Reunião pública de 17/8/59
Questão nº 182
Há quem lamente a incapacidade dos amigos desencarnados para mais
amplo concurso na solução dos enigmas que atormentam a vida moral na
Terra.
Estudiosos inúmeros desejariam que os chamados mortos se utilizassem
dos sensitivos comuns, quais instrumentos mecânicos, para espetaculares
eventos, e reclamam deles a intervenção positiva no laboratório terrestre, para
a cura de moléstias dificilmente reversíveis; a revelação de fórmulas milagrosas
na matemática das finanças; a descoberta de forças ocultas da Natureza, e a
materialização de estadistas ilustres, domiciliados no Além, para que, de
manifesto, venham falar ao povo na praça pública.
Suponhamos, porém, que uma escola seja diariamente assaltada por
teorias inoportunas, com desrespeito à autoridade do magistério,
desconhecendo-se a necessidade particular da instrução em cada discípulo...
Imaginemos um tribunal, sistematicamente invadido por sugestões
exóticas, que alarmem o ânimo da magistratura, ignorando-se o imperativo do
exame especial de todos os processos alusivos à regeneração de cada delinqüente
em si mesmo...
Conjeturemos quanto à perturbação de um hospital, incessantemente
acometido de indicações extemporâneas, que transcendam o quadro dos
experimentos da Medicina, estranhando-se o impositivo do tratamento
individual para cada enfermo...
Decerto que à produtividade sobreviria a frustração, tanto quanto à luz do
serviço se oporia a sombra do caos.
É mais do que justo nos empenhemos todos no amparo ao aprendiz, no
auxilio ao encarcerado e no socorro ao doente, mas, além disso, ninguém
espere que os companheiros desencarnados interfiram na atividade humana,
favorecendo a inconsequência ou a desordem.
Quando os mensageiros da espiritualidade enobrecida recebem a
permissão necessária para contribuir no progresso do Globo, corporificam-se
no berço, à feição dos homens vulgares, comungando-lhes as vicissitudes e as
dores.
É assim que encontramos um Thomas Edison vendendo jornais para se
manter, aos quinze anos de idade, atingindo a posição de um dos maiores
gênios técnicos de todos os tempos e deixando nada menos de oitocentas
invenções registradas, e um Louis Pasteur, filho pobre de um curtidor, que,
sem ser médico, pode ser considerado como sendo o fundador da
microbiologia, apesar do trabalho valioso de seus predecessores.
Lembremo-nos do Cristo, o Divino Mestre por excelência.
Ele que podia, como ninguém, influenciar ambientes e criaturas, surge, entre os
homens, como qualquer criança necessitada de arrimo; vive, em sua época, ao
modo de homem normal e, embora a luz e o amor lhe coroem a presença
sublime, expira mmi lenho áspero, à maneira de qualquer condenado à morte,
sem culpa.
Realmente, os Espíritos desencarnados não podem penetrar assuntos que
a Humanidade ainda não pode compreender; entretanto, guarda a convicção
de que te trazem eles a notícia mais importante de todas — a verdade de que a
vida prossegue, além do sepulcro, e de que todos nós, desencarnados e
encarnados, seja onde for, receberemos sempre de acordo com as nossas
obras.