É bastante comum, quando pensamos em mudança de atitudes, nos remetermos, inicialmente, a grandes correções no comportamento próprio. Faz-se oportuno e estimula as nossas mudanças, quando passamos a olhar analiticamente as consequências dos comportamentos alheios que chocam, destroem, danificam, matam, exploram e finalmente se autodestroem.
Harry Truman, 33º presidente dos Estados Unidos, mesmo dizendo-se sabedor e detentor de profunda devoção pelos ensinamentos bíblicos, não titubeou em autorizar a explosão da bomba atômica sobre Hiroshima e Nagasaki, matando milhares de pessoas, de todas as idades, dizimando toda manifestação de vida que havia.
Martin Luther King Jr., um dos mais importantes líderes do movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos, e no mundo, com uma campanha de não-violência e de amor ao próximo, sabedor e detentor de profunda devoção pelos ensinamentos bíblicos, não titubeou em dar-se em holocausto pela vitória do bem do seu povo. Foi assassinado. A ninguém assassinou.
Ambos sabiam; somente Martin Luther King Jr. fez, agiu de acordo com o que sabia.
Há entre nós, quem sabe que certo alimento lhe faz mal, mesmo assim o ingere; que determinado hábito lhe é prejudicial, mas o mantém; que os discípulos de Jesus serão reconhecidos por se amarem uns aos outros, contudo insiste em fofocar, caluniar, agredir, dissentir.
Sabe da recomendação de Jesus pela autenticidade, ao enfatizar que nosso falar seja sim, sim; não, não, mesmo assim traveste-se de diversas máscaras de fingimento, infelicita-se e infelicita muitos.
Sabe que a cada um será dado segundo as próprias obras, porém, não assume a realização de obras do bem que lhe dizem respeito.
Sabe que é fundamental ser fiel no mínimo, para poder ser fiel no muito, contudo, não titubeia em enganar, trair, lesar.
Sabe das leis divinas resumidas em amar a Deus acima de todas as coisas, e ao próximo como a si mesmo, no entanto, não só não se ama, pois entrega-se a hábitos insalubres, como não ama o próximo, uma vez que esse nem é reconhecido como seu próximo, menos ainda como um igual, tal o grau de orgulho e prepotência que vivencia.
A falsidade foi repudiada por Jesus, e recomendou-nos cautela com pessoas que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores.1
Muitos sabemos. Poucos fazemos. Muito discurso. Pouca ação.
Posturas assim, ampliamos aqui a observação para melhor raciocínio, explicam o porquê de tanto sofrimento e um contexto social tão descrente, apesar de tantas filosofias, doutrinas e religiões de excelente conteúdo e proposta, que estão à disposição do Bem na Terra, há milênios.
A deformação progressiva dos valores não está nos postulados das doutrinas do Bem, mas no desprezo a esses postulados, que impera nos corações dos homens.
Esse autoengano que infelicita e a muitos também engana e dilapida as esperanças, não passou despercebida ao Mestre Nazareno, que, firme em Sua humildade, manifestou-se: Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda a imundícia.2
Mais fundamentamos este arrazoado (que é preciso mudar de atitudes), lendo em O Livro dos Espíritos: Para agradar a Deus e assegurar a sua posição futura, bastará que o homem não pratique o mal?
E a resposta: Não; cumpre-lhe fazer o bem no limite de suas forças, porquanto responderá por todo mal que haja resultado de não haver praticado o bem.3
Diante da assertiva de Jesus, que, ao falar do grão de mostarda, ensinava ser ela a menor de todas as sementes; mas, crescendo, é a maior das plantas, e faz-se uma árvore, de sorte que vêm as aves do céu, e se aninham nos seus ramos4, nos questionemos:
Como cada uma das diferentes árvores do jardim do Cristo se tornará a árvore prometida no Evangelho – árvore onde os pássaros do céu farão seus ninhos, se seus profitentes não forem coerentes, consentâneos, congruentes, fiéis entre o saber e o fazer contido nas bases da doutrina cristã?
Nós, os espíritas, para sermos verdadeiros espíritas, teremos que envidar esforços e trabalho árduo para promover em nós transformações morais de raiz, para deixar de lado o autoengano e passar a domar, de fato, nossas más inclinações.
Devemos superar a diferença entre a cultura e a prática, entre saber e fazer.
O Espírito Emmanuel comenta:
Há sempre vozes habilitadas a indicar os caminhos. É a palavra dos que sabem.
Raras criaturas penetram valorosamente a vereda, muita vez em silêncio, abandonadas e incompreendidas. É o esforço supremo dos que fazem.
Jesus compreendeu a indecisão dos filhos da Terra e, transmitindo-lhes a palavra da verdade e da vida, fez a exemplificação máxima, através de sacrifícios culminantes.
A existência de uma teoria elevada envolve a necessidade de experiência e trabalho. Se a ação edificante fosse desnecessária, a mais humilde tese do bem deixaria de existir por inútil.5
Finalizamos com mais uma lição de Jesus para todos os nossos dias: Se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as fizerdes.6
Referências:
1 BÍBLIA, N. T. Mateus. Português. O novo testamento. Tradução de João Ferreira de Almeida. Rio de Janeiro: Imprensa Bíblica Brasileira, 1966. cap. 7, vers. 15.
2 Op. cit. cap. 23, vers. 27.
3 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Rio de Janeiro: FEB, 1974. pt. 3, cap. 1, q. 642.
4 BÍBLIA, N. T. Mateus. Português. O novo testamento. Tradução de João Ferreira de Almeida. Rio de Janeiro: Imprensa Bíblica Brasileira, 1966. cap. 13, vers. 32.
5 XAVIER, Francisco Cândido. Caminho, Verdade e Vida. Pelo Espírito Emmanuel. Rio de Janeiro: FEB, 1985. cap. 49.
6 BÍBLIA, N. T. João. Português. O novo testamento. Tradução de João Ferreira de Almeida. Rio de Janeiro: Imprensa Bíblica Brasileira, 1966. cap. 13, vers. 17.
Fonte: http://www.mundoespirita.com.br/