Nestes dias de reclusão, todos fomos chamados a uma volta para casa. Curioso,

pois, saímos diariamente para o trabalho, compras, médicos, atividade física, templo

religioso, passeios e nesse automatismo nem sempre nos damos conta do quanto é

importante voltarmos para casa.

A ideia de volta para casa nos remete a algumas reflexões. Para os que acreditamos

que a morte seja uma vírgula e não um ponto final, voltar para casa pode ser retornar à

pátria espiritual de onde um dia saímos e para a qual retornaremos mais experientes,

virtuosos e sábios, pelo menos é o que esperamos.

Podemos pensar num volver de olhos e atenção para a nossa morada comum, a

casa planetária tão maltratada e explorada por causa da ganância e egoísmo que ainda

nos caracteriza. Por conta dessas imperfeições destruímos abusivamente, pensamos

exclusivamente em nós, burlamos leis, ferimos ecossistemas com nossa sanha de poder e

domínio. Nossa Terra com sua biodiversidade, culturas diversas e histórias maravilhosas

de cada povo pede socorro e nos convida a repensar a relação que temos estabelecido

com ela a partir do lixo que produzimos, do consumo desenfreado, da poluição que


geramos, da acumulação desproporcional de capital em detrimento do empobrecimento

contínuo de tanta gente. Trata-se de uma relação predatória, nada integrativa nem

harmoniosa, onde os valores econômicos estão acima dos valores humanos.

Uma terceira possibilidade é a de cultivarmos mais a nossa habitação, o espaço que

nos alberga todos os dias com nossa família consanguínea. Além dos cuidados materiais

que esse lugar solicita em termos de limpeza e conservação, é nele que damos e

recebemos afeto. É nesse recanto formidável que podemos transcender a noção de casa

fazendo dele um lar, ou seja, mais do que um espaço de coabitação, criar laços genuínos

de amor.

Um quarto viés é poder pensar no corpo físico, morada da alma, da essência

espiritual que somos. Zelar por ele com uma alimentação saudável, boa ingestão de água,

atividades físicas, ocupação útil, descanso necessário, não o bombardeando com o tóxico

dos maus pensamentos, valorizando o investimento evolutivo e espiritual que a vida nos

oferece. Estar num corpo físico é estar matriculado numa escola onde temos muito para

aprender e nenhum aluno consciente deixa de valorizar e preservar uma escola tão

sublime como essa.

Por fim, voltar para casa também nos faz pensar na casa mental e emocional, pois é

com ela que nos relacionamos com as demais noções de casa listadas anteriormente.

Há muito lixo mental e emocional que guardamos sem reciclar e descartar

adequadamente, por isso adoecemos (culpas, mágoas, ressentimentos, frustrações,

invejas, recalques…).

Essa parada forçada em casa é um convite divino para repensarmos o que temos

feito da vida, das nossas múltiplas relações, do tempo, da inteligência, do dinheiro, do

planeta, da saúde, dos princípios religiosos que abraçamos e que usamos, muitas vezes,

para manipular, esgrimir, debochar. É a possibilidade de um mergulho mais profundo em

nós mesmos a fim de mudarmos, corrigirmos o rumo, acertarmos o prumo, voltarmo-nos

para o que é essencial.

E o que é essencial? O respeito ao outro, o compartilhar com o outro, descobrindo

que não somos donos de nada e que toda forma de apego gera sofrimento. Que

precisamos de mais empatia e compaixão.

Temos em nossas mãos a possibilidade real de daqui para frente fazermos do amor

a nós mesmos e ao próximo, a regra áurea da vida, regra com roteiro já ensinada e

exemplificada por um homem terno e gentil, sábio e amigo, há mais de dois mil anos…
Autor: Cezar Braga Said
Fonte: http://www.mundoespirita.com.br

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