Há quem se queixe da presença ou sensação de vazio que experimenta, sentindo-se, muitas vezes, um navegante num barco sem rumo, sem porto, sem vento, sem bússola, em pleno mar…

Esquecemos que estar ou nos sentir vazios pode ser algo bom. Sim, pode ser a condição necessária para iniciarmos a procura de algo que ao ser encontrado, nos ajude a preencher esse espaço interno. Mas a percepção do vazio também nos convida a refletir sobre o quanto nos entulhamos ao longo da vida, tornando-nos uma espécie de gaveta onde tudo foi acumulado, até o que não era preciso.

Acumular ressentimentos e vitimizações, culpas e frustrações, significa ter um álbum de fotografias repleto de fotos tristes que diariamente insistimos em ver.

Há quem acumule inúmeras alegrias e viva numa festa sem fim, deixando de perceber a tristeza, a fome e a privação alheias. Está tão feliz e focado no que encontrou e ganhou, que nada, ninguém ou coisa alguma lhe importa mais.

Esvaziar-se é retirar de dentro de nós o que nos incomoda, adoece e faz sofrer.

É fazer um movimento voluntário e intencional de não guardar mais o que deixou de nos pertencer, perdeu o prazo de validade e seguimos insistindo em segurar em nosso coração.

É sair do lugar emocional onde estamos, assim como mudamos de roupa, casa, de emprego, de relacionamento, quando entendemos que mudar é uma necessidade.

É não se acostumar com a presença do espinho que se infiltrou em nossa pele e está causando dor.

É saber que se estamos cheios, não temos mais espaço para conhecer pessoas, lugares, livros, assuntos e o que é pior, nos conhecer!

É não ter apego demasiado, pois toda forma de apego gera sofrimento.

E para isso é preciso coragem e certo equilíbrio para distinguir em nossa mente e em nosso coração, o que encher e o que esvaziar, o que devemos deixar ir e o que necessitamos manter. (II Tm, 1:7)

Um espaço vazio permite que plantemos uma roseira ou uma árvore frutífera, desloquemos um móvel reorganizando certo ambiente, edifiquemos uma casa e, o que também é maravilhoso, pode gerar a percepção de que estamos mais leves e abertos, de que é possível viver sem tanto peso para carregar ou lembranças ruins para ruminar. Ele faz parte, é útil e deve ser igualmente cultivado.

Autor: Cezar Braga Said
Fonte: http://www.mundoespirita.com.br

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