O que a doutrina espírita nos fala sobre o esquecimento do passado, e qual é o seu papel fundamental em nossas vidas hoje?

Muitos questionamentos são realizados em relação ao esquecimento do passado, pois se temos muitas encarnações, então, por que não lembramos as vidas passadas? O Espiritismo nos responde essa pergunta em várias obras da literatura espírita, no entanto, vamos embasar o nosso estudo em duas obras espíritas: "O Livro dos Espíritos" e "O Evangelho Segundo o Espiritismo".

Quando falamos do esquecimento do passado muitas perguntas surgem em nossa mente, e o Espiritismo, como fonte de esclarecimento, logo nos explica de que ainda não somos capazes de possuir o equilíbrio necessário para ter o conhecimento pleno do nosso passado, pois, o que nós sentiríamos, o que faríamos e como agiríamos se descobrissemos que um amigo muito querido ou que um familiar foi o nosso pior algoz do passado?

Teríamos equilíbrio em saber que o seu pai e sua mãe, ambos muitos dedicados e devotados a você, fossem desafetos de vidas passadas e que naquela época te trairam e depois te assassinaram cruelmente? E agora, como nós agiríamos se soubessemos que a nossa esposa ou esposo foi a nossa vítima do passado? Como encarar face a face a vergonha de ter tido feito algo tão grave com alguém que hoje nos acolhe e nos ampara com dedicação e compreensão?

"É em vão que se aponta o esquecimento como um obstáculo ao aproveitamento da experiência das existências anteriores. Se Deus considerou conveniente lançar um véu sobre o passado, é que isso deve ser útil. Com efeito, a lembrança do passado traria inconvenientes muito graves. Em certos casos, poderia humilhar-nos estranhamente, ou então exaltar o nosso orgulho, e por isso mesmo dificultar o exercício do nosso livre arbítrio. De qualquer maneira, traria perturbações inevitáveis às relações sociais. - O Evangelho Segundo o Espiritismo - Cap. 5 Bem aventurados os aflitos, item 11 - Esquecimento do passado"

Do ponto de vista da vaidade, do egoísmo e do orgulho, o que imaginarmos, se descobrissemos que já fomos um personagem de importância do passado, ou termos uma lembrança forte sabendo que aquela pessoa que está na sua frente foi a responsável por destruir o seu império, e o que imaginar do funcionário que hoje se dedica a sua empresa e que foi o responsável por te prejudicar ou cometer algo muito grave no passado, como a veríamos? Como a trataríamos?

"O Espírito renasce frequentemente no mesmo meio em que viveu, e se encontra em relação com as mesmas pessoas, a fim de reparar o mal que lhes tenha feito. Se nelas reconhecesse as mesmas que havia odiado, talvez o ódio reaparecesse. De qualquer modo, ficaria humilhado perante aquelas pessoas que tivesse ofendido. - O Evangelho Segundo o Espiritismo - Cap. 5 Bem aventurados os aflitos, item 11 - Esquecimento do passado"

Levantado esses pontos, é necessário que tenhamos a compreensão de que Deus nos concede uma nova encarnação como uma oportunidade, um novo recomeço, onde podemos esquecer o passado, e viver a nova existência para corrigir os erros do passado. Pois Jesus nos ensina uma lição que reflete muito bem esse recomeço: "Assim sendo, se trouxeres a tua oferta ao altar e te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali mesmo diante do altar a tua oferta, e primeiro vai reconciliar-te com teu irmão, e depois volta e apresenta a tua ofertaMateus 5:24 e 25".

Todas as experiências passadas, não se manifestam ostensivamente no presente, a não ser por breves lampejos da consciência, pois é na consciência que se perserva todas as existências anteriores, e que embora não possamos ter acesso em vida corpórea, podemos acessá-la na vida espiritual ou em desdobramento, se permitido.

"De resto, esse esquecimento só existe durante a vida corpórea. Voltando à vida espiritual, o Espírito reencontra a lembrança do passado. Trata-se, portanto, apenas de uma interrupção momentânea, como a que temos na própria vida terrena, durante o sono, e que não nos impede de lembrar, no outro dia, o que fizemos na véspera e nos dias anteriores.

 Da mesma maneira, não é somente após a morte que o Espírito recobra a lembrança do passado. Pode dizer-se que ele nunca a perde, pois a experiência prova que, encarnado, durante o sono do corpo, ele goza de certa liberdade e tem consciência de seus atos anteriores. Então, ele sabe por que sofre, e que sofre justamente. A lembrança só se apaga durante a vida exterior de relação. A falta de uma lembrança precisa, que poderia ser-lhe penosa e prejudicial às suas relações sociais, permite-lhe haurir novas forças nesses momentos de emancipação da alma, se ele souber aproveitá-los.- O Evangelho Segundo o Espiritismo - Cap. 5 Bem aventurados os aflitos, item 11 - Esquecimento do passado"

Deixaremos abaixo, algumas questões formuladas por Allan Kardec aos Espíritos:

"392 Por que o Espírito encarnado perde a lembrança do seu passado?

 — O homem nem pode nem deve saber tudo; Deus assim o quer na sua sabedoria. Sem o véu que lhe encobre certas coisas, o homem ficaria ofuscado como aquele que passa sem transição da obscuridade para a luz Pelo esquecimento do passado, ele é mais ele mesmo. - O Livro dos Espíritos, Livro II, Cap.7 - O retorno a vida corporal, item 8 - Esquecimento do Passado"

"393. Como pode o homem ser responsável por atos e resgatar faltas dos quais não se recorda? Como pode aproveitar-se da experiência adquiria em existências que caíram no esquecimento? Seria concebível que as tribulações da vida fossem para ele uma lição, se pudesse lembrar-se daquilo que as atraiu mas desde que não se recorda, cada existência é para ele como se fosse a primeira, e é assim que ele está sempre a recomeçar. Como conciliar isto com a justiça de Deus?

  —A cada nova existência o homem tem mais inteligência e pode melhor distinguir o bem e o mal. Onde estaria o seu mérito se ele se recordasse de todo o passado? Quando o Espírito entra na sua vida de origem (a vida espírita) toda a sua vida passada se desenrola diante dele; vê as faltas cometidas e que são causa do seu sofrimento, bem como aquilo que poderia tê-lo impedido de cometê-las; compreende a justiça da posição que lhe é dada e procura então a existência necessária a reparara que acaba de escoar-se.  Procura provas semelhantes àquelas por que passou, ou as lutas que acredita apropriadas ao seu adiantamento e pede a Espíritos que lhe são superiores para o ajudarem na nova tarefa a empreender, porque sabe que o Espírito que lhe será dado por guia nessa nova existência procurará fazê-lo reparar suas faltas, dando-lhe uma espécie de intuição das que ele cometeu. Essa mesma intuição é o pensamento, o desejo criminoso que freqüentemente vos assalta e ao qual resistis instintivamente, atribuindo a vossa resistência, na maioria das vezes, aos princípios que recebestes de vossos pais, enquanto é a voz da consciência que vos fala e essa voz e a recordação do passado, voz que vos adverte para não cairdes nas faltas anteriormente cometidas. Nessa nova existência, se o Espírito sofrer as suas provas com coragem e souber resistir, eleva-se a si próprio e ascenderá na hierarquia dos Espíritos, quando voltar para o meio deles.

Comentário de Kardec:  Se não temos, durante a vida corpórea, uma lembrança precisa daquilo que fomos, e do que fizemos de bem ou de mal em nossas existências anteriores, temos,entretanto, a sua intuição. E as nossas tendências instintivas são uma reminiscência do nosso passado, as quais a nossa consciência, — que representa o desejo por nós concebido de não mais cometer as mesmas faltas — adverte que devemos resistir.- O Livro dos Espíritos, Livro II, Cap.7 - O retorno a vida corporal, item 8 - Esquecimento do Passado"

"399. Sendo as vicissitudes da vida corpórea ao mesmo tempo uma expiação das faltas passadas e provas para o futuro, segue-se que, da natureza dessas vicissitudes, possa induzir-se o gênero da existência anterior?

—Muito frequentemente, pois cada um é punido naquilo em que pecou. Entretanto, não se deve tirar daí uma regra absoluta; as tendências instintivas são um índice mais seguro, porque as provas que um Espírito sofre, tanto se referem ao futuro quanto ao passado.

Comentário de Allan Kardec: ...Integrado na vida corpórea, o Espírito perde momentaneamente a lembrança de suas existências anteriores, como se um véu as ocultasse. Não obstante, tem.,às vezes, uma vaga consciência, e elas podem mesmo lhe ser reveladas em certas circunstâncias. Mas isto não acontece senão pela vontade dos Espíritos superiores, que o fazem espontaneamente, com um fim útil e jamais para satisfazer uma curiosidade vã...

O esquecimento das faltas cometidas não é obstáculo à melhoria do Espírito porque, se ele não tem uma lembrança precisa, o conhecimento que delas teve no  estado errante e o desejo que concebeu de as reparar guiam-no pela intuição e lhe dão o pensamento de resistir ao mal. Este pensamento é a voz da consciência, secundada pelos Espíritos que o assistem, se ele atende às boas inspirações que estes lhe sugerem.

       Se o homem não conhece os próprios atos que cometeu em suas existências anteriores, pode sempre saber qual o gênero de faltas de que se tornou culpado e  qual era o seu caráter dominante. Basta que se estude a si mesmo e poderá julgar o que foi, não pelo que é. mas pelas suas tendências.

       As vicissitudes da vida corpórea são, ao mesmo tempo, uma expiação das faltas passadas e provas para o futuro. Elas nos depuram e nos elevam, se as sofremos com resignação e sem reclamações...

O Livro dos Espíritos, Livro II, Cap.7 - O retorno a vida corporal, item 8 - Esquecimento do Passado"

Com todo esse conteúdo riquíssimo que as obras espíritas nos concedem, podemos compreender, o porque esquecemos o nosso passado.

Muita paz!

Autor: Jeferson Souza

Site: http://espiritismonapratica.com.br

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