“Se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as fizerdes” –
Jesus (João, 13:17)

A sabedoria popular afirma que “na prática a teoria é diferente”. É uma frase
um tanto mal elaborada, mas expressa bem o entendimento de que só a teoria não resolve.
Na hora de aplicar o conhecimento surgem dificuldades que só serão superadas com
o exercício, com a prática. Realmente entre o saber e o fazer há grande diferença.
Achamos que sabemos, mas quando vamos fazer nos damos conta de que, na verdade,
não sabíamos. A Pedagogia, que é a arte da educação e do ensino, nos esclarece que
só aprendemos, verdadeiramente, fazer, fazendo. Ou seja, só podemos dizer que sabemos
algo depois que o praticamos, e não, por informações ou teoria. Em outras palavras,
só aprendemos a nadar, nadando; aprendemos a tocar um instrumento musical, tocando
esse instrumento; aprendemos uma profissão, trabalhando nela. O conhecimento teórico,
a informação, é de grande utilidade, mas não basta. Só ele nada resolve. É como
a seta que nos indica a direção, a placa de sinalização na estrada que nos informa
o roteiro a seguir, para chegarmos ao destino desejado. Ela é importante, mas se
ficarmos só com a informação e não realizarmos o trajeto, nada terá valido.

As palavras de Jesus são claras: “Se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois
se as fizerdes”. Felizes se as fizermos, se as praticarmos, e não apenas por saber.
Que “coisas” são estas? Naturalmente são os ensinos sobre as questões espirituais,
sobre como convivermos com o nosso próximo, como nos relacionarmos, enfim como vivermos
para alcançar a finalidade de nossa vida que é a evolução espiritual. É o perdão,
a tolerância, a solidariedade, a fraternidade, o amor. O Mestre resumiu todos os
ensinos em “amar a Deus sobre todas as coisas, e amar o próximo como a nós mesmos”.
Emmanuel, com a sabedoria que lhe é peculiar, considera que “todas as seitas religiosas,
de modo geral, somente ensinam o que constitui o bem. Todas possuem serventuários,
crentes e propagandistas, mas os apóstolos de cada uma escasseiam cada vez mais”.
Apóstolo é o que vive o ensinamento, que exemplifica, que exige de si mesmo, e não
dos outros. A advertência de Emmanuel é oportuna, porque, muitas vezes, ficamos
empenhados em aprender, em conhecer sempre mais, e queremos divulgar os ensinos,
e esquecemos do mais importante que é a sua aplicação. É como se estivéssemos doente,
fôssemos ao médico, exames, diagnósticos concluídos; recebemos a receita. Compramos
os medicamentos mas os deixamos na prateleira, não os utilizamos. A enfermidade
não vai ser debelada, é preciso tomar o medicamento, fazer o tratamento como indicado.
E que pensar daquele que fica procurando passar o medicamento para outras pessoas?..
André Luiz nos lembra que não devemos gastar o tempo na tentativa ansiosa de divulgar
princípios que nós mesmos não conseguimos, ou não queremos, vivenciar. Nesse caso,
falta autoridade ao divulgador, e sua atividade tem um pouco de hipocrisia, porque
prega para os outros aquilo que ele não experimenta, não procura aplicar em sua
vida.

Alguém poderá dizer: Mas se formos esperar, alguém que vive integralmente os
ensinos para poder divulgá-los, não haverá divulgador, porque todos somos imperfeitos.
Concordamos, em parte, com o argumento. É claro que somos imperfeitos e que ninguém,
ainda, vive, plenamente de acordo com os ensinos, mas não podemos nos acomodar com
as nossas imperfeições. Necessário estarmos sempre conscientes de que o valor da
palavra, a autoridade do divulgador depende sempre daquilo que ele é, de como ele
pensa, sente e age. Paulo já nos alertava que ele podia falar a língua dos Anjos,
isto é, ensinar muito bem, com as palavras mais belas possíveis, mas se não tivesse
caridade, isto é, se não sentisse amor, solidariedade, interesse pelos ouvintes,
seria como um sino.

Há algum tempo ouvíamos a exposição de uma grande educadora. Uma pessoa da assistência
perguntou: O que fazer com o aluno que não tem interesse em aprender, que só procura
criar dificuldades para o professor na sala de aula, enfim aquele jovem mal comportado
que só cria problemas, demonstrando total falta de interesse pelo aprendizado? A
educadora, depois de falar em técnicas, em recursos pedagógicos a serem utilizados,
concluiu: “O êxito do educador, em último caso, dependerá da sua capacidade de amar,
da sua vontade sincera em ajudar o educando”.

Acentua Emmanuel: “Há sempre vozes habilitadas a indicar caminhos. É a palavra
dos que sabem. Raras criaturas penetram valorosamente a vereda, muita vez em silêncio,
abandonadas e incompreendidas. É o esforço supremo dos que fazem. Jesus compreendeu
a indecisão dos filhos da Terra e, transmitindo-lhes a palavra da verdade e da vida,
fez a exemplificação máxima, através de sacrifícios culminantes.”

E mais adiante: “Somente os que concretizam os ensinamentos do Senhor podem ser
bem-aventurados. Aí reside, no campo do serviço cristão, a diferença entre a cultura
e a prática, entre saber e fazer” 1

1 Emmanuel – do livro “Caminho, Verdade e Vida” – pág. 49

Escrito por José Argemiro da Silveira

Fonte: espírito.org.br

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