Humberto de Campos Veras (Miritiba, Maranhão, 25 de outubro de 1886 - Rio de Janeiro, RJ, 5 de dezembro de 1934) foi um jornalista, escritor, político, membro da Academia Brasileira de Letras, lembrado pelo Movimento Espírita pelas obras ditadas, depois de sua desencarnação, através da mediunidade de Chico Xavier, especialmente Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho. Algumas dessas obras foram assinadas com o pseudônimo Irmão X, devido implicações de direitos autorais. É também carinhosamente chamado de "Repórter do Além". 

 
 

 

 
 
 

Biografia 

Humberto de Campos nasceu em uma família humilde de um vilarejo do Norte Maranhense então chamado Miritiba, que em 1934 foi promovido a município e, em sua homenagem, rebatizado para Município de Humberto de Campos. Aos seis anos ficou órfão do pai e foi com sua mãe morar na capital, São Luiz, onde desde cedo começou a trabalhar no comércio para ajudar no sustento da sua família. 

Formou-se em jornalismo e muito rapidamente ganha notoriedade. Depois de passar pelos jornais Folha do Norte e A Província do Pará, em Belém do Pará, transfere-se em 1912 para o Rio de Janeiro, então Capital Federal, onde foi admitido no jornal O Imparcial, trabalhando ao lado de notáveis figuras como Rui Barbosa e José Veríssimo, além de tornar-se amigo de ilustres literatos, como Olavo Bilac. 

Além de brilhante repórter, Humberto de Campos ficou famoso por suas crônicas e contos, levando-o em 1920 a ser eleito membro da Academia Brasileira de Letras, sucedendo o amigo Emílio de Menezes na cadeira n° 20, pertencente ao patrono Joaquim Manuel de Macedo. No ano seguinte, foi eleito Deputado Federal pelo Maranhão, sendo reeleito nas sucessivas eleições até ser cassado pelo golpe de Estado culminado pela Revolução de 1930. 

Após um período de grandes dificuldades financeiras e já com sérios problemas de saúde, volta a ganhar destaque nacional em 1933 ao publicar Memórias, em que descreve recordações da infância e juventude. O sucesso de venda e crítica o inspira a compor um segundo volume, que seria publicada postumamente, como Memórias Inacabadas, visto seu desencarne antes da conclusão do livro. 

 
 

Humberto de Campos e o Parnaso de Chico Xavier 


Em 9 de julho de 1932 a Federação Espírita Brasileira publica Parnaso de Além-Túmulo, o primeiro livro psicografado por Chico Xavier, contendo uma coleção de poemas, ditados por Espíritos de eminentes escritores, como Augusto dos Anjos, Castro Alves, Casimiro de Abreu, Cruz e Souza, Artur Azevedo dentre outros. A obra causa grande impacto no meio literário e acirrado debate entre os críticos. Chamados a analisar a obra, alguns imortais da Academia deram seu parecer sobre a legitimidade das autorias e Humberto de Campos foi um dos que opinou favoravelmente à autenticidade das referências, escrevendo para o jornal Diário Carioca: 


"Eu faltaria, entretanto, ao dever que me é imposto pela consciência, se não confessasse que, fazendo versos pelas penas do Sr. Francisco Cândido Xavier, os poetas de que ele é intérprete apresentam as mesmas características de inspiração e de expressão que os identificavam neste planeta. Os temas abordados são os que os preocuparam em vida. O gosto é o mesmo e o verso obedece, ordinariamente, à mesma pauta musical. Frouxo e ingênuo em Casimiro de Abreu, largo e sonoro em Castro Alves, sarcástico e variado em Junqueiro, fúnebre e grave em Antero, filosófico e profundo em Augusto dos Anjos." 


Humberto de Campos 

 
 

Morte e retorno: o Repórter do Além 


Humberto de Campos desencarnou em 1934, com tão-somente 48 anos de idade, no auge de seu reconhecimento, depois de sofrer anos com o agravamento de seu estado de saúde, como perda gradual da visão e problemas no aparelho digestivo. 


Apenas três meses após sua desencarnação, ele se manifesta ao médium Chico Xavier, oferecendo-se para uma parceria de trabalho que mais tarde resultaria em grandes obras espíritas. A primeira crônica já viria dois meses depois: "A palavra dos mortos", que iria servir de prefácio para o livro Palavras do Infinito, publicado em 1936. No ano seguinte, o Espírito Humberto de Campos ditaria Crônicas de Além-Túmulo. 


A grande obra do Repórter do Além pela psicografia de Chico Xavier é publicada em 1938: Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho — um clássico da literatura espírita. Sua repercussão motivou um célebre processo judicial que foi acompanhado pela mídia de todo o país. 


 No ano de 1944, a viúva de Humberto de Campos, Catarina Vergolino de Campos, ingressou em juízo, movendo um processo, que se torna célebre, contra a Federação Espírita Brasileira e Francisco Cândido Xavier, no sentido de obter uma declaração, por sentença, de que essa obra mediúnica "era ou não do Espírito de Humberto de Campos", e que em caso afirmativo, se aplicassem as sanções previstas em lei, com o repasse dos direitos autorais à esposa e os três filhos herdeiros do falecido escritor. 


Em meio ao processo, mãe de Humberto de Campos, D. Ana de Campos Veras, rompeu o silêncio para ofertar ao médium de Pedro Leopoldo a fotografia do seu próprio filho, com esta expressiva dedicatória: "Ao Prezado Sr. Francisco Xavier, dedicado intérprete espiritual do meu saudoso Humberto, ofereço com muito afeto esta fotografia, como prova de amizade e gratidão. Realmente, li emocionada as Crônicas de Além-Túmulo, e verifiquei que o estilo é o mesmo de meu filho. Não tenho dúvidas em afirmar isso e não conheço nenhuma explicação científica para esclarecer esse mistério, principalmente se considerarmos que Francisco Xavier é um cidadão de conhecimentos medíocres. Onde há fraude? Na hipótese de o Tribunal reconhecer aquela obra como realmente da autoria de Humberto, é claro que, por justiça, os direitos autorais venham a pertencer à família. No caso, porém, de os juízes decidirem em contrário, acho que os intelectuais patriotas fariam ato de justiça aceitando Francisco Cândido Xavier na Academia Brasileira de Letras... Só um homem muito inteligente, muito culto, e de fino talento literário, poderia ter escrito essa produção, tão identificada com a de meu filho." 


Na noite de 15 de julho de 1944, quando o processo atingia o clímax, o Espírito Humberto de Campos retorna pelo lápis do médium Chico Xavier, tecendo, no seu estilo inconfundível, uma belíssima e emocionante página sobre o triste problema levantado pela incompreensão humana, página que pode ser devidamente apreciada no livro A Psicografia ante os Tribunais. Daí por diante, ele passou a assinar-se, simplesmente, Irmão X, versão evangelizada do pseudônimo Conselheiro XX, que ele adotara no meio literário de quando encarnado. 


A autora da ação, Catarina Vergolino de Campos, foi julgada carecedora da ação proposta, por sentença de 23 de agosto de 1944, do Dr. João Frederico Mourão Russell, juiz de Direito em exercício na 8ª Vara Cível do antigo Distrito Federal. Tendo ela recorrido dessa sentença, o Tribunal de Apelação do antigo DF manteve-a por seus jurídicos fundamentos, tendo sido relator o saudoso ministro Álvaro Moutinho Ribeiro da Costa. 

 
 

Obras 

  • Palavras do Infinito (1936) 

  • Crônicas de Além-Túmulo (1937) 

  • Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho (1938) 

  • Novas Mensagens (1940) 

  • Boa Nova (1941) 

  • Reportagens de Além-Túmulo (1943) 

  • Lázaro Redivivo (1945) 

  • Luz Acima (1948) 

  • Pontos e Contos (1951) 

  • Contos e Apólogos (1958) 

  • Contos Desta e Doutra Vida (1964) 

  • Cartas e Crônicas (1966) 

  • Estante da Vida (1969) 

  • Relatos da Vida (1988) 

  • Histórias e anotações (1989) 

 
 

Referências 

  • Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, (Humberto de Campos) Chico Xavier. 

  • As Vidas de Chico XavierMarceu Souto Maior. 

 
 
 

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