“O Espiritismo não é para quem quer, é para quem aguenta”, “o Espiritismo não obriga ninguém a nada”, diz Raul Teixeira. (1)
O Espiritismo dá a consciência do que deve ou não deve ser feito, esclarecendo sobre a responsabilidade dos atos, das escolhas feitas. Isso traz o que talvez pudéssemos denominar ou comparar com o jugo leve dito por Jesus com relação ao Evangelho.
Através desse ensinamento quem “aguenta” seguir o Espiritismo faz uma autoanálise de seus atos, de suas preferências, sentindo a necessidade da autorrenovação. E essa consciência da necessidade da autorrenovação seria como que o jugo leve do Espiritismo. A pessoa que compreende a necessidade da renovação interior faz o que talvez pudéssemos chamar de autocobrança, ou como melhor diz Raul: “o Espiritismo exige autodisciplina, autogoverno”. A consciência adquirida leva à autorrenovação, à reforma íntima e quando se tem alguma atitude de “homem velho” vem o sentimento de pesar por ter tomado o caminho errado. O Espiritismo não obriga ninguém a nada, como diz Raul, mas leva ao melhoramento interior pela renovação de pensamentos e atos.
Costumes arraigados são difíceis de ser removidos ou transformados. Daí a necessidade da constância no esforço de melhoria, da disciplina e do estudo. E a paciência que cada um deve ter consigo na separação do joio e do trigo interiores.
Diz ainda Raul que cada um segue o que melhor lhe convém. Por isso existem várias religiões para que cada um se adapte àquela que responde melhor às suas necessidades.
O Espiritismo baseia-se no estudo para a melhor compreensão do Evangelho e dos motivos das lutas do dia a dia, não prometendo a salvação, que é tarefa de cada criatura, tendo Jesus como modelo e guia. Nem Ele prometeu a salvação, quando disse ser o caminho, a verdade e a vida. Ele trouxe a diretriz do Evangelho para que fosse compreendido e praticado.
Foi publicado neste site um artigo de nossa autoria denominado Misturando Nutrição com Espiritismo, onde fizemos uma comparação da necessidade da mudança de hábitos alimentares para a perda de peso como a reforma íntima ensinada pela doutrina espírita. Ambos exigem disciplina e por isso é tão difícil perder peso quanto praticar a reforma íntima. E como dissemos no artigo referido, a mudança de hábitos alimentares é reforma íntima na alimentação.
Paulo disse em sua epístola aos Efésios que a salvação vem pela fé (Efésios 2:8-9) e não pelas obras, para que ninguém se glorie. Porém, nesse caso as obras são inúteis e imperfeitas, já que somos imperfeitos e basta-nos ter fé. Se assim fosse, não teria sentido Jesus ensinar o amor ao próximo, a caridade e o perdão. E ao mesmo tempo Jesus disse que a cada um será dado conforme suas obras, ou seja, devemos amar, fazer o bem, perdoar 70 vezes 7 vezes para que nossos atos nos tragam a salvação da qual tanto se fala em outras religiões. Se bastasse a fé somente o caminho seria bem mais fácil, mas sem responsabilidade.
Vemos, assim, que todo crescimento está vinculado à mudança interior e daí a paciência conosco mesmos, sem tortura, respeitando nossos limites, mas sem deixar de praticar o esforço para que a transformação ocorra.
Daí, é muito mais fácil acreditar que a salvação vem pela fé e não pelas obras e pelo esforço da mudança interior. O Espiritismo tem a visão mais aberta e aclarada, dando a cada um a responsabilidade da autorrenovação e da própria salvação. Então, Espiritismo não é para quem quer, mas para quem aguenta.
Orleide Félix de Matos