Yvonne do Amaral Pereira Yvonne Pereira nasceu a 24 de dezembro de 1906, num sítio nos arredores da Vila de Santa Teresa, município de Valença, Estado do Rio de Janeiro, na Cidade de Rio das Flores. Seu nascimento, segundo informações do próprio médico, aconteceu depois de um baile na residência de sua avó materna. Eram seus pais Manoel José Pereira, pequeno negociante, e Elizabetti de Amaral Pereira. Seus tetravós, portugueses de nascimento, assim como seu bisavô, judeus batizados e cristianizados em Portugal, emigraram para o Brasil, fugindo das perseguições dos inquisidores. Também descendia de índios brasileiros da tribo Goitacás, por parte da bisavó materna, encontrada perdida nas matas do Norte do Estado do Rio, com aproximadamente cinco anos de idade, durante uma caçada promovida por seu tetravô, rico fazendeiro português no Brasil. Teve 5 irmãos, todos mais moços, e um mais velho, filho do primeiro matrimônio da sua mãe. Manoel José Pereira, pai de Yvonne, não foi bom comerciante. Por três vezes, tentou manter um negócio e se arruinou, uma vez que favorecia os fregueses em prejuízo próprio. Por isso, desistiu do comércio e foi ser funcionário público, situação em que desencarnou em janeiro de 1935. Devido à situação financeira de sua família, Yvonne foi criada em um ambiente pobre, lutando com inúmeras dificuldades. Com isso, ela aprendeu a viver modestamente, numa condição social humilde. Mesmo assim, seu pai, de coração muito generoso, hospedava, em sua casa, pessoas necessitadas, destituídas de recursos, e, até mesmo, mendigos, alguns dos quais foram sustentados por longo período. Tais experiências de vida, Yvonne considerou benéficas, pois a ajudaram a compreender as necessidades do próximo. Até os 10 anos de idade, ela viveu sob os cuidados da avó paterna, devido às possíveis anormalidades que se lhe apresentaram na infância e que, soube posteriormente, vieram de outras vidas. Após os 10 anos, passou a habitar com os pais, vivendo em várias localidades do Estado de Minas Gerais. Com a desencarnação dos pais, Yvonne Pereira voltou ao Estado do Rio de Janeiro, passando a viver com a irmã casada Amália Pereira Lourenço. Yvonne Pereira possuía o grau de instrução primário, o que lhe causou sérios problemas. Seu pai, funcionário público, não ganhava o suficiente para dar um curso completo à filha, além de, naquele tempo, serem raras as escolas secundárias no interior do Brasil. Ela sentia que tinha vocação para o magistério e a Literatura. Por isso tomou-se uma autodidata. Estudava sozinha até altas horas da madrugada. Eis o que ela mesma relata a respeito de uma fase de sua infância: "Lia tudo que me viesse à mão, geralmente leituras aproveitáveis. E assim muito aprendi. Aos 8 anos li o primeiro romance: era "Marieta e Estreia", romance espírita, clássico, com um trecho desenrolado na Espanha. (...). Daí em diante pus-me a ler outros, profanos, tais como "A Escrava Isaura", de Bernardo Guimarães; "Iracema" e "Ubirajara", de José de Alencar; "Elzira", de cujo autor já não me lembro; "Paulo e Virgínia", de Bernardin de Saint-Plerre; etc. e mais tarde livros espíritas e outros profanos, como "Werther", de Goethe, aos 14 anos, e "Eurico, o Presbítero", de Alexandre Herculano, na mesma época. Porque fossem livros emprestados de outrem, eu os copiava todos, a mão, em cadernos de papel manilha, que eu mesma fazia. Minha mãe fechava os olhos a essa mania. Seu pai nunca soube, pois tudo isso eu ocultava dele, visto que ele não concordava em que eu lesse romances, devido a minha pouca Idade. Mas esse exercício foi excelente para mim, aprendi muito, tomei gosto peia literatura (...)." (REF0RMAD0R, fevereiro, 1982.). Aos doze anos de idade, já escrevia fluentemente sobre literatura, e de forma tão rápida que, mais tarde, veio a identificar como fenômenos de psicografia. O que conseguiu aprender além do primário foi um pouco de música com um professor, por sinal excelente, chegando a dedilhar o piano. Pelos mesmos motivos, entretanto, teve de renunciar a esse ideal. Daí dedicar-se às prendas domésticas, como acontecia com a maioria das jovens da sua época: pinturas, bordados, costuras, crochês, flores etc. Sua educação foi severa, afastada do convívio social, o que a fez viver em recolhimento. Se por um lado esse tipo de vida lhe favoreceu os dotes mediúnicos, por outro lado causou-lhe uma excessiva timidez, dificultando-lhe as tomadas de decisão quando, mais tarde, teve de viver sozinha. Yvonne Pereira nasceu em ambiente espírita. Seu pai se tornou espírita, embora não militante, bem antes do seu nascimento. Dele recebeu as primeiras lições de doutrina e prática de Espiritismo e do Evangelho, em reuniões semanais de estudo, nas quais se reunia com todos os filhos. Conta ela que, logo após seu nascimento, seu pai, irreverentemente, fez, a um médium seu conhecido, uma pergunta que, ainda hoje, muitas pessoas fazem: — "Perguntai aos Espíritos quem foi esta menina em outra existência..." O médium, atendendo ao pedido, concentrou-se por alguns minutos e deu a seguinte resposta: — "Ela teve uma existência em que foi camponesa na Bélgica... Seu passado foi tumultuoso..." Tal revelação foi confirmada mais tarde. Ao completar 12 anos de idade, recebeu de seu pai um exemplar de "O Evangelho segundo o Espiritismo" e outro de "O Livro dos Espíritos", ambos de Allan Kardec, e que se tornaram no decorrer da vida, seus livros preferidos, de toda a bibliografia espírita. Aos 13 anos de idade, conforme ela própria declara, Yvonne Pereira começou a participar de reuniões práticas de Espiritismo. Assistia a tudo, encantada com o que via e ouvia dos Espíritos, principalmente das mensagens do Espírito Bezerra de Menezes. Ela mesma assim se expressa a respeito da sua experiência ainda na adolescência; "Fiz, assim, um grande aprendizado de prática espírita desde a adolescência, o qual muito tem valido aos meus variados desempenhos na seara espírita." A mediunidade apresentou-se em minha vida ainda na infância, conforme relato em o livro "Recordações da Mediunidade". Com um mês de idade, ia ser enterrada viva devido a um fenômeno de catalepsia, "morte aparente", que sofri, fenômeno que no decorrer de minha existência repetiu-se muitas vezes. Aos 5 anos eu já via Espíritos e com eles falava, e assim continuei até os dias presentes. (REFORMADOR, janeiro, 1982.) Na primeira vez que participou de uma reunião prática sentada à mesa, Yvonne Pereira recebeu uma mensagem do Espírito que se identificou pelo nome de Roberto de Canalejas, tratando sobre o tema suicídio. Este Espírito já lhe aparecia desde a primeira infância e com ela falava. A faculdade de desdobramento já se apresentava, também, nessa fase. A psicografia vem surgir mais tarde e, com ela, Yvonne Pereira trabalhou a vida inteira, ou seja, de 1926 a 1980, como receitista homeopata assessorada pelos Espíritos Bezerra de Menezes, Bittencourt Sampaio, Augusto Silva, Carlos Roberto de Canalejas, e outros cujos nomes nunca foram identificados. De acordo com a classificação de Allan Kardec em "O Livro dos Médiuns", Yvonne Pereira pertencia às categorias de: conselheiro, psicanalista, passista, de efeitos físicos e incorporação (falante). Esta última faculdade, dedicada aos casos de obsessão e de suicidas. Como médium de materialização luminosa, diversos fenômenos foram provocados, mesmo a sua revelia, em sessões de que participou como assistente. Este tipo de mediunidade não lhe interessou muito, não participando das mesmas em cabine ou com outra qualquer formalidade. Yvonne Pereira sempre seguiu as orientações dos livros básicos da Codificação e, também, os conselhos de seus guias espirituais. Entre os orientadores encarnados, ela destaca o eminente espírita de Barra Mansa, Zico Horta, que a instruiu no início de sua mediunidade. E foi através dessa tarefa, exercida sem interrupção, que ela, durante 54 anos e meio, exerceu o receituário e os passes de cura. Praticou a cura de obsidiados, não só em recintos espíritas em sessões preparadas, como, auxiliada por outros médiuns, na própria casa dos doentes. Amava os obsessores e era por eles respeitada. Sempre orou muito por eles. A respeito de sua forma de encarar o Espiritismo e a sua mediunidade, ela declara: Conservei-me sempre espirita e médium muito independente, jamais consenti que a direção dos núcleos onde trabalhei bitolasse e burocratizesse as minhas faculdades mediúnicas. Consagrei-as aos serviços de Jesus e apenas obedecia, irrestritamente, à Igreja do Alto, e com elas exercia a caridade a qualquer dia e hora em que fosse procurada pelos sofredores. Para isso aprofundei-me no estudo severo da Doutrina, a fim de conhecer o terreno em que caminhava e conservar com razão a minha independência. No entanto, observei a rigor o critério e os horários fixados pelos poucos centros onde servi, mas jamais me submeti à burocracia mantida por alguns. Se não me permitiam atender necessitados no centro, por isso ou por aquilo, em determina dos dias, eu os atendia em qualquer outra parte, fosse em minha residência ou na deles, e assim consegui curas significativas, pois aprendi com o Evangelho e a Doutrina Espírita que não há hora nem dia para se exercer o bem. (REFORMADOR, janeiro, 1982.). Em certa época de sua vida, no Rio de Janeiro, Yvonne Pereira morou apenas com uma amiga em um pequeno apartamento no bairro Lins de Vasconcelos. Por esse tempo, ofereceu sua colaboração como espírita e médium a algumas instituições espíritas. Mas não foi aceita por nenhuma delas. Então, organizou o que denominou Posto Mediúnico, em sua própria residência, provendo-o de remédios homeopatas a sua própria custa. Passou a trabalhar sozinha. Fazia o culto do Evangelho do Lar diariamente, acompanhada de seus guias espirituais, uma vez que a companheira de apartamento abominava o Espiritismo. Além disso, aplicava injeções em doentes pobres, costurava para eles e fornecia-lhes medicamentos, tudo gratuitamente. Durante 8 anos desenvolveu este trabalho assistencial, principalmente com os moradores de uma favela próxima do bairro em que residia. Yvonne Pereira trabalhou como médium em vários centros: ainda bem jovem no Centro Espírita de Lavras (mais tarde Centro Espírita Augusto Silva), da cidade de Lavras, em Minas Gerais; no Grêmio Espírita de Beneficência, de Barra do Piraí, Estado do Rio de Janeiro; durante longo tempo na Casa Espírita, de Juiz de Fora, em Minas Gerais; durante dois anos no Centro Espírita Luiz Gonzaga, de Pedro Leopoldo; na União Espírita Suburbana, do Rio de Janeiro, antigo Estado da Guanabara. No ambulatório anexo desta última instituição, dirigido pelo Dr. Otávio Fernandes, serviu, ainda, como médium de atração de obsessores de indivíduos com perturbação psíquica caracterizada por assédio de Espíritos. Yvonne Pereira desenvolveu, igualmente, a mediunidade oratória. Como tal, esteve presente na tribuna espírita no local onde residia do ano de 1927 até o ano de 1971, afastando-se deste setor, segundo ela mesma declara, mas não explica a razão, por ordem dos mentores espirituais. Dedicou-se à produção de obras mediúnicas em livros, através de crônicas, contos, crônicas, novelas e romances. Além de reproduzir textos enviados pelos Espíritos, Yvonne Pereira produzia de sua própria lavra. Como jornalista, colaborou em vários jornais leigos e espíritas brasileiros, nesta última categoria com o pseudônimo de Frederico Francisco, numa homenagem ao seu amigo espiritual Frederico Francisco Chopin. Este Espírito, segundo ela mesma declara, já a visitava, mesmo antes de se aproximar da médium musical inglesa Rosemary Brown. Assim, ela colaborou em O Clarim, de Matão, São Paulo, no tempo de Cairbar Schutel, de quem foi grande amiga; em Luz e Verdade, de Lavras, este fundado por ela mesma e mais três amigos espíritas (Eduardo Gomes Teixeira Coelho, Antenor Barbosa, João Barbosa) e que os adversários do Espiritismo chamavam de Trevas e Mentiras, em REFORMADOR, órgão de divulgação da Federação Espírita Brasileira. Infelizmente, muitos artigos seus publicados na imprensa leiga se perderam. Ainda muito jovem, Yvonne Pereira não teve o devido cuidado de os colecionar. E em muitos jomais profanos ela colaborou, como: A Tribuna, da cidade de Lavras; O Cruzeiro, da cidade de Cruzeiro, Estado de São Paulo; A Coluna, de Campo Belo, Estado de Minas Gerais; Brasil Jornal e Jornal do Povo, de Barra do Piraí, Estado do Rio de Janeiro. Ainda em sua juventude, Yvonne Pereira recebeu sugestão dos Espíritos para se submeter, mediunicamente, ao Espírito Camilo Castelo Branco que queria dar uma importante mensagem sobre o suicídio e os suicidas. Segundo declaração da própria Yvonne Pereira, ela trouxera a incumbência de se prestar a esse trabalho, antes de reencarnar, pois se afinava com o problema por ter praticado esse ato tresloucado em vidas anteriores. Seria, portanto, uma forma de resgatar suas faltas. Camilo Castelo Branco escreveu, então, através da psicografia, o livro "Memórias de um Suicida", em 1926, mas só publicado, 30 anos depois, ou seja, em princípios de 1956. Atualmente, essa obra é considerada um monumento da bibliografia mediúnica no Brasil. Pode ser considerada um tratado sobre suicídio na visão espírita. Além desse, recebeu, também: "Nas Telas do Infinito", dos Espíritos Bezerra de Menezes e Camilo Castelo Branco; "Amor e Ódio", do Espírito Charles, que afirmou ter sido seu pai em vida anterior; "A Tragédia de Santa Maria", romance brasileiro do Espírito Bezerra de Menezes; "Nas Voragens do Pecado", de Charles; "Devassando o Invisível", sob a assistência do Espírito Charles e a supervisão do Espírito Bezerra de Menezes; "Ressurreição e Vida", do Espírito Léon Tolstoi; "Dramas da Obsessão", do Espírito Bezerra de Menezes; "Recordações da Mediunidade", sob a assistência e supervisão do Espírito Bezerra de Menezes; "A Família Espírita", "Evangelho aos Simples", "A Lei de Deus", "Contos Amigos" e "O Livro de Eneida", sob a supervisão do Espirito Bezerra de Menezes e assistência dos Espíritos Charles e Léon Tolstoi; "O Drama da Bretanha" e "O Cavaleiro de Numiers", do Espírito Charles; "Sublimação", dos Espíritos Léon Tolstoi e Charles, e ainda, "Pontos Doutrinários", uma coletânea de cónicas publicadas em REFORMADOR. Sobre o processo de como se realizou a recepção das obras mediúnicas, explica Yvonne Pereira: A fim de receber esses livros, os romances principalmente, e também "Memórias de um Suicida", seus autores espirituais retiravam meu espírito do corpo material. Levavam-me com eles para o Além ou para o país em que se desenrolaria a ação: Portugal, Espanha, França, Alemanha, Rússia e também alguns ambientes do Mundo Invisível. Conheci, assim, algumas paisagens do Mundo Espiritual e países estrangeiros terrenos, onde a ação romântica se desenrolava, em diferentes épocas e séculos. Nesses locais, eu assistia à peça a ser escrita pelos autores espirituais, com todos os detalhes, sentia as emoções de todas as personagens, contemplava colorações belíssimas, via-me em todas as cenas, mas nada fazia ou dizia, e ouvia uma voz desconhecida a narrar o drama com uma precisão e um encanto Indescritíveis, mas sem ver o narrador, e ouvia ainda tudo quanto diziam as suas personagens. Assisti, dessa forma, à célebre "Matança dos Huguenotes", na França, no ano de 1572, com detalhes Inimagináveis por todos nós. Assisti a cenas da Inquisição de Portugal, no século XVI. Visitei castelos medievais e da Renascença. Penetrei o Palácio do Louvre, em Paris, como ele devia ser ao tempo de Catarina de Médicis. Periustrel os gelos da Rússia, conheci a vida de seus camponeses e o esplendor da nobreza ali existentes durante o Império. Conheci antros de miséria e dor de toda a parte. Penetrei regiões sombrias do astral Inferior e ambiências consoladoras do astral Intermediário etc., etc. Posso dizer que o Além-Túmulo se assemelha à nossa Terra, porém, mais belo nas regiões Intermediárias e boas. Nestas, tudo é agradável e belo, e artístico. Convivi, finalmente, com meus Guias Espirituais, como se eu fora também desencarnada, ou quase isso, e revi muitos trechos do passado histórico citados em meus livros, como se se tratasse do presente. Depois de todas essas visões os autores espirituais dos livros mostrados voltavam e os escreviam, e eu os transmitia com grande facilidade, porque já conhecia o enredo e os detalhes." (Anotações feitas pela médium em 30 de julho de 1973, e publicadas no REFORMADOR de fevereiro de 1982.).  Enfim, por tudo o que realizou em sua vida de médium espírita, Yvonne Amaral Pereira pode ser considerada como uma das maiores médiuns sob todos os aspectos, dotada de valiosas faculdades sempre postas a serviço do Bem e dentro do bom senso. Exigente e desconfiada quando o fato se relacionava com o mundo espiritual, nunca aceitou nada à primeira vista, sem um exame dentro da lógica conforme preceitua a Doutrina Espírita. O matrimônio não fez parte de sua última programação terrena. No dia 9 de março de 1984, às 22 horas, aproximadamente, desencarnou Yvonne Pereira no Hospital da Lagoa, no Rio de Janeiro, onde havia sido internada poucas horas antes. O sepultamento de seu corpo ocorreu no dia seguinte, 10 de março de 1984, às 16 horas, no Cemitério de Inhaúma. Ao ato, compareceram diversos confrades e amigos, entre os quais Juvanir Borges de Souza, vice-presidente da Federação Espírita Brasileira, representando esta instituição e o seu presidente Francisco Thiesen. Na oportunidade, usaram da palavra César Augusto Lourenço Filho, seu sobrinho, e o representante da Federação Espírita Brasileira. Após, uma prece foi proferida pelo confrade Lauro de Oliveira São Thiago. (Fonte: As mulheres médiuns.)

Deixe seu Comentário