O Espiritismo, sendo o Cristianismo Redivivo, não deixa a menor dúvida quando nos apresenta

a finalidade da vida física, ou seja, o Espírito volta ao cenário terrestre para se iluminar,

aprimorando-se intelectual e moralmente.

O Espírito Carlos Torres Pastorino1 assevera que A iluminação interior funciona como sendo o

objetivo essencial da reencarnação, que facilita o roteiro para a ação libertadora. (…)

Sugestões diversas em favor da morte no mundo para a conquista do grande silêncio

libertador, em contato com a Natureza ou em países de tradição mística, são apresentadas na

Mídia, como se num passe de mágica fosse possível encontrar-se a plenitude.

Dessa forma, percebemos que crescimento espiritual nada tem a ver com isolamento,

afastamento do convívio do próximo, abdicar das festividades saudáveis e de momentos de

entretenimento e lazer, elegendo uma expressão facial sisuda e de falsa espiritualidade.

O Espírito Pastorino foi enfático ao desqualificar a morte no mundo, que simboliza uma vida

distante de tudo e de todos, de tal sorte que somente encontraremos o Reino de Deus, que

está dentro de nós, através da vivência de situações, felizes algumas e desagradáveis outras, e

do convívio com outros irmãos de caminhada evolutiva, sendo alguns Espíritos difíceis e

exigentes, mas que nos ajudarão a fazer brilhar a própria luz, e outros serão Espíritos

equilibrados, que iluminarão nossas almas.

Recordemos Jesus, o Modelo e Guia de nossas vidas, que, ao convidar os discípulos para a

epopeia da Boa Nova e para a implantação do amor na Terra, jamais exigiu que eles se

distanciassem da convivência do próximo e que abandonassem seus labores profissionais.

Aliás, Jesus foi exemplo de vivência plena do amor e de grande espiritualidade, mantendo a

convivência com ricos e pobres, com doutores da lei e pessoas simples, com os saudáveis do

corpo e os doentes, bem como teve grande mobilidade social e esteve em diversas

festividades (Bodas de Caná, Páscoa em Jerusalém).


Por isso, temos que buscar o aprimoramento espiritual sem fugir das experiências da vida e

das pessoas. Todavia, necessitaremos de momentos de solidão reflexiva, de oração silenciosa,

de meditação e comunhão com os benfeitores espirituais, a fim de nos fortalecermos,

moralmente, para os desafios naturais da vida, num planeta de provas e expiações.

Pastorino1 lembra que Jesus também buscou a solidão física, em lugares ermos, para se

reabastecer em Deus, mas impulsionou os Apóstolos para que saíssem de si para servirem o

próximo.

Allan Kardec, o nobre Codificador, quando abordou o tema Sede Perfeitos, no capítulo XVII, de

O Evangelho segundo o Espiritismo, também inseriu a proposta da vivência de espiritualidade

no cotidiano, no dia a dia de nossas vidas.

Na lição O homem no mundo2, Kardec traz à baila uma mensagem espiritual, onde o Espírito,

que se denominou Um Espírito protetor, propôs a necessidade de purificar os nossos corações

e santificar os nossos atos, mas convivendo com os homens do nosso tempo.

Não julgueis, todavia, que, exortando-vos incessantemente à prece e à evocação mental,

pretendamos vivais uma vida mística, que vos conserve fora das leis da sociedade onde estais

condenados a viver. Não; vivei com os homens da vossa época, como devem viver os homens.

Sacrificai às necessidades, mesmo às frivolidades do dia, mas sacrificai com um sentimento de

pureza que as possa sacrificar.

Sois chamados a estar em contato com espíritos de naturezas diferentes, de caracteres

opostos: não choqueis a nenhum daqueles com quem estiverdes. Sede joviais, sede ditosos.

(…)

Essa notável lição nos remete à proposta do Cristo de viver no mundo sem ser do mundo.

Cabe-nos, portanto, a missão de realizar o melhor, cumprindo o dever moral em cada situação,

por mais simples que seja, e com as pessoas que encontrarmos, deixando, no mínimo, uma

palavra de esperança, ou uma vibração de felicidade que as contagie.

Quando analisamos a vida de grandes missionários do bem, encontramos esses gestos,

menores ou maiores, mas que refletem esse compromisso de viver rico de espiritualidade no

dia a dia, e, às vezes, nas situações mais singelas.

Recordo-me de uma história de Chico Xavier que, ao comprar tomates na feira, sempre

escolhia um bom e um ruim, e o feirante lhe perguntou o motivo dessa conduta. Chico

respondeu que se escolhesse só os bons, o próximo que chegasse não teria tomates de boa

qualidade para levar.

Seguindo ainda os passos luminosos de Chico, lembro que, em muitas manhãs, tomava seu

cafezinho num bar, onde só havia bêbados. Mas ele ali levava sua boa vibração, sua palavra

gentil, criando afinidade com alguns deles que, depois, se sentiam à vontade para buscar o

socorro espiritual na Casa Espírita que Chico frequentava.

Assim sendo, é no dia a dia que demonstramos nosso patamar evolutivo, nosso empenho por

sermos uma pessoa melhor, mais compromissada com o bem, vivendo as frivolidades do

cotidiano, mas sem perder a consciência de que somos Espíritos imortais acendendo a própria

luz.


Tanto é essa a proposta maior da vida que, de forma exemplificativa, cito dois livros que

merecem o nosso estudo, pois focam a vivência do bem e da ética nas situações comuns da

vida: Educação e Vivências, do Espírito Camilo, através da mediunidade de José Raul Teixeira

(editora Fráter), e Conduta Espírita, do Espírito André Luiz, através da mediunidade de Waldo

Vieira (editora FEB).

Como temos nos comportado no cotidiano do trabalho, da intimidade doméstica, do interior

do templo religioso, durante as viagens de férias, diante das pessoas que passam por nós na

via pública, nos velórios?

Há necessidade de sermos mais gentis e afáveis com todos, sorrir mais e usarmos a palavra

para levantar o ânimo das pessoas, atentos àquelas que estão sofridas e carecem de nosso

suporte amoroso.

Não podemos nos omitir diante do sofrimento…

Temos que ser um bom cristão onde estejamos…

O bem tem que predominar em nossas atitudes…

Temos que evitar os altos e baixos da emoção, procurando ser mais estáveis na alegria e no

bem…

Não podemos perder o ânimo de construir um mundo melhor…

Jamais desperdiçar as oportunidades do cotidiano para expressar nossa espiritualidade e

identificação com as propostas do Cristo…

Diante daqueles que nos odeiam façamos silêncio e oremos por eles…

Não tenhamos dúvida de que no cotidiano é que promovemos o bom combate, procurando

sempre fazer o melhor, ousando no bem.

Reflitamos sobre a mensagem da benfeitora Joanna de Ângelis3: A cada instante, a vida se

expressa dentro de um esquema que te surpreende.

Procura descobrir a mensagem que te está sendo revelada. Dependerá de ti o esforço de hoje

para a tranquilidade de amanhã.

Resolve os problemas existenciais simples ou complexos com cuidado e gentileza, a fim de não

produzires lesões emocionais noutrem. (…)

Onde estejas, como te encontres, como te apresentes, recorda que estás construindo o Reino

de Deus no coração, a fim de que reflita no teu entorno e se inicie naqueles com os quais

convives.

Referências:

FRANCO, Divaldo Pereira. Impermanência e Imortalidade. Pelo Espírito Carlos Torres Pastorino.

Rio de Janeiro: FEB, 2004. cap. Iluminação para a ação.

KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 118. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2001. cap.

XVII, item 10.

FRANCO, Divaldo Pereira. Luz nas trevas. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. Salvador: LEAL, 2018.

cap. 5.

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