De uma leitura rápida e superficial do texto bíblico, ao nos depararmos com o trecho em que trata da criação do homem, temos a percepção de que Deus é um ser antropomórfico, constituído de um corpo físico como o que, por ora encarnados, ocupamos. Essa falsa percepção dá-se quando lemos que o Criador nos fez à sua imagem e semelhança (Gn, 1:26-27). Apressados, corremos ao espelho e vemos refletida a imagem da forma humana, o que nos leva a atribuir a Ele essa mesma característica. Allan Kardec, o codificador do Espiritismo, trata do tema no Capítulo 2 de A Gênese, afastando essa premissa ao mostrar-nos que Deus é muito além da representação de “um ancião de longas barbas e envolto num manto”. Ele é “imaterial”, isto é, “a sua natureza difere de tudo o que chamamos matéria” (LE, questão 13).

A bem da verdade, o nosso pensamento deveria ser o inverso, e não atribuirmos o nosso frágil e perecível corpo a Deus, pois o criador do universo possui, dentre diversas características, a da “eternidade” (LE, questão 13). A eternidade de Deus se contrapõe às percepções materiais que temos da vida, levando-nos a crer que vivemos as fases infantil, adulta e idosa, para depois morrermos. Essa eternidade é um atributo do qual também estamos revestidos, enquanto seres espirituais, fadados a viver, perpetuamente, sem pausas. A morte é apenas para o corpo físico, não para nós, seres semelhantes a Deus.

Uma vez eternos, devemos deixar de mensurar o tempo de vida que nos resta apenas ao período ainda a ser gozado na atual encarnação. Essa ideia errônea faz com que muitas pessoas, em especial as que passaram das duas primeiras fases da jornada terrena, caiam no desânimo de lutar por mudanças em seu íntimo, atrasando o cumprimento da lei do progresso. Deveríamos agir, de forma exatamente contrária, visto que o objetivo de estarmos encarnados num mundo de provas e expiações, sofrendo as anunciadas tribulações profetizadas por Jesus (Jo, 16:33), é progredir, crescer, para chegarmos à perfeição e nos integrarmos na obra da Criação (LE, questão 132). Esmorecer nessa luta, entregando-nos ao desânimo, é retardar o inevitável confronto que teremos que enfrentar para engrandecermo-nos diante de nossas imperfeições, vencendo-as.

Nunca é tarde para (re)tomar o caminho do progresso!

A maior prova de que não há tempo para retomarmos o caminho de nossa jornada evolutiva está na crucificação de Jesus quando, entre dois irmãos igualmente crucificados, em vias de desencarnar, Dimas, que passou para a história como “o bom ladrão”, arrependeu-se de seus erros e pediu perdão, recebendo o abrigo de Jesus quando do seu reingresso ao plano espiritual. Essa atitude proativa fez com que os seus erros fossem amainados em sua consciência, possibilitando-o a um retorno mais sereno.

Diante desse cenário, cabe indagar: Quanto tempo de vida encarnado, a partir de seu sincero arrependimento, ainda existia a Dimas? A resposta pode variar, mas é certo que pouquíssimo tempo. Porém, com a sua atitude, ele rompeu com os seus erros do passado, buscando viver melhor daquele instante em diante. Ainda que, conscientemente, poderia não deter o conhecimento da eternidade da vida, em seu íntimo sentiu a paz e a força necessária para, no futuro, reparar os seus débitos. Deu, em seu “leito de morte”, os primeiros passos para a retomada de sua caminhada progressiva.

Essa passagem mostra-nos o quanto é valioso movimentar-nos no sentido do crescimento íntimo. Os Espíritos, na codificação, deixaram claro que a felicidade está próxima daqueles que mais perto da perfeição estiverem (LE, questão 967). Portanto, quanto menos imperfeições alimentarmos, mais felizes viveremos. E essa busca é individual, cabendo a cada um movimentar-se nesse sentido. Paulo de Tarso já nos mostrou a dor que sentia por ainda não conseguir fazer o bem que almejava (Rm, 7:21-23). Em sua carta, Paulo demonstrava a “dor do crescimento” latente em seu íntimo. Crescer exige movimento; e movimento exige mudança de postura, de ideais, de paradigmas. É necessário que busquemos essa ascensão espiritual, pois o progresso é lei, ínsita a todos nós. Enquanto eternos, quanto mais demorarmos a iniciar o movimento em favor do cumprimento dessa lei, mais tempo ancorados na infelicidade ficaremos, até que frustações maiores venham nos visitar. Não é necessário que soframos! Essa não é a lei, muito menos a vontade de Deus. Contudo, estacionarmos no ostracismo da iniquidade da matéria é dar margem para que tribulações venham a nós, forçando-nos a reagir e a cumprir a lei do progresso.

Por que não começarmos agora essa caminhada, para, quem sabe, ao chegarmos ao fim desta atual existência, podermos também dizer, como Paulo de Tarso, que o Cristo vive em nós (Gl, 2:20)? A idade não pode ser utilizada como muletas para não nos movimentarmos em sentido do progresso, já que a mensuração do tempo de vida terrena é pequena ante a eternidade da vida espiritual.

“Bem-aventurado o homem que suporta a tentação, porque, quando for provado, receberá a coroa da vida” (Tg, 1:12). Que, então, lutemos contra as tentações e vençamos nossas imperfeições, sabendo que nunca é tarde para começarmos essa batalha.

Auor: Glaucio Queiroz Oliveira

Fonte: https://www.agendaespiritabrasil.com.br/

Imagem ilustrativa e em destaque disponível em (https://www.1zoom.me/pt/wallpaper/424168/z1392)

Deixe seu Comentário