Após a morte de Allan Kardec, o Espiritismo que ele havia codificado só teve como

defensores sérios raros discípulos, cujos tímidos esforços foram embaraçados, em muitas

circunstâncias, por uma ciência oficial apegada às velhas fórmulas.  

No meio desse caos, surgiram dois homens que, sem estardalhaço ou vã

publicidade, empreenderam dar ao Espiritismo a base moral indispensável para a sua

difusão: Léon Denis e Gabriel Delanne.

Os autores Paul Bodier e Henri Regnault   afirmam que três homens, na França,

mereceram, por seu devotamento à Ciência Espírita, serem chamados de Apóstolos do

Espiritismo: Allan Kardec, Léon Denis e Gabriel Delanne.

François-Marie Gabriel Delanne nasceu em Paris, no dia 23 de março de 1857, mês

que antecedeu a publicação de O livro dos Espíritos.

Seus pais eram espíritas convictos e praticantes, sendo o pai, Alexandre Delanne,

um dos fundadores da Liga Parisiense de Ensino e afeiçoado amigo de Allan Kardec. Sua

mãe, Marie-Alexandrine Didelot, portadora de mediunidade ostensiva, colaborou na

Codificação.

Sendo Kardec amigo íntimo da família, teve muitas vezes Gabriel pulando em seus

joelhos, e o mestre lionês sentia muito prazer em presenteá-lo com brinquedos. Saberia

ele que o pequeno se tornaria um apóstolo do Espiritismo?

Desde sua infância, portanto, Delanne foi familiarizado com o vocabulário espírita e

cedo assistiu a numerosas e bem interessantes sessões.

Seu pai narrava, feliz, que seu garoto, de sete anos, foi um dia interrogado a respeito

da profissão de seus pais. Com encantadora ingenuidade, respondera:

“Papai? Ele é espírita e mamãe também. Ela é uma boa médium. Espero ser qual

ela, honrando minha fé.” 

Delanne iniciou seus estudos no Colégio Cluny (Saône-et-Loire), depois no colégio

de Gray ( Haute-Saône) e, aos 19 anos ingressou na Escola Central das Artes e

Manufatura. A situação financeira de seus pais não permitiu a conclusão de seus estudos.

Certa feita, recebeu uma mensagem da Espiritualidade, cujo teor o faria mais

dedicado e disciplinado para com suas pesquisas: Nada temas. Tem confiança. Jamais

serás rico do ponto de vista material. Coisa alguma, porém, te faltará na vida. E assim se

deu. Começou a trabalhar na Companhia de Ar Comprimido e de Eletricidade Popp, onde

esteve até 1892.

Teve uma vida atribulada e difícil, não gozava de boa saúde. Ainda criança teve um

abscesso no olho esquerdo que, ao longo do tempo, levou-o à cegueira. Em 1906, a

paralisia dos membros inferiores obrigou-o a andar com duas bengalas. Nada disso

desestimulou sua missão, continuou as conferências na França e no Exterior, sempre

divulgando as ideias espíritas. Em 1918, já não conseguia mais andar, sendo necessário o

uso de cadeira de rodas. Não obstante esse sofrimento físico continuou produzindo

incessantemente.

Defensor ferrenho do caráter científico da Doutrina Espírita, dedicou a maior parte de

seus esforços na luta por consolidar o Espiritismo como uma ciência estabelecida e

complementar às outras. Foi presidente da União Espírita Francesa, presidente da

Sociedade de Estudos dos Fenômenos Psíquicos, fundador e diretor da Revista Cientifica

e Moral de Espiritismo.

Escritor de grande talento, dentre suas principais obras destacam-se: O Espiritismo

perante a ciência[1885], O fenômeno Espírita[1896], A evolução anímica[1897],  A alma é

imortal[1899], As aparições materializadas dos vivos e dos mortos [1911], A

reencarnação[1925].

Nos primeiros meses do ano de1905, pondo em prática a solidariedade espírita,

Delanne adotou uma garotinha de sete meses, Suzanne Rabotin, que viveu sempre perto

dele.

Todos os dias, antes de dormir, ele orava, suplicando coragem para suportar, sem

lamentações, suas constantes dores. Estendia ainda suas súplicas aos protetores

invisíveis para uma longa lista de parentes e amigos desencarnados.

Morreu em 15 de fevereiro de 1926, aos sessenta e nove anos de idade. Os funerais

se realizaram três dias depois. Seu corpo físico foi incinerado, as cinzas colocadas numa

urna e depositadas no jazigo da família, no cemitério parisiense  Père Lachaise, não

distante do túmulo de Allan Kardec.

Todo homem de bem não sabe que o é. Delanne, quando questionado sobre suas

obras respondia: Nada tenho dilatado. Tudo que há é de Kardec. Apenas tenho feito

constatações. Mostrei-as em meus livros e demonstro-as na prática diária. Nada

acrescento.

Autora: Mary Ishiyama

 Bibliografia:

BODIER, Paul e REGNAULT, Henri. Gabriel Delanne, vida e obra, Rio de Janeiro:

CELD, 1990.

http://www.feparana.com.br

http://www.ceakitajuba.org.br

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