Nos dias atuais, após dois mil anos de Jesus, ainda encontramos muitos cristãos ignorando ou se questionando acerca dos requisitos para segui-lO, argumentando que são outros tempos e os desafios são diferentes.

Em que pese a distância temporal do período em que o Mestre Nazareno esteve encarnado na Terra, observa-se que as lutas internas da criatura humana e os desafios morais são os mesmos, havendo ainda muito desamor, de forma que o convite de Jesus continua atual e estabelece quais são as condições para segui-lO de maneira eficaz1: Se alguém quiser vir após mim, negue a si mesmo, tome sobre si a sua cruz e siga-me.

Quando o Mestre propõe Se alguém quiser vir, nota-se que estamos diante de um convite, não havendo qualquer imposição e exigência, porque cabe a cada indivíduo refletir acerca da mudança de rumo em sua vida, fazendo a lúcida opção de seguir as diretrizes libertadoras e nobres do Evangelho.

Note-se que o Pai Celestial não impõe nada aos Seus filhos, mas, ao nos criar, dotou-nos do seu potencial divino e nos fez imortais, aguardando que o tempo, as dificuldades, as experiências nobres e a lei abençoada da reencarnação promovam o progresso individual, porque chegará para todos o momento em que optarão voluntariamente por seguir Jesus, cujos ensinamentos refletem as leis harmônicas e justas de Deus.

É facilmente perceptível que não se muda ninguém com violência e imposição, de forma que, nas relações humanas, devemos respeitar o livre-arbítrio de cada irmão de jornada evolutiva, embora tenhamos o dever moral de exercitar a tolerância quando discordamos de suas escolhas.

Convém recordar a atitude de Jesus diante de Judas, pois, mesmo sabendo que ele O trairia, não o impediu e nem usou de violência para persuadi-lo, sabendo que as leis divinas se encarregariam de despertá-lo, com o passar do tempo e sem pressa.

Jesus, em Seu convite, ainda disse que era necessário vir após Ele, haja vista que, em nossas vidas, sempre deveremos seguir os Seus exemplos de amorosidade, ternura, paz, alegria e caridade, portanto, o Rabi é o nosso Modelo e Guia.2

Assim sendo, quando houver divergência entre o que pensamos e o que ensina Jesus, devemos empreender esforços para concluir que o melhor para nós é agir consoante os Seus padrões, porque Ele deve estar sempre à frente, servindo de referência segura e exitosa para a nossa plenitude.

No convite de Jesus também é sugerida a negação de si mesmo, portanto, deveremos superar o egoísmo que ainda vige em nossas condutas e ideais, a nos distanciar da verdadeira felicidade e das lições do Evangelho.

Allan Kardec questiona os Benfeitores Espirituais sobre o egoísmo3, tendo eles dito que é o vício mais grave, pois dele deriva todo o mal.

De fato, quando o interesse pessoal está acima de tudo e de todos, causa um enorme dano moral na vida do ser egoísta, sendo capaz de destruir casamentos, relações afetivas, ideais, vidas etc.

Os ensinos de Jesus propõem o amor ao próximo, que é incompatível com o egoísmo, que levará o indivíduo a realizar algo que é melhor para ele, sem consideração com o outro, fomentando o orgulho, o personalismo e a frieza de sentimento.

Não podemos esquecer que Jesus também ensina o autoamor, que significa fazer escolhas para si com o escopo de evolução espiritual e de cuidados com o corpo, sem exageros, metas doentias e sem prejudicar o próximo, sempre valorizando a vida dentro dos ideais nobres e amorosos.

Dizem os guias da Humanidade4 que à medida que o homem se esclarece sobre as coisas espirituais menos valor dá às coisas materiais, de forma que através da educação conseguirá extirpar o egoísmo do coração.

Combatendo o egoísmo através do processo educacional da reforma íntima, estaremos nos ajustando ao convite do Cristo, a fim de que possamos viver como irmãos, quando5 o forte será o apoio e não o opressor do fraco, ajudando na instalação do reino do bem na Terra.

Na proposta de Jesus ainda consta que temos que carregar a cruz, o que significa que não há privilégio nessa empreitada, pois as dificuldades e os desafios fazem parte da caminhada evolutiva.

Ademais, estamos num mundo de provas e expiações, de forma que teremos que vivenciar os sofrimentos que decorrem dos erros do passado, desta e/ou de outras reencarnações, e da necessidade de aprimoramento das virtudes, cabendo-nos a exemplificação da resignação e do bem sofrer, orando e confiando em Deus.

O cristão sempre será chamado ao testemunho pessoal, quando demonstrará a aceitação do convite do Cristo através da conduta digna, exemplar e nobre, conforme nos ensinaram os cristãos primitivos, que sofreram perseguições, agressões e muitos deram as suas vidas, nas arenas romanas, cantando hinos de louvor a Jesus.

Aliás, Aquele que fez o convite (Jesus) também padeceu na mão de homens insensíveis e incapazes de entender Seu clamor, mas deu o exemplo de amor e confiança no Pai Celestial, regressando após a morte física, dando-nos a prova da imortalidade da alma, a ratificar que todo sofrimento em nome do bem será coroado de bênçãos e luzes.

Dessa forma, qualquer cristão terá que carregar a sua cruz, sem revolta. O Espiritismo ainda nos esclarece sobre a fé na vida futura, portanto, qualquer que seja a luta, saibamos que tudo é passageiro na Terra e nunca nos falta socorro espiritual, pois Aquele que fez o convite não nos desampara e vela por nós.

Por fim, o convite do Rabi é incisivo ao dizer: Siga-me, o que significa que não basta aceitá-lO e dar alguns passos. É necessário seguir com fidelidade, estando vigilante e em oração, uma vez que os desafios atuais, internos e externos, são imensos.

Recordo-me do querido orador espírita Divaldo Pereira Franco, que, em algumas ocasiões, pediu para que sempre orássemos por ele, desde que, numa caminhada longa como a jornada terrestre, é possível tropeçar nos últimos passos, dada a nossa fragilidade.

No Movimento Espírita, assim como em outras religiões cristãs, temos visto alguns indivíduos que vinham realizando excelentes tarefas no bem, mas que, por descuido ou fragilidade, adotam atitudes equivocadas e tropeçam, depois de haverem caminhado algum tempo nas diretrizes do Cristo.

Estamos sujeitos a esses desvios de caminhos. Então, não olvidemos a fala amorosa do Mestre: Siga-me, valendo a pena todos os esforços para que possamos seguir fiéis a Ele, buscando as lúcidas lições do Espiritismo, que é o Cristianismo redivivo.

Por essa razão, Allan Kardec, na Revista Espírita, em diversos textos, fez questão de afirmar que o espírita, naturalmente por ser cristão, deve seguir fielmente a moral cristã, pois somente dessa forma estará trabalhando em prol da sua evolução espiritual, devendo o convite de Jesus ecoar permanentemente em nossas mentes e corações, repercutindo em nossas atitudes e escolhas, pois os requisitos para segui-lO são os mesmos ontem, hoje e amanhã.

 

Referências:

  • BÍBLIA, N. T. Mateus. Português. O novo testamento. Tradução de João Ferreira de Almeida. Rio de Janeiro: Imprensa Bíblica Brasileira, 1966. cap. 16, vers. 24.
  • KARDEC, Allan. O livro dos Espíritos. Rio de Janeiro: FEB, 1974. pt. 3, cap. 1, q. 625.
  • cit. pt. 3, cap. XII, q. 913 a 917.
  • cit. pt. 3, cap. XII, q. 914.
  • cit. pt. 3, cap. XII, q. 916.

Alessandro Viana Vieira de Paula

www.mundoespirita.com.br

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