Eis que o semeador saiu a semear…
Mt., 13:3
Segundo esclarecimento do Espírito de Verdade[1], aproxima-se o tempo em que se cumprirão as coisas anunciadas para a transformação da Humanidade. Ditosos serão os que houverem trabalhado no campo do Senhor, com desinteresse e sem outro móvel, senão a caridade!…
Ditosos os que hajam dito a seus irmãos: “Trabalhemos juntos e unamos os nossos esforços, a fim de que o Senhor, ao chegar, encontre acabada a obra”, porquanto o Senhor lhes dirá: “Vinde a mim, vós que sois bons servidores, vós que soubestes impor silêncio aos vossos ciúmes e às vossas discórdias, a fim de que daí não viesse dano para a obra!” (…)
Deus procede, neste momento, ao censo dos Seus servidores fiéis e já marcou com o dedo aqueles cujo devotamento é apenas aparente, a fim de que não usurpem o salário dos servidores animosos, pois aos que não recuarem diante de suas tarefas é que Ele vai confiar os postos mais difíceis na grande obra da regeneração pelo Espiritismo.
Estudando os caracteres do verdadeiro missionário de Deus, Erasto afirma[2]: (…) Ficai certos de que [Deus] só confia missões importantes aos que Ele sabe capazes de as cumprir, porquanto as grandes missões são fardos pesados que esmagariam o homem carente de forças para carregá-los.(…) Por isso, para essas missões são sempre escolhidos Espíritos já adiantados, que fizeram suas provas noutras existências, visto que, se não fossem superiores ao meio em que têm de atuar, nula lhes resultaria a ação.
Isto posto, haveis de concluir que o verdadeiro missionário de Deus tem de justificar, pela sua superioridade, pelas suas virtudes, pela grandeza, pelo resultado e pela influência moralizadora de suas obras, a missão de que se diz portador. (…)
Outra consideração: os verdadeiros missionários de Deus ignoram-se a si mesmos, em sua maior parte; desempenham a missão a que foram chamados pela força do gênio que possuem, secundado pelo poder oculto que os inspira e dirige a seu mau grado, mas sem desígnio premeditado. Numa palavra: “os verdadeiros profetas se revelam por seus atos, são adivinhados…”
Naturalmente, embora ofereçam essas criaturas um grande contributo para o progresso da Humanidade, vivem como o comum dos mortais, sujeitas a todas as vicissitudes da vida e condenadas a uma grande solidão, visto que não vivem para si próprias mas para os semelhantes… E para que consigam chegar ao termo de suas missões, o Mais Alto disponibiliza os recursos de que necessitam, inclusive boas companhias espirituais, Mentores Amigos que lhes estão sempre a insuflar bom ânimo e dispensando-lhes proteção…
Tal é o caso de Divaldo Pereira Franco, com a onipresente Joanna de Ângelis e tal foi o caso de Francisco Cândido Xavier, com seu fiel guardião: o nobre Emmanuel, assim como Raul Teixeira, com seu guia Camilo…
Não dá para imaginar as vezes sem conto em que o pranto dorido aljofrou os olhos desses Peregrinos do Senhor; os momentos dolorosos dos testemunhos superlativos, quando o azorrague da inveja e da calúnia semeavam suas nuvens pestilenciais; os momentos graves em que, embora enovelados pela multidão, ergastulavam-se nas malhas da solidão…
Para que as ondas das procelas da vida não emborcassem o barco de suas luminíferas missões, interferia a doce Joanna, o atencioso Emmanuel e o solícito Camilo, devolvendo-lhes a esperança e recobrando-lhes o ânimo alquebrado pelas vicissitudes…
Assim é que, ao lermos mensagem de Joanna de Ângelis3, observamos uma dessas intervenções da Mentora Amiga, que podemos aproveitar para todos nós que, em missões menores e anônimas, também podemos, às vezes, sentir a constringência da solidão e o ressaibo amargo do descoroçoamento… A Amiga Espiritual deu-lhe o título que apomos a este artigo, mas bem poderia intitular-se:
Carta aberta de Joanna de Ângelis para Divaldo Franco, Francisco Cândido Xavier e Raul Teixeira
Afligias-te, porque não fruías as bênçãos do amor que te aquecesse o coração, embora o espalhasses por onde seguias.
Acreditavas que nunca terias a ventura de sentir-lhe o calor, nem lhe experimentar a resposta aos teus apelos silenciosos, ricos de ternura e de carinho.
Seguias adiante, espalhando as estrelas do amor na Terra e contemplando o Céu, aguardando a tua migalha de luz.
Os anos seguiam-se solitários e doridos. Não obstante estivesses com o coração embriagado de afeição, despejavas no vaso da fraternidade geral todas as gotas do carinho que gostarias de oferecer a alguém especial, que te fitasse com encantamento, que te falasse sem palavras, que te envolvesse em doce enlevo.
Já te sentias com os pés feridos pela urze do caminho áspero, porque o teu amor não chegava ao coração ansioso, para ajudar-te a balsamizar as feridas.
Seguias, no entanto, cantando a magia do amor, as bênçãos de amar sem ser amado, levando a felicidade do aquecer das mãos e dos sentimentos enregelados daqueles que não mais acreditavam na vida.
E conseguias fazer que, com o teu amor, o cardo desabrochasse flores e desatasse perfumes; a greta da rocha sorrisse, na primavera, em forma de folhas verdes delicadas e ricas de vida; os corações que pretendiam desistir da luta se entusiasmassem, invejando-te a riqueza dos sentimentos.
Ninguém sabia que amavas a todos, embora a sós, sem que ninguém te compartilhasse as emoções, e não compreendiam como conseguias seguir com tanto brilho e alegria, desde que, aparentemente, te faltava o licor forte do amor de alguém.
Fizeste bem em refugiar-te em Jesus, o doce Amor não amado, em cujo aconchego renovavas as forças, ampliavas a capacidade de doação e adquirias coragem para esperar.
Ninguém a sós, porém, no mundo, que não se encontre vinculado ao amor poderoso de outra alma que lhe constitui apoio e luz, apesar de não a ter ao lado.
Sabias dessa realidade, e continuavas entoando o teu hino, enquanto aguardavas.
Naquelas horas, quando as lágrimas dos sofrimentos perolavam os teus olhos, gostarias que alguém especial as recolhesse; quando a solidão se te fazia mais vigorosa, quase aniquilando-te, sonhavas com alguém que se fizesse presente ao teu lado; quando o peso dos anos se avolumava, temias partir sem haver contemplado os olhos do amor, vivido sem viver.
Nunca desesperaste, porém, prosseguindo pelos caminhos do amor.
O amor não falha. Às vezes, tarda, para chegar sorrindo; demora-se distante, para não mais se afastar; mantém-se silencioso, para poder cantar sem cansaço a melodia da infinita ternura que possui.
Prossegue confiante. Não partirás da Terra sem receberes o teu ósculo de alento. E, se por acaso, o amor não te envolver nessa onda de ternura e de sustentação que ambicionas, recorda-te dos mártires da fé, dos campeões do progresso, dos heróis do bem em todos os tempos e lugares.
As conquistas do amor são infinitas e eternas, porque direcionadas por Deus.
Doa-te, pois, ao amor, especialmente àqueles que o não conhecem, tornando a Terra menos árida de sentimentos, menos rude ao desenvolvimento da alegria, e sê tu quem poderá falar da felicidade de amar, mesmo que tenhas a taça do coração vazia de retribuição.
O Senhor, a Quem amas, receber-te-á, afetuoso, convidando-te, após as vicissitudes e a longa marcha solitária, a que te embriagues de paz e de felicidade no Seu amor.
Não desistas, portanto, jamais (…)
Referências:
1 – KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 118. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2001. cap. XX, item 5.
2 – Op. cit. cap. XXI, item 9.
3 –FRANCO, Divaldo Pereira. Sendas luminosas. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. Votuporanga: DIDIER, 1998. cap. 26.
Autor: Rogério Coelho