Quem não deseja saber como modificar o seu próprio destino? Quem não aspira obter revelações sobre o futuro para, de posse destes informes, construir com mais segurança a sua própria caminhada? Quem não almeja tomar de maneira absoluta as rédeas de sua própria vida e seguir conforme seus anseios, ao sabor de seus próprios ventos, segundo apenas o seu livre–arbítrio?
Poderíamos iniciar perguntando: do ponto de vista espírita há destino? Os nossos dicionários, de modo geral, definem destino como um conjunto de acontecimentos alcançando-nos de modo inevitável, implacável, como sinônimo de fatalidade, sina, sorte.
Dentro desta linha de entendimento, em princípio, não poderíamos alterar o desfecho de nossa existência, pois não teríamos como modificar as circunstâncias, ou conjunção de fatos, a nos atingir fatalmente, mais cedo ou mais tarde.
Com efeito, se assim fosse, não haveria mérito, tampouco responsabilidade sobre qualquer ato, considerando não ser possível escapar ou enganar o implacável destino. Tudo que fizéssemos, de bom ou de mau, em nada mudaria a nossa sorte, muito menos a daqueles a quem endereçássemos nossos esforços e ações.
Outrossim, perguntamos: por qual razão possuímos livre-arbítrio? Esta faculdade que tem o Espírito para determinar sua própria conduta, construída cuidadosamente ao longo de numerosas encarnações, seria totalmente inútil e ineficaz, uma vez que o seu exercício se mostraria impotente para alterar a realidade futura. Adicionalmente, a Lei do Progresso não faria mais nenhum sentido: afinal, progredir para quê, se o futuro está delineado?
É oportuno conhecer as pouquíssimas propriamente ditas fatalidades. Elencamos aquelas recolhidas até o momento da consoladora Doutrina:
- Atingir a plenitude da evolução, representada pela aquisição de uma perfeição relativa, ou seja, o fatalismo da evolução é para o equilíbrio, a ordem, o bem, e a destinação é para a felicidade.
- O instante da morte é uma fatalidade, uma vez que, dele, não se pode escapar, e o momento em que devemos reaparecer também o é.
- Vivenciar provas, expiações ou missões, previamente selecionadas e discutidas na erraticidade, conjugando as deliberações do livre-arbítrio e as ponderações dos Espíritos responsáveis pela nova reencarnação, tudo baseado no mapa de realizações construído em existências passadas do futuro reencarnante. Como exemplos temos: gênero ou causa da morte, doença específica surgindo em determinado momento de nossa próxima existência, significativo revés econômico, dificuldade familiar de monta, grandes dores morais como resultado de infortúnios diversos, limitação física de nascença oriunda de uma deficiência perispiritual, ou seja, alguns aspectos materiais na existência podem constituir fatalidades.
Contudo, vale a pena lembrar, as consequências da vivência destas escolhas ou determinações dependem da forma como o Espírito enfrenta estas situações, ou seja, os efeitos morais dos acontecimentos nunca são fatais.
É interessante ponderar que mesmo estes grandes marcos materiais em nossa existência podem sofrer ajustes, dependendo da forma como aproveitamos as oportunidades oferecidas pela vida. Assim, a época ou gênero da morte poderia ser alterada.
- Há considerável fatalidade nos reinos mineral e vegetal; nestas fases da evolução quase tudo acontece segundo as leis básicas que regem a matéria – químicas, físicas e biológicas.
É pertinente esclarecer sobre o uso cotidiano do conceito de fatalidade, pois em linhas gerais está completamente desvirtuado. Os acidentes espetaculares causando mortes não estão nos desígnios de Deus, quando o autor estava: embriagado ou drogado, dirigindo em velocidades acima do permitido, com veículo adulterado em seus componentes básicos, não possuía habilitação, ocorrendo nestes casos apenas a imprudência do agente. Se estes acidentes fossem fatais, predeterminados, o responsável teria renascido com a “missão” de matar um semelhante, impondo Deus previamente uma conduta absurda ao causador do desastre.
A propósito, jamais deveremos bater às portas dos chamados magos, bruxas, videntes ou adivinhos, os autointitulados profetas, para nos informar sobre o que está por vir. De modo geral estes exploradores da fé e da ignorância popular, nada mais são do que aplicados aproveitadores, astutos interlocutores, a maioria nem sequer é médium, não possuindo qualquer dom para nos instruir sobre o porvir.
Informações sobre o futuro, quando úteis, são apresentadas de forma natural, sem que a pessoa pergunte ou mostre interesse em conhecer. Às vezes, podem ser reveladas, mas em caráter particular e sem qualquer expectativa de remuneração.
Como se denota, as fatalidades são em número muito reduzido, relacionando-se a acontecimentos e não a resultados, e não poderia ser diferente; se assim não fora seríamos “autômatos” sem qualquer controle sobre as nossas existências. Contudo, não nos iludamos, há certos compromissos assumidos antes de reencarnar, poucos, que não podendo ser alterados. Sendo assim, a visão espírita no que tange a este fascinante tema é intermediária entre os extremos do tudo está escrito e do seu oposto, nada está escrito, tendendo para o último, ou seja, pouco está escrito.
Podemos alterar o destino? Sem sombra de dúvida! Trabalhando dedicadamente agora no presente, esforçando-nos para aprender e agir corretamente, criamos condições de esperar um futuro melhor e diverso de qualquer leviano prognóstico que porventura nos tenha sido informado, porquanto, com a existência do livre-arbítrio e da razão há sempre parcial fatalidade.
A obra divina é perfeita, razão por que há harmonia e estabilidade entre conceitos aparentemente tão antagônicos, tais como: destino, fatalidade e o livre-arbítrio.
Somos Espíritos imortais, já tivemos e ainda teremos inúmeras existências. Comparando este conjunto de vivências corporais que individualizam a caminhada evolutiva dos Espíritos à a um livro, a introdução e os capítulos iniciais já estão preenchidos pela história passada de cada qual, não podem mais ser alterados, muito menos apagados, influenciando por largo tempo a trajetória de cada um.
Em seguida, ainda considerando esta alegoria, há vários capítulos em branco, em que qualquer um deles contempla pelo menos duas previstas fatalidades – o nascimento e a morte – e, no derradeiro, há poucas linhas escritas, descrevendo a fatalidade maior, o nosso destino, a aquisição da perfeição relativa.
Como a maior parte das páginas do nosso livro da vida ainda não foi preenchida, cabe-nos “recheá-las” caprichosamente e com sabedoria, tendo como modelo e guia os inesquecíveis exemplos do Incomparável Amigo Celestial.
Rogério Miguez
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