Eu estive em todos os lugares e só me encontrei em mim mesmo.
John Lennon.

Não me recordo com certeza se já utilizei ou não a frase atribuída a John Lennon como motivo para meus escritos. Não sou organizado com meus escritos. Há tempos deixei de arquivá-los. Uma vez escritos e colocados em circulação já não mais são meus, decidi.

De qualquer forma, tendo ou não usado a frase, hoje, meditando no tal do confinamento “obrigatório” devido ao Corona Vírus, ela me veio à mente, e passei a refletir sobre a profundidade dela.

Cinco ou seis séculos antes do Senhor Jesus, o Templo de Apolo, em Delfos, na Grécia, era muito conhecido e visitado. Muitos e muitos queriam ouvir o Oráculo para suas tomadas de decisão. Lá, Sócrates foi assinalado como o mais sábio dos humanos.

No Templo havia uma fase esculpida, muito conhecida aliás, que dizia “Conhece-te a ti mesmo”. Curiosamente, no Templo de Luxor, no Egito, havia a mesma frase, acrescida de “e conhecerá os Deuses”.

Mas, voltemos a Sócrates. Quando lhe foi dito que o Oráculo o havia identificado como o homem mais sábio do Mundo ficou sem compreender a indicação, até que um dia, conversando com outro sábio muito respeitado, percebeu que este sabia muito, mas ignorava o quanto ainda ignorava. Sócrates então se deu conta de que realmente ele, Sócrates, poderia ser considerado o mais sábio porque somente ele possuía a convicção de que nada sabia. Já ouvimos muito isso, não?

Uma coisa pela outra, com o “confinamento”, nunca tivemos tanto tempo disponível para nos observarmos. Observarmos a nós mesmos questionando-nos sobre quais tem sido nossos valores, como andam nossos princípios, e nossas atitudes? O que nos motiva para o relacionamento humano?

Nós, que somos levados de roldão pela correria imposta pela “modernidade líquida”, temos vivido mais para o que tem a ver com os valores exteriores, e pouco com os valores interiores. E são estes que têm tudo a ver com as relações humanas e, por isso, a qualidade das relações dependem da qualidade dos valores morais que já incrustamos em nossas consciências.

Não há dúvida de que nascemos para a vida de relação. Somos seres sociais por natureza.E toda a mensagem do Senhor Jesus Cristo é nesse sentido.

No seu Evangelho Ele nos cobrou “Não está escrito na vossa lei: Eu disse: Sois deuses?” (João 10:34), em referência aos escritos do Velho Testamento (Salmos 82:6), nos lembrando da capacidade imensa que temos para ser desenvolvida como seres humanos. Mas como fazer isso sem nos conhecermos? Sem analisar as consequências das nossas palavras e atitudes nos que nos rodeiam? Como nos encontrarmos como seres humanos se não olharmos para dentro de nós mesmos?

O momento nos pede isso. Nos possibilita isso. Nós que temos procurado preencher nossas vidas com o exterior, produzimos o vazio existencial tão presente entre as criaturas humanas nos dias de hoje, levando-nos a viver uma vida sem o real sentido de humanidade, tornando-nos infelizes, e o que é ainda pior, tornando a vida dos que conosco convivem também infelizes.

Santo Agostinho, fazendo alusão ao “Conhece-te a ti mesmo”, tinha uma forma toda especial de se auto conhecer e se autoanalisar. Ele nos explica isso em O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, nos itens novecentos e dezenove e novecentos e dezenove “a”:

“Fazei o que eu fazia, quando vivi na Terra: ao fim do dia, interrogava a minha consciência, passava revista ao que fizera e perguntava a mim mesmo se não faltara a algum dever, se ninguém tivera motivo para de mim se queixar. Foi assim que cheguei a me conhecer e a ver o que em mim precisava de reforma. Aquele que, todas as noites, evocasse todas as ações que praticara duranteo dia e inquirisse de si mesmo o bem ou o mal que houvera feito, rogando a Deus e ao seu anjo de guarda que o esclarecessem, grande força adquiriria para se aperfeiçoar, porque, crede-me, Deus o assistiria. Dirigi, pois, a vós mesmos perguntas, interrogai-vos sobre o que tendes feito e com que objetivo procedestes em tal ou tal circunstância, sobre se fizestes alguma coisa que, feita por outrem, censuraríeis, sobre se obrastes alguma ação que não ousaríeis confessar.”

Com isso Santo Agostinho se encontrou como ser humano, tanto quanto Sócrates, tanto quanto John Lennon. Conhecendo-se.

Assim também será com qualquer um de nós, desde que o queiramos e envidemos esforços para consegui-lo. E temos tido muito tempo para isso.

Pensemos nisso.

Autor: Antônio Carlos Navarro

Fonte: https://www.agendaespiritabrasil.com.br


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