Através do estudo da obra base da codificação da Doutrina Espírita, pode-se perceber que o seu conteúdo obedece a uma seqüência lógica e racional. Nos Prolegômenos1 de O Livro dos Espíritos, Kardec, delimitando sua tarefa, observa: “A ordem e a distribuição metódica das matérias, assim como as notas e a forma de algumas partes da redação constituem a única obra daquele que recebeu a missão de o publicar”.
Em A Gênese2, o codificador vai explicar a forma que utilizou para didaticamente apresentar a Doutrina Espírita: “Como meio de elaboração, o Espiritismo procede exatamente da mesma forma que as ciências positivas, aplicando o método experimental. Fatos novos se apresentam, que não podem ser explicados pelas leis conhecidas; ele os observa, compara, analisa e, remontando dos efeitos às causas, chega à lei que os rege; depois, deduz-lhes as conseqüências e busca as aplicações úteis.”
Cosme Massi3, em estudo que realizou, demonstra parte a parte, capítulo a capítulo, a ordem utilizada por Kardec. Na seqüência, sinteticamente apresentamos alguns pontos das suas conclusões.
Na primeira parte, intitulada “Das causas primárias”, o codificador demonstra como foi feita a escolha do objeto do estudo. Na segunda parte, “Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos”, procede a análise do objeto escolhido para o estudo. Na terceira parte, “Das leis morais”, formula as Leis e na quarta parte, “Das esperanças e consolações”, apresenta as conseqüências. Posteriormente, cada uma dessas partes deu origem a uma nova obra: A Gênese (1868), O Livro dos Médiuns (1861), O Evangelho Segundo o Espiritismo (1864) e O Céu e o Inferno (1865), respectivamente.
Parte Primeira: Das Causas Primárias. Onde estão inseridas as questões sobre Deus (a causa primeira de todas as coisas) e os elementos gerais do universo: espírito e matéria. Quanto à matéria, Kardec deixa o seu estudo com as ciências ordinárias. A respeito de Deus, os Espíritos encarregados da Codificação (questões 10-14) esclarecem que a plena compreensão de Deus somente será possível àqueles que já atingiram a perfeição. Por essa razão, escolhe o Espírito como objeto de estudo do Espiritismo.
Parte Segunda: Do Mundo Espírita ou Mundo dos Espíritos. Kardec, tendo definido o Espírito como o objeto de estudo da Doutrina Espírita, nas questões 76 a 613, além de estudar a origem e natureza dos Espíritos, o perispírito e as diferentes ordens de Espíritos, analisa as seis situações em que se pode encontrar o Espírito: 1º – em trânsito para o mundo físico (encarnação); 2º – retornando para o mundo espiritual (desencarnação); 3º – vivendo no mundo espiritual; 4º – vivendo no mundo físico; 5º – estando encarnado e interagindo com o mundo espiritual (emancipação da alma durante o sono físico) e; 6º – do mundo espiritual influenciando os encarnados. Também dedica dois capítulos (IV e V) para abordar a pluralidade das existências, apresentando sua argumentação contra os opositores da idéia da reencarnação. Reserva um capítulo para abordar as ocupações e missões dos Espíritos e, por fim, conclui essa parte analisando os três reinos, estágio em que o princípio inteligente, que ainda não se tornou Espírito, anima os seres dos reinos inferiores da criação (mineral, vegetal e animal). Kardec quando se refere a espírito, no sentido de princípio inteligente, grafou a palavra com “e” minúsculo para diferenciá-la do ser já individualizado, que, a partir da segunda parte, passa a ser escrita com a letra “E” maiúscula.
Parte Terceira: Das Leis Morais. No primeiro capítulo, Kardec analisa as questões relacionadas com a Lei Divina. Nos capítulos II ao XI vai demonstrar quais são as Leis, didaticamente separando-as de acordo com os deveres do homem para com Deus (Leis de Adoração e do Trabalho); para consigo mesmo (Leis Reprodução, Conservação e Destruição) e para com o próximo (Leis de Sociedade, Progresso, Igualdade e Liberdade). Por último relaciona aquela que representa o resumo de todas as Leis: Lei de Justiça (dever diante de Deus), Amor (diante de si mesmo) e Caridade (deveres para com o próximo). Finalizando essa parte, no capítulo “Da perfeição moral”, vai apresentar o modo de praticar essas Leis.
Na Parte Quarta: Das Esperanças e Consolações. São abordadas as conseqüências, para o Espírito, do cumprimento ou não das leis: quando estiver vivendo no mundo corporal terá as “Penas e gozos terrenos” (Cap. I) ou“Penas e gozos futuros” (Cap. II) quando estiver vivendo no mundo espiritual.
Com essa breve análise, é possível perceber a magnitude dos conhecimentos que essa obra oferece, sendo um imperioso convite ao estudo profundo das obras da Codificação Espírita.
Cleto Brutes
11KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 83. ed. Rio de Janeiro:FEB, 2002. p. 49.
2______. A Gênese, 37. ed. Rio[de Janeiro]:FEB, 1996. Cap. I , item 14.
3MASSI, Cosme. Seminário A Estrutura didática de O Livro dos Espíritos, 2004, Curitiba, PR.
Federação Espírita do Paraná.