Jesus só ensinava e esclarecia quando sentia que
o campo estava propício para a semeadura
“E aconteceu que naqueles dias subiu ao monte
para orar, e passou a noite em oração a Deus.”
Lucas, 6:12.
Sem críticas aos profitentes de certas religiões que, em sua ânsia incontida de arrebanhar seguidores para suas hostes, passam esgrimindo “frases prontas” de efeito bombástico e apocalíptico, mal alinhavadas, entremeadas por “ameaças dos céus e fúria divina”, ficamos pensando como eram diferentes os meigos e suaves métodos pedagógicos de Jesus, que jamais praticou proselitismo de arrastão, dizendo mesmo que o Reino dos Céus não será tomado pelos violentos.
Os evangelistas nos dão notícias das vezes sem conto que Ele abandonava a multidão e Se isolava no silêncio da meditação, buscando a comunhão com o Pai nas molduras dos altiplanos da Natureza exuberante, e quando voltava desses longos e reconfortantes colóquios, a ninguém agredia com ensinamentos estapafúrdios.
Na cruz atendeu a Dimas que Lhe rogava socorro e piedade, mas não teve a pretensão de salvar a Giestas que se comprazia nas faixas sombrias da morte espiritual em que vegetava (1). Ante Pilatos que indagava sobre a verdade, Ele fez silêncio (2)...
Jesus é assim... Doce, meigo, coerente, terno, manso e senhor de intraduzível senso de oportunidade. Só ensinava e esclarecia quando sentia que o campo estava propício para a semeadura, inclusive aconselhando aos Seus discípulos imediatos a não semear em terra sáfara quando lhes recomendou (3): “não ireis pelos caminhos das gentes, nem entrareis em cidades dos samaritanos; mas ide antes às ovelhas perdidas da casa de Israel”.
Eis que Ele está à porta e bate, mas se nós não abrimos, Ele não arromba, não insiste, “não atira pérolas aos porcos”; aguarda o momento mais adequado…
O Espiritismo, ratificando hodiernamente os Seus ensinos, segue, também, o Seu “modus-operandi”, por isso Allan Kardec desaconselha os expedientes proselitistas, aconselhando (4): “deve-se deixar à Providência o encargo de preparar (aos refratários) as circunstâncias favoráveis. Não faltam os que anseiam pelo recebimento da luz, para que se esteja a perder tempo com os que a repelem. Dirigi-vos, portanto, aos de boa vontade, cujo número é maior do que se pensa, e o exemplo de suas conversões, multiplicando-se, mais do que simples palavras, vencerá as resistências”.
Assevera Marco Prisco (5): “(…) não solucionaremos todos os problemas das Almas à nossa volta, vez que “cada um recolhe as bênçãos da própria sementeira.” (6)
Tu não transformarás o deserto em jardim de esperanças e nem o charco em paraíso a golpes apressados de boa intenção. Para recolher os frutos das árvores é necessário aguardar a dádiva do tempo e esperar que cada espécie se repita através da qual a identificarás. E assim também são as criaturas... É possível que as tuas sugestões encontrem guarida e apoio nos corações. No entanto, convém não insistires demasiadamente. Tudo tem o seu tempo…
As pessoas vivem nas faixas psíquicas de sintonia onde colocam as aspirações e mantêm os pensamentos. Criando sempre, a força mental elabora as vibrações-paredes que limitam e aprisionam os dínamos psíquicos que as vitalizam.
Há aqueles que reclamam sempre. Na sua opinião tudo está errado, todos são defeituosos. Respiram na faixa da crítica destruidora, tecendo cipós vigorosos que relham e ferem indiscriminadamente; outros transformam o coração em taça de fel onde guardam o ácido do ódio. Intratáveis, vivem na faixa peçonhenta da cólera nutrindo-se do vigor da revolta envenenada; alguns se acumpliciam com ilusão e voluteiam com os enganos do sexo, demorando-se nas faixas inferiores do instinto animalizante; muitos erigem vulcões no coração e deixam-se arrastar pelas lavas do desespero, prendendo-se às faixas do crime.
Discutidores inveterados, fanáticos infelizes, comensais incansáveis, vaidosos parvos, vencedores ruidosos, perturbados pretensiosos, astutos banais, carregam os fardos das aquisições pessoais. Tem cuidado com eles. Ajuda-os... Recorda-te, porém, de Jesus e “não atires pérolas aos porcos”.
Fala, socorre, atende, mas não lhes penetres as faixas... Junto a eles serás útil; interpenetrando nas mentes deles enlouquecerás. Eles desconhecem a própria ruína moral. Acostumaram-se e são “felizes” no clima em que se nutrem, conforme entendem “felicidade”. Confia-os ao tempo e faze como a luz: derrama claridade, seguindo além.
Alça-te às faixas do bem, voando com as asas da prece e do amor às ampliações do bem vitorioso”.
Jesus, conforme instrução (7) dos Benfeitores Espirituais a Allan Kardec, é o nosso “Modelo e Guia mais perfeito” e, por isso mesmo, nós que anelamos ser Seus discípulos teremos que seguir-Lhe as pegadas de luz e muitas vezes teremos, também, que imitar os Seus silêncios ante aqueles que ainda não amadureceram para as verdades mais amplas das quais Ele foi, é e será sempre o Mensageiro Divino.
Rogério Coelho
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Referências Bibliográficas:
- Lc., 23:42;
- Jo. 18:38;
- Mt., 10:5 e 6;
- KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 71.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2003, cap. III, 1ª parte, § 30;
- Mensagem psicografada por Divaldo Franco em 30.04.1961, na cidade de São Lourenço – M.G;
- Mt., 16:27;
- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 88.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2006, q. 625.