O Calvário do Mestre não se constituía tão-somente de secura e asperezas, visto que do monte pedregoso e triste jorravam fontes de água viva que dessedentaram a alma dos séculos… E as flores que desabrocharam no entendimento do ladrão e na angústia das mulheres de Jerusalém atravessaram o tempo, transformando-se em frutos abençoados de alegria no celeiro das nações.
Colhe as rosas do caminho no espinheiro dos testemunhos… Entesoura as moedas invisíveis do amor no templo do coração! Retempera o ânimo varonil, em contato com o rocio divino da gratidão e da bondade… Entretanto, não te detenhas: caminha, pois é necessário ascender… Indispensável o roteiro da elevação, com o sacrifício pessoal por norma de todos os instantes.
Lembra-te: Ele era sozinho! Sozinho anunciou e sozinho sofreu… Mas, erguido em plena solidão, ao madeiro doloroso por devotamento à humanidade, converteu-se em Eterna Ressurreição.
Não tomes outra diretriz, senão a de sempre: descer auxiliando, para subir com a exaltação do Senhor! Dar tudo, para receber com abundância. Nada pedir para nosso Eu exclusivista, a fim de que possamos encontrar o glorioso Nós da vida imortal.
Ser a concórdia para a separação… Ser luz para as sombras, fraternidade para a destruição, ternura para o ódio, humildade para o orgulho, bênção para a maldição…
Ama sempre!…
É pela graça do Amor que o Mestre persiste conosco (os mendigos dos milênios), derramando a claridade sublime do perdão celeste onde criamos o inferno do mal e do sofrimento.
Quando o silêncio se fizer mais pesado ao redor de teus passos, aguça o ouvido e escuta! A voz dEle ressoará de novo na acústica de tua alma e as grandes palavras, que os séculos não apagaram, voltarão mais nítidas ao círculo de tua esperança, para que tuas feridas se convertam em rosas e para que teu cansaço se transubstancie em triunfo.
O rebanho aflito e atormentado clama por refúgio e segurança.
Que será da antiga Jerusalém humana sem o bordão providencial do Pastor que espreita os movimentos do Céu para a defesa do aprisco?!
É necessário que o lume da cruz se reacenda, que o clarão da verdade fulgure novamente, que os rumos da libertação decisiva sejam traçados…
A inteligência sem amor é o gênio infernal que arrasta os povos de agora às correntes escuras e terrificantes do abismo.
O cérebro sublimado não encontra socorro no coração embrutecido.
A cultura transviada da época em que jornadeamos, relegados à aflição, ameaça todos os serviços da Boa Nova, em seus mais íntimos fundamentos.
Pavorosas ruínas fumegarão, por certo, sobre os palácios faustosos da humana grandeza, carente de humildade, e o vento frio da desilusão soprará de rijo sobre os castelos mortos da dominação que, desvairada, se exibe, sem cogitar dos interesses imperecíveis e supremos do Espírito.
É imprescindível a ascensão!…
A luz verdadeira procede do Mais Alto e só aquele que se instala no plano superior, ainda mesmo que coberto de chagas e roído de vermes, pode, com razão, aclarar a senda redentora que as gerações enganadas esqueceram.
Refaze as energias exauridas e volta ao lar de nossa comunhão e de nossos pensamentos. O trabalhador fiel persevera na luta santificante até o fO farol no oceano irado é sempre uma estrela em solidão. Ilumina a estrada, buscando a lâmpada do Mestre que jamais nos faltou.
Avança! Avancemos!…
Cristo em nós, conosco e por nós e em nosso favor, é o Cristianismo que precisamos reviver à frente das tempestades, de cujas trevas nascerá o esplendor do Terceiro Milênio.
Certamente, o apostolado é tudo. Mas, a tarefa transcende o quadro de nossa compreensão: não exijamos esclarecimentos; procuremos servir…
Cabe-nos apenas obedecer até que a glória dEle se entronize para sempre na alma flagelada do mundo.
Segue, pois, o amargurado caminho da paixão pelo bem divino, confiando-te ao suor incessante pela vitória final.
O Evangelho é o nosso Código Eterno. Jesus é nosso Mestre Imperecível!
Subamos em companhia dEle no trilho duro e áspero.
Agora é ainda a noite que se rasga em trovões e sombras, amedrontando, vergastando, torturando, destruindo… Todavia, Cristo reina e amanhã contemplaremos o celeste despertar.
Mensagem recebida por Francisco Cândido Xavier, no lar do
Dr. Rômulo Joviano, em Pedro Leopoldo, Minas Gerais, em
data de 17 de agosto de 1951
Fonte: http://www.mundoespirita.com.br