II – Cap. Vi – Allan Kardec.