Felizmente não é a regra. Não obstante, é verdade que muitos
só despertam para os atos de amor que transparecem na prática da caridade se
forem tocados pela necessidade de forma absolutamente pessoal, só assim passam
a enxergar a necessidade do próximo, antes invisível aos seus olhos. Não basta
que alguém diga, que alguma pessoa peça, quando é visto de mais longe, o
sofrimento não toca a toda a alma.
Não é incomum que só a aflição pessoal motive
suficientemente o ser humano, alterando sua conduta perante a angústia do
outro; não é raro que o tormento pessoal ou de alguém bem próximo sejam as
únicas forças com energia para aquecer corações antes enregelados pela
indiferença; que o martírio sentido na própria pele seja o maior incentivador
daquele olhar que realmente enxerga, dirigido para os seres abandonados
da sorte. Para muitos, somente quando isso acontece é que o sentimento de
misericórdia nasce, então é que ocorre a percepção de que todos os gestos devem
ser aquecidos pelo amor.
Aliás, no meio espírita é corriqueiro escutar a expressão “quem
não vai pelo amor, vai pela dor”. Significa dizer que temos o direito de
realizar o que quisermos, pois o livre arbítrio nos permite escolher. Todavia,
quando escolhemos caminhos tortuosos ao invés dos caminhos da benevolência,
decidimos aprender com as consequências muitas vezes dolorosas que nos
visitarão no futuro, pois é da semente que se escolhe plantar que nascerá o
fruto a ser colhido no amanhã.
Em outras palavras, seria melhor se despertássemos para a
bondade já, se a visão da necessidade alheia tocasse as fibras de nossas almas
e com ela nos tornássemos “pelo amor”, colaboradores de Deus.
Seria muito bom se nós, que já sentimos o frio na pele
prenunciando o inverno que chegará em breve, pudéssemos lembrar como é bom
estar aquecidos, e desse modo decidíssemos pela generosidade de doar desde a
vestimenta que não nos serve mais até o cobertor comprado com objetivo de
proteger um irmão. Seria… seria não, será! Será muito bom quando lembrarmos do
sofrimento e não esperarmos que ele nos chegue para fazer recordar dos que já
sofrem todos os tipos de necessidade.
Que o amor seja a nossa escolha, que nossa alma se aqueça no
embalo da caridade e que nesse sentimento, saibamos estender as mãos.
Autora: Vania Mugnato de Vasconcelos
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