A água é a essência arquetípica primordial da vida renovada. Simbolicamente representa a transmutação de impurezas, a cura, o transcendental, o renascimento individual em processo de reestruturação, na dinâmica de transpor-se para o portal divino do eu. Em outras palavras, uma nova chance que nos é dada para o despertar, o “clarificar” em prol de uma vida (re)estruturada e (re)novada. Assim como a sabedoria da vida, fluida em sua espontaneidade, mas não menos consistente; flexível mas não necessariamente superficial; em sua temperança, contorna as situações sem se amoldar a elas, mantendo em si sua força interna sem resistir ao curso da vida.
Precisamos aprender com a sabedoria das águas, na constância do trabalho paciente para os moldes do nosso trabalho interno, no ampliar das próprias limitações incontidas além-mar; no vislumbre de novas paragens vistas com outros olhares em seu ritmo leve e paradoxal. Existe sabedoria em suas marés, altas e baixas, nos recordando que por pior ou melhor que seja qualquer situação ou fase, esta nunca será estagnada, visto que haverá fluxo e refluxo, delimitando a constante impermanência de tudo o que está sujeito às leis da vida.
Precisamos aprender com a sabedoria das águas, emergindo de seus espelhos cristalinos para vislumbrarmos um novo espectro de cores advindos do horizonte de nossas esperanças, para enveredarmos por novas estradas e sonharmos novos caminhos através de uma alma liberta das mesquinharias, das quinquilharias daquilo que nos fez pesar a vida; exorcizando sofrimentos desnecessários e brindando-nos a chance da vivência da beleza do “ser livre” num instante de eternidade.
Por Soraya Rodrigues de Aragão
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