Anna Blackwell nasceu em Bristol, Inglaterra, filha de Hannah Lane e Samuel Blackwell, empreendedor do ramo de refinaria de açúcar. Tiveram nove filhos, quatro homens e cinco mulheres, sendo Anna a primogênita. Nenhuma das filhas se casou.

Por força dos negócios, a família mudou várias vezes de cidades. Seus filhos tiveram bons estudos e alguns deles obtiveram projeção social, como Elizabeth, que fez história ao conseguir o Doutorado em Medicina e ser a primeira mulher a exercer a profissão de médica nos Estado Unidos. Emily Blackwell seguiu os passos da irmã e foi a terceira médica naquele país. Samuel e Henry foram renomados abolicionistas e ativistas pelos direitos das mulheres.

Anna foi professora, escritora, poetisa, jornalista e tradutora de dezenas de poemas, textos e livros de vários autores e em diferentes áreas. Entre os autores, estava George Sand, pseudônimo de Amantine Aurore Lucile Dupin, Baronesa de Dudevant e o romancista francês Élie François Victor Sauvage.

Há registros de que Anna tenha trabalhado como jornalista e correspondente de jornais, nos Estados Unidos, Canadá, África do Sul, Austrália e Índia.

Não há informações precisas sobre seus primeiros contatos com o Espiritismo. Acredita-se que se deu ao acompanhar sua irmã Elizabeth, que se instalou em 1846, em Paris, justamente quando eclodiu o fenômeno das mesas girantes.

Intrigada com o fenômeno, foi à busca dos fatos na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, travando amizade com o casal Kardec. Estudou na Sociedade e, retornando a Londres, mais tarde, tornou-se correspondente, escrevendo para a Revista Espírita. Em seu artigo O Espiritismo em toda parte1, ela enaltece a necessidade do público inglês conhecer a  obra espírita.

Sua grande importância, pouco conhecida pelos espíritas, se dá a partir da eclosão de traduções das obras básicas no final dos anos 1870, na Espanha, na Holanda, na Itália, no Brasil, no México, em Viena, em Constantinopla.

Em meio a tantas boas traduções embasadas no ensino dos Espíritos e codificadas por Allan Kardec, na França, o Coronel Olcott alerta a viúva Kardec que, por falta de uma tradução séria dos ensinos espíritas da língua francesa para o inglês, os Estados Unidos e a Inglaterra vinham recebendo informações distorcidas, acontecendo forte divergência, por exemplo, quanto ao conceito de reencarnação, conforme a compreensão dos espíritas europeus.

É nessa situação que Madame Kardec contrata Anna para traduzir as obras básicas para o idioma inglês. A primeira tradução de O livro dos Espíritos se deu em 1876, para o idioma inglês britânico e para o americano. Traduziria, depois, O livro dos médiuns e O Céu e o Inferno.

Anna Blackwell, como tradutora profissional, era remunerada. Como espírita, ia além do seu contrato, colocando, nas traduções, nuances que nenhuma outra tradução apresentava. Assim, em The Spirit’s Book, acrescentou um capítulo preliminar com a biografia de Allan Kardec, no qual o descreve física e psicológicamente. Desse capítulo se serviu Arthur Conan Doyle para descrever o Codificador, em 1926.3

Anna foi a primeira mulher tradutora das obras espíritas. Defensora do Espiritismo, foi grande propagadora da literatura espírita.

Por conta de conflitos humanos, após a desencarnação de Amélie Boudet, o panorama se alterou, em questões editoriais das obras kardequianas. Não concordando com a situação apresentada, Anna e outras mulheres que seguiam as orientações da viúva Kardec, foram relegadas ao esquecimento.

Contudo, ainda em setembro de 1876, a Revue Spirite registra um pequeno reconhecimento a Anna Blackwell nos seguintes termos: Embora traduzir fielmente, e de acordo com o gênio de cada idioma, seja um mérito tão raro, uma boa tradução é considerada como tendo o valor do livro original. Por conta disso, faremos o suficiente para agradecer Miss Anna Blackwell, pela sua dedicação à causa da instrução que preocupa milhões de homens, amigos da investigação e da verdade. (…).

 

Referências:

KARDEC, Allan. Revista Espírita: Jornal de Estudos Psicológicos. Ano 1869, v. III. São Paulo: EDICEL, 1999. O Espiritismo em toda parte.

2 FERNANDES. Washington Luiz. Registros Inéditos dos que fizeram parte do Espiritismo – Anna Blackwell. Reformador, ano 126, n. 2148, mar. 2008, p. 25.

3 DOYLE, Arthur Conan. A história do espiritualismo. Rio de Janeiro: FEB, 2012. cap. 21.

4 CALSONE, Adriano. As mulheres fortes do Espiritismo francês. Jornal de Estudos Espíritas, São Caetano do Sul, v. 5, 2017

Deixe seu Comentário


Roseli - 18/07/2020 08h28
Excelente matéria sobre Anna Blackwell e a história do espiritismo! Parabéns