Aquilo que foi doloroso suportar torna-se agradável depois de suportado; é natural sentir prazer no final do próprio sofrimento.  – Sêneca

Dor é um daqueles sentimentos do qual nunca nos livramos por completo. Quanto mais a gente cresce, mais a gente entende que viver e doer fazem parte, muitas vezes, da mesma frase.

As vezes me pego pensando, geralmente em momentos tristes, em quantas dores já senti.

Quantos momentos já pensei que não conseguiria superar, que aquilo nunca ia passar, mas passou. Sempre passou. 

Existem muitos tipos de dores. Quando eu tinha 6 anos e comecei a usar óculos de grau. Uma professora zombou de mim na frente da classe, isso doeu. Eu era tímida, vergonhosa, e doeu. Com 10 anos mudei para outro país e sem falar a língua, a menina que interpretava para mim na escola me humilhou várias vezes com suas atitudes. Doeu. Aos 16, meu primeiro namoradinho me traiu com uma colega de escola, minha primeira decepção amorosa, e doeu. Aos dezessete voltei para o Brasil sem meus pais e fui para uma escola onde eu não conhecia ninguém e me sentia muito sozinha, a solidão e a distância da família doeram. Aos 24 eu perdi um tio muito querido para um acidente e no ano seguinte meu melhor amigo também se foi, isso cortou, doeu tanto! Eu vi a minha mãe passar por um momento assustador, meu pai por um acidente sério e não podia estar por perto e aquela angústia doeu.

Eu sofri tantas outras decepções com pessoas que eu pensava que nunca iriam me machucar, amizades que não foram verdadeiras, amores que me trataram abusivamente e pessoas que simplesmente me descartaram, sem olhar para trás. Tudo isso doeu, doeu muito. E eu sofri demais, eu chorei, eu parei de comer, me martirizei, parei a vida pra sentir aquela dor.

Recentemente, doeu a perda de algo que eu pensei nunca querer, mas me fez entender o que era amor incondicional.

Senti a dor daquela perda e me culpei por não cuidar o suficiente daquele novo amor, eu me arrependi dos meus atos, doeu. 

Em seguida, quando pensei que tudo já estava bem, fui magoada várias vezes por alguém que se aproveitou do meu momento de fragilidade. Nossa, como doeu! Como dói.

Ao me ver regredir para aquele momento de entrega absoluta à minha dor, eu me vi analisando todo o meu passado. Todas as vezes em que pensei que aquela dor era o fim do mundo, que era o ápice da desilusão e acabei chegando à uma conclusão: eu sempre superei. Sempre me tornei mais forte, mais decidida, mais mulher do que antes, mais alegre e agradecida até mesmo com as coisas e pessoas ruins que passaram por minha vida.

Bater o cotovelo na quina da mesa dói, a recuperação de uma cirurgia dói, sentir saudades de um lugar dói, mudanças doem, viver e ser em muitos momentos dói.  Mas é você escolhe se vale a pena ou não sentir essa dor pra sempre.

Vale a pena se afundar naquele sentimento? A gente tem que sentir mesmo. Eu sou do tipo que não sabe fingir que está bem quando não está. Não sei forçar meu riso. A gente tem que usar a dor e o sofrimento para analisar o que a gente também fez de errado e entender quais foram as escolhas nos trouxeram até aqui.

Algumas dores são piores que as outras e perduram por mais tempo. Tem ferida que demora mais pra cicatrizar, tem ferida que nunca cicatriza por completo, mas o tempo, ah ele é uma coisa linda!

Por mais clichê que isso seja, eu consigo olhar para trás e ver claramente que nenhuma das minhas dores me fizeram alguém pior.

A gente vai sentir, vai sofrer, vai chorar, vai querer desaparecer e pensar que é o fim do mundo mas, lá na frente, a gente vai entender e aceitar, vai crescer e no final, agradecer por tudo de lindo que ela, a dor, também nos trouxe.

Fonte: www.osegredo.com.br

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