É interessante notar como nos embaralhamos com questões simples, como, por exemplo, identificar algumas de nossas limitações ou falar sobre algumas de nossas virtudes.

Grande parte desta dificuldade é cultural, fruto do aprendemos no contato com a sociedade e acabamos por transferir, sem reflexão, à nossa forma de lidar com o mundo. Temos, portanto, problemas em conhecer limitações e grandes dramas de consciência em reconhecer nossas virtudes.

Conhecer limitações: temos receio de falar de nossas fragilidades porque queremos nos sentir sempre fortes. Aprendemos isto desde tenra idade. “Homem não chora”. “A vida não premia os fracos”. “Vivemos numa selva de pedras”. Encampamos essas ideias e deixamos de praticar o que propõe Santo Agostinho, na questão 919 de O Livro dos Espíritos, referindo-se ao autoconhecimento e a interrogação à própria consciência.

A sociedade, em algumas situações, prega a competição predatória e o individualismo, então vamos neste embalo e consideramos os outros nossos concorrentes, por isso não falamos de nossas fragilidades, dores e dificuldades. Preferimos guardar a sete chaves e esconder nossos receios e limitações até de nós mesmos. Ou seja, bloqueio o autoconhecimento e, por consequência ignoro os pontos em que devo direcionar minhas energias para melhorar como ser humano. E isso ocorre porque não nos estudamos, conseqüentemente, não nos conhecemos. Transitamos de mãos dadas com nossas limitações por não sabermos identificá-las.

Conhecer virtudes: e por outro lado fomos ensinados a cultivar uma humildade de fachada, uma humildade apática, em que é “PECADO” conhecer virtudes que possuímos. Temos medo de que o outro nos ache arrogante, por isso, não raro, desvalorizamo-nos. Aliás, a cultura da desvalorização prejudica a estima do indivíduo e abarrota consultórios de terapeutas, psicólogos e psiquiatras. Isso para não falar que fomenta a tresloucada idéia do suicídio, porquanto o suicida geralmente é aquele que não reconhece seus valores, seus talentos e habilidades, julga-se um peso para o mundo, afunda-se em seus dilemas, e então, vê no suicídio a porta para salvação. Isso também ocorre porque não nos estudamos, e, portanto, não nos conhecemos.

É necessário romper os cadeados do preconceito para que possamos nos estudar com eficácia. Saber em que nível de evolução moral e intelectual estamos, o que já conquistamos e o que falta conquistar. Quais são nossas imperfeições morais, quais são nossas maiores dificuldades e como fazer para superar estas fragilidades. São questões que podemos propor a nós mesmos, a fim de que identifiquemos o estágio evolutivo no qual nos encontramos.

Importante lembrar: reconhecer fragilidades não é sinal de inferioridade, ao contrário, alguém para reconhecer uma limitação e falar naturalmente dela é alguém já amadurecido para tanto. A mesma regra vale para a questão que envolve o conhecimento de nossas habilidades e virtudes. Reconhecer em nós alguma virtude, ou algo que sabemos fazer bem feito, não quer dizer falta de humildade ou arrogância. A prepotência não está em sabermos de nosso valor, mas, sim, se usamos esses valores conquistados para subjugar, humilhar e desdenhar do outro. Desde que não nos infectemos pelo vírus da auto suficiência e não nos consideremos superiores a ninguém, não há porque deixarmos de reconhecer nossas habilidades.

Será o estudo sobre nós mesmos e a reflexão em torno de nossas limitações e virtudes que nos estenderão o tapete vermelho para o auto conhecimento, proporcionado-nos um caminhar mais sereno pelos palcos da existência, conforme ensina Santo Agostinho e já o fazia Sócrates, antes ainda do surgimento do Espiritismo.

Interessante sugestão para trabalharmos o autoconhecimento é utilizarmos o semelhante no feedback de nossas limitações. Claro que é preciso estar em franco processo de amadurecimento para tratar deste tema, mas é sempre uma ferramente importante e opinião do outro a nosso respeito, e pode despertar em nós a vontade em ser alguém melhor.

Costumava pedir aos meus filhos, após o estudo do Evangelho, que escrevessem três pontos em mim que os incomodavam. Informava que não haveria retaliação, ou seja, os presentes de final de ano estariam garantidos. A sinceridade, então, rolava solta e pude, ao longo do tempo em que fizemos este exercício, descobrir coisas bem “interessantes” a meu respeito. Confesso que alguns pontos não foram fáceis de admitir, mas colocaram-me face a face com o que eu precisava modificar para que a convivência fosse cada vez mais harmônica.

A consciência de que somos Espíritos imortais, todavia ainda não estamos prontos, mas nos “aprontando” a cada reencarnação é um dos fatores que faz com que possamos focar mais nos desenvolvimento de nossas potencialidades intelectuais e morais.

Autoconhecimento, portanto, trata-se da chave para o crescimento em direção a Deus e a paz de consciência.

Autor: Wellington Balbo

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