Hoje atravessei a rua e mudei de calçada no trajeto que faço, diariamente, de casa para o

trabalho. Mas o que uma simples mudança de calçada pode trazer como novidade? Milhões de

pessoas fazem isso todos os dias e esse movimento em nada altera o funcionamento do

mundo e a dinâmica social.

Sim, é verdade. Se fazemos tal movimento no automatismo cotidiano de tantos outros hábitos,

isso nada acrescentará de novo em nossas vidas. Porém, se estivermos atentos, uma simples

mudança de calçada pode nos fazer enxergar o que antes estava oculto aos nossos olhos.

Podemos ver pessoas diferentes que fazem sempre aquele percurso. Ver de perto o que

sempre esteve distante e a certa distância o que nos é habitualmente familiar.

O distanciamento do rotineiro e habitual pode nos revelar facetas, cores e ângulos que, ao

serem percebidos, agregam não apenas novas informações, mas, possivelmente, mais

sensibilidade.

Mudar de calçada pode representar a transformação no modo de olhar, uma alteração num

ponto de vista, num comportamento. Pode ser o início de um novo jeito de caminhar, uma

reorientação em nossos passos (Rm 12:2).

Quantas calçadas estão bem próximas e não conseguimos enxergar? Quantas outras até são

vistas, mas não temos ânimo e coragem para ir até elas, deixando de lado a inércia e a

preguiça que nos acompanham.


Ruas, calçadas, caminhos e travessias… Símbolos da viagem que fazemos para o nosso interior,

alternando encontros e desencontros, idas e vindas, chegadas e partidas, descobertas que

renovam as cores do dia e o sentido da própria vida. Desenham novas paisagens e pintam

aquarelas em nossa alma.

Ouse atravessar a rua!

Faça algo novo: cumprimente, dialogue, cante, sorria, dance, fale, silencie, só não fique

parado… Atravesse!

Permita-se levantar a cabeça, desenvolver a curiosidade ao olhar, aguçar a audição, o olfato, a

atenção, a sensibilidade.

Tente, você vai se surpreender e de repente perceber que a outra calçada não está fora… mas

dentro de você.