À medida que nos elevarmos, diminuirá para nós a importância da vida material
“(…) Vou preparar-vos lugar e vos levarei para mim
mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também.”
– Jesus. (Jo., 14:2 e 3.)
Numa das últimas publicações feita por Kardec na Revue Spirite (1) ele nos conclama a “(…) compreender que o Espírito deve ser livre em seu voo para o Infinito; que tendo saído dos cueiros da matéria, aspira, como a criança a marchar e a correr sem ser detido pelas andadeiras maternas; que essas primeiras necessidades da primeira educação da criança são supérfluas e mesmo insuportáveis para o adolescente. Não desejeis, pois, ficar na infância; olhai-vos como alunos que fazem os últimos estudos e se dispõem a entrar no mundo, e nele ter a sua classe e a começar trabalhos de outro gênero, que seus estudos preliminares terão facilitado.
O Espiritismo é a alavanca que levantará de um salto ao estado espiritual a todo encarnado que, quando melhor compreendê-lo e o colocar em prática, tratará de dominar a matéria; todo Espírito de boa vontade pode por-se em um estado de passar, ao deixar este mundo, para o estado espiritual sem retorno terrestre. Apenas é preciso fé ou vontade ativa.
Considerada do ponto de vista do progresso, a vida do Espírito apresenta três períodos principais: material, de equilíbrio e espiritual.
No período material, a influência da matéria domina o Espírito. É o estado dos homens dados a paixões brutais e carnais, à sensualidade; cujas aspirações são exclusivamente terrenas, ligadas aos bens temporais e refratárias às ideias espirituais.
No período do equilíbrio, as influências da matéria e do Espírito se exercem simultaneamente. Ainda submetido às necessidades materiais, sem embargo, a criatura pressente e compreende o estado espiritual e começa a trabalhar para emancipar-se do estado corporal. Nesses dois períodos o Espírito está sujeito à reencarnação, que se realiza nos mundos inferiores e médios.
No período espiritual, tendo dominado completamente a matéria, o Espírito não mais necessita da encarnação, e não sendo mais material o seu trabalho, passa a ser inteiramente espiritual: é o estado dos Espíritos nos mundos superiores.
A facilidade com que certas pessoas aceitam as ideias espíritas, das quais parece têm a intuição, indica que pertencem ao segundo período; mas entre este e os outros há muitos graus, que o Espírito transpõe tanto mais rapidamente quanto mais próximo do estado espiritual. É assim que, de um mundo material como a Terra, pode ir habitar um mundo superior, se seu avanço moral e espiritual for suficiente para dispensá-lo dos graus intermediários.”
Livre-arbítrio e fatalidade não são termos da mesma equação. Segundo os Espíritos Superiores (2), “(…) tal como vulgarmente é entendida, a fatalidade supõe a decisão prévia e irrevogável de todos os acontecimentos da vida, qualquer que seja a importância. Se ela estivesse na ordem das coisas, o homem seria máquina sem vontade. Entanto, a fatalidade não é palavra vã, visto que ela existe na posição que o homem ocupa na Terra e nas funções que ele aí cumpre por consequência do gênero de existência que seu Espírito escolheu seja como prova ou missão, ou expiação que lhe é imposta. Mas a isso se reduz a fatalidade, porque depende de sua vontade ceder ou não a essas tendências. Ela jamais está nos atos da vida moral.
Segundo o Espiritismo, não há arrastamento irresistível vez que o homem pode sempre fechar o ouvido à voz oculta que o solicita ao mal em seu foro íntimo. Façamos, portanto, todos os esforços para aqui não retornarmos depois desta estada e para merecermos reencarnar num desses mundos privilegiados onde o bem reina sem oposição, onde nos lembraremos de nossa passagem neste mundo como um tempo de exílio que finalmente terminou.”
O futuro que nos aguarda constitui o eixo do ensino de Jesus que por isso afirmou (3): “Meu Reino não é deste mundo.”
Jesus apresenta a vida futura em todas as circunstâncias de Seus ensinos como o desiderato a que a devemos todos colimar, devendo constituir mesmo a sua conquista objeto das nossas maiores preocupações na Terra… Com efeito, sem a vida futura, nenhuma razão de ser teria a maior parte dos Seus preceitos morais donde vem que os que não creem nela, imaginando que Ele apenas falava da vida presente, não os compreendem, ou os consideram pueris…
Jesus foi de peregrina clareza ao revelar (4): “a Casa de meu Pai tem muitas Moradas.”
Com Kardec (5) aprendemos que “a Casa do Pai é o Universo. As diferentes Moradas são os mundos que circulam no Espaço Infinito e oferecem, aos Espíritos que neles encarnam, moradas correspondentes ao adiantamento dos mesmos Espíritos.”
Ensina ainda o ínclito Mestre Lionês (6): “(…) Os Espíritos que encarnam em um mundo não se acham a ele presos indefinidamente, nem nele atravessam todas as fases do progresso que lhes cumpre realizar, para atingir a perfeição. Quando, em um mundo, eles alcançam o grau de adiantamento que esse mundo comporta, passam para outro mais adiantado, e assim por diante, até que cheguem ao estado de puros Espíritos.”
DESTINAÇÃO DA TERRA – CAUSAS DA MISERIA HUMANA
“Muitos se admiram de que na Terra haja tanta maldade e tantas paixões grosseiras, tantas misérias e enfermidades de toda natureza, e daí concluem que a espécie humana bem triste coisa é. Provém esse juízo do acanhado ponto de vista em que se colocam os que o emitem e que lhes dá uma falsa ideia do conjunto. Deve-se considerar que na Terra não está a humanidade toda, mas apenas uma pequena fração dela. Com efeito, a espécie humana abrange todos os seres dotados de razão que povoam os inúmeros Orbes do Universo. Ora, que é a população da Terra, em face da população total desses mundos?”
Compreende-se, assim com muita facilidade que as nossas imperfeições são grilhetas que nos prendem aos mundos inferiores. A cada vicissitude cumpre-nos lembrar que se estivéssemos em um mundo mais adiantado, tal não se daria e que tão somente de nós mesmos depende não reencarnarmos mais nos mundos inferiores.
François de Genève (7) dá-nos uma explicação altamente consoladora: “sabeis por que, às vezes, uma vaga tristeza se apodera dos vossos corações e vos leva a considerar amarga a vida? É que vosso Espírito, aspirando à felicidade e à liberdade, se esgota, jungido ao corpo que lhe serve de prisão, em vãos esforços para sair dele. Reconhecendo inúteis esses esforços, cai no desânimo e, como o corpo lhe sofre a influência, toma-vos a lassidão, o abatimento, uma espécie de apatia, e vos julgais infelizes… Crede-me, resisti com energia a essas impressões que vos enfraquecem a vontade. São inatas no espírito de todos os homens as aspirações por uma vida melhor; mas, não as busqueis neste mundo e, agora, quando Deus vos envia os Espíritos que lhe pertencem, para vos instruírem acerca da felicidade que Ele vos reserva, aguardai pacientemente o anjo da libertação, para vos ajudar a romper os liames que vos mantêm cativo o Espírito.”
Fénelon conclama-nos a esforçarmo-nos por sair, pelo pensamento, de nossa acanhada esfera e, à medida que nos elevarmos, diminuirá para nós a importância da vida material que se nos antolhará como simples incidente no curso infinito de nossa existência espiritual, a única verdadeira existência.
Rogério Coelho
Referências:
(1) KARDEC, Allan. Revue Spirite. Fevereiro 1864. Araras: IDE, 1993;
(2) KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 88.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2006, q. 872;
(3) João, 18:36;
(4) João, 14:2;
(5) KARDEC, Allan. O Evangelho Seg. o Espiritismo. 129.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2009, cap. III, item 2;
(6) KARDEC, Allan. O Evangelho Seg. o Espiritismo. 129.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2009, cap. III, itens 5 e 6; e
(7) Idem, idem, cap. V, item 25.
Autor: Rogério Coelho
Fonte: https://www.agendaespiritabrasil.com.br