No livro O tempo de Deus 1, ditado pelo Espírito Camilo por meio da luminosa mediunidade de José Raul Teixeira, há, na Introdução, a seguinte elucidação:
Um homem religioso, no cerne do espírito, talvez possamos afirmar, é aquele que valoriza seu tempo para libertar-se de seu egoísmo com afinco. O modo de agir desse homem é uma coragem decisiva para construir um tempo de suma importância para o espírito, e firme convicção de que o coração e o cérebro estão a serviço da vida espiritual.
Esses movimentos do espírito são de tal modo que marcam o tempo de evolução da alma e de clara consciência de seu papel na criação de Deus. No tempo de Deus, há sabedoria. No tempo de Deus, há felicidade. No tempo de Deus, há amizade. No tempo de Deus, há amor.
Não são poucas as mensagens provenientes dos nobres Espíritos que nos concitam ao melhor aproveitamento do tempo, o que também significa aprimorar as nossas escolhas, elegendo o que deve ser prioritário e aquilo que deve ser secundário em nossas vidas, tudo visando ao nosso crescimento espiritual.
Se mensagens dessa natureza se repetem com frequência, significa que temos desperdiçado as inúmeras oportunidades de iluminação espiritual que a vida nos tem concedido.
O Espiritismo nos apresenta o sentido existencial, esclarecendo que somos Espíritos imortais, momentaneamente encarnados, vinculados a um corpo físico, mas com o propósito de evolução, isto é, de aprimoramento dos sentimentos (moral) e busca de novos conhecimentos (intelectual).
Todavia, na atualidade são inúmeras as distrações e as falsas necessidades que complicam as escolhas de muitos indivíduos, fazendo com que o tempo, esse inestimável recurso que a Divindade nos concede, seja desprezado ou mal utilizado, conturbando os nossos passos no cenário terrestre.
São tantas as possibilidades atuais, desde as mais nobres até as mais insignificantes, gerando, para muitos, um transtorno neurótico que infelicita e estressa.
A benfeitora espiritual Joanna de Ângelis assevera que 2:
O tempo apresenta-se insuficiente para o cumprimento de todos os deveres, e os nossos planos estabelecidos para solucionar a questão resultam do volume imenso de informações e falsas necessidades. O cristão decidido, nesse báratro, não poucas vezes se perturba ante as injunções enfrentadas, perdendo o rumo existencial. As distrações e as variedades de divertimentos, as licenças morais que liberam as condutas esdrúxulas produzem, no seu conjunto, aturdimento e perda do foco espiritual, necessário à existência saudável.
O excesso de distrações e prazeres, o consumismo doentio, a avalanche de informações que circulam nas redes sociais são artimanhas do materialismo, com o escopo de confundir mentes e corações incautos e invigilantes.
Quando não se acredita na existência da alma ou não se tem uma compreensão de que o sentido existencial é de progresso intelecto-moral, mostra-se perfeitamente compreensível, embora indesejado, o mau uso do tempo e as escolhas equivocadas que geram sofrimento e paralisação do progresso. Lembremos, contudo, que o Pai celestial não abandona ninguém e sempre aguarda, paciente e amoroso, porque seu tempo é eterno e as oportunidades que concede de soerguimento são infinitas.
Entretanto, o alerta de Joanna de Ângelis refere-se também aos cristãos, ou seja, àqueles que receberam o convite do Cristo para serem trabalhadores do bem e promovedores da paz, que, nesses tempos difíceis e conturbados, não podem se omitir e ainda devem ajudar aqueles que estão nas trevas ou em sofrimento.
Dessa forma, reflitamos sobre o alerta do Cristo que nos concita à vigilância e à oração para não cairmos nas tentações 3, que estão dentro de nós e revelam nossas fraquezas morais.
Vemos tantos cristãos abandonando a tarefa do bem, sob as mais diversas justificativas, algumas de ordem familiar, outras de cunho profissional, e muitas vazias de importância e significado.
Em particular, nós, os espíritas, muitas vezes também temos deixado em segundo plano os nossos compromissos espirituais, malbaratando o tempo precioso da existência carnal, acreditando que, por termos infindáveis reencarnações, podemos adiar indefinidamente o processo da nosso evolução intelecto-moral.
Sem dúvida haverá dolorosas consequências, porque, ao postergar o progresso e a própria iluminação, haverá dramas de consciência e escolhas equivocadas que gerarão sofrimentos e necessidades expiatórias, até que o ser desperte e se torne proativo no bem, abençoando o tempo da sua vida.
Em vez de exaustivas horas improdutivas nas redes sociais, procuremos ler um bom livro, ou refletir sobre um belo texto que sublima a alma, ou ouvir uma bela música que comove e sensibiliza, ou conversar com um amigo que está em sofrimento ou que há tempo não vemos.
Em vez de ficar horas na cama, no repouso doentio, saiamos para realizar o bem, por mais simples que seja, ou para uma caminhada, onde podemos ver a beleza de Deus na Natureza e ainda cuidar da nossa saúde.
Evitemos o consumismo voraz. Quantas horas desperdiçadas num shopping, apenas para matar o tempo, quando poderíamos estar meditando, refletindo melhor sobre a nossa vida, ou orando para nos conectarmos com o Pai.
Quantas vezes faltamos às tarefas em nossos templos religiosos para atender compromissos adiáveis ou sem importância, ou faltamos por mera preguiça, desperdiçando um tempo precioso em que poderíamos aprender, servir, renovar as energias espirituais e haurir boas inspirações.
Jamais as questões materiais preencherão os vazios da alma. Será mera fuga, de nós mesmos, dos nossos conflitos e limites.
O tempo na Terra é valioso e deve ser aproveitado prioritariamente para as questões espirituais, morais, nobres.
Quando Jesus afirmou que – não se pode servir a dois senhores – , deixava-nos bem clara a importância de se fazer escolhas salutares ou de realizar definições bem-aventuradas, pois o tempo que passa, tal como as águas do rio, não retorna (…) Para amar a Deus, urge que te definas pelo melhor para a vida. Faze-o com júbilo e sê feliz, desde agora.4
Que cada um de nós possa refletir com seriedade acerca do tempo, das horas, dos minutos, dos segundos, que são, na realidade, abençoadas oportunidades na Terra de iluminação e bênçãos, de equilíbrio e paz, de ações benfazejas e espiritualidade, impulsionando-nos adiante e propiciando o desabrochar do Reino dos Céus, que está dentro de nós.
Repetindo a lição de Camilo:1
No tempo de Deus, há sabedoria.
No tempo de Deus, há felicidade.
No tempo de Deus, há amizade.
No tempo de Deus, há amor.
E no nosso tempo relativo terrestre, da atual reencarnação, o que temos?
Referências:
1.TEIXEIRA, Raul. O tempo de Deus. Pelo Espírito Camilo. Niterói: FRÁTER, 2019. Introdução.
2.FRANCO, Divaldo Pereira. Luz nas trevas. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. Salvador: LEAL, 2018. cap. 6.
3.BÍBLIA, N. T. Mateus. Português. O novo testamento. Tradução de João Ferreira de Almeida. Campinas: Os Gideões Internacionais no Brasil, 1988. cap. 26, vers. 41.
4.TEIXEIRA, Raul. O tempo de Deus. Pelo Espírito Camilo. Niterói: FRÁTER, 2019. cap. 5.
Autor: Alessandro Viana Vieira de Paula
Fonte: http://www.mundoespirita.com.br