Aquiles, herói lendário da Guerra de Troia, batalha descrita na mitologia grega, encontrou a morte após ter o calcanhar atingido por uma flecha, único ponto vulnerável do seu indestrutível corpo. Esta particularidade deu origem à expressão calcanhar de Aquiles, significando uma fragilidade, qualquer que seja, – vícios, por exemplo -, na personalidade ou caráter do indivíduo, ou mesmo deficiências orgânicas mais destacadas.
Além da real possibilidade de pessoas mal–intencionadas poderem tirar proveito destas debilidades de caráter, há outra classe de aproveitadores que igualmente podem tentar prejudicar-nos: são os Espíritos desencarnados, ainda ignorantes dos princípios divinos, que, por motivos diversos, aproximam-se e conectam-se conosco através destas tomadas – as falhas morais –, explorando-as a partir do estabelecimento desta conexão fluídica.
Este mecanismo de interferência, por parte dos Espíritos do além, é conhecido por obsessão, o famoso encosto, neste caso – de desencarnado para encarnado –, uma das várias modalidades possíveis da obsessão.
Uma descrição destes assédios é apresentada na obra Ideias e Ilustrações (1), nesta descrição, são sugeridas seis opções que os obsessores podem utilizar para atrapalhar um trabalhador espírita, embora possam ser empregadas em qualquer pessoa, religiosa ou não. Vejamos quais são:
- Promover a ruína financeira: é uma “boa opção” para prejudicar aqueles ligados em excesso aos bens materiais, tendência construída em existências anteriores. São obsidiados “por natureza” pela riqueza material, já são obsidiados por eles mesmos – outra modalidade da obsessão a auto–obsessão –, desta forma, inimigos podem facilmente utilizar esta deficiência moral, para derrubá-lo. E como fazem isto? Sugerem ao incauto, por exemplo, direcionar seus tão amados e desejados bens materiais para um particular investimento financeiro que, de antemão, já sabem vai dar errado. O imprudente, por pura ganância, obedece de modo inconsciente às intuições e acaba por perder tudo.
- Atingir a família: outra “excelente medida”, pois se o indivíduo tem boa ligação com os familiares, perturbá-los, sugerindo atos e palavras acusatórias e de ingratidão, ou mesmo influenciando-os a deixar a família, podem transtornar o lidador espírita, pondo em xeque a fé em Deus e conduzindo-o ao desânimo e ao desalento. Este estado de abatimento pode estender-se do lar para as atividades espíritas, fazendo-o abandonar em definitivo suas tarefas religiosas, em razão de considerar-se esquecido e desprestigiado por Deus.
- Abalar a saúde: “ótima providência”, pois com a saúde fragilizada o atuante trabalhador pode perder o entusiasmo, julgar-se olvidado por Deus, afinal, Ele não cuida de seu fiel seguidor!? O discípulo com o corpo flagelado, pode ser presa fácil, caso descuide-se da observação dos princípios de vida aprendidos, que até então guiaram-no durante sua existência. Acamado, fica distante dos integrantes de sua grei, podendo ser afastado do centro ao qual se vincula. Esta, muitas vezes “eficaz medida”, é fortalecida quando os amigos, simpatizantes e membros dos grupos de trabalho que desenvolve na instituição esquecem-se solenemente do doente. O indivíduo, já debilitado em suas energias, pode espontaneamente abdicar de tudo, julgando-se esquecido pelos amigos.
- Incentivar calúnia, suspeita e ódio gratuito: assim agindo, empregam outra “poderosa deliberação”, considerando serem todos aqueles ainda vinculados à Terra vacilantes nas convicções, não sabendo com propriedade como lidar com acusações, mesmo reconhecendo serem indevidas na sua totalidade. Logo armam-se de contra–argumentos tentando defender o próprio nome e a honra; contudo, nestes casos, as explicações apresentadas jamais surtirão efeito, pois os acusadores foram escolhidos a dedo pelas Trevas. São aqueles em tudo enxergando o erro e o deslize moral. As justificativas, mesmo ajuizadas e cobertas de razão, dificilmente terão efeito. O resultado poderia levar o trabalhador a se ver de fato pecador, impuro, infiel, e, isolado e atormentado, afastar-se em definitivo das lides espíritas.
- Literalmente matar o laborioso espírita: esta escolha extrema poderia, igualmente, trazer “bons resultados“. A morte interromperia a jornada do dedicado ativista, contudo, este poderia também reintegrar-se com rapidez às lides do Cordeiro, agora no plano espiritual, com talvez maiores possibilidades de ajudar o próximo.
Estas propostas foram todas recusadas, entretanto, foi sugerida uma sexta ação com reais possibilidades de obter “sucesso”.
Passaram a sugerir ao assediado, através do pensamento, de modo gradual, que ele era um “zero à esquerda”. Munidos de toda sorte de insinuações, e, de modo ardiloso, incutiram na mente do escolhido que ele era insignificante, suas realizações eram destituídas de real importância, nada poderia alcançar de positivo; era, por fim, um “zé ninguém”.
Aos poucos, como é comum em processos obsessivos, a vítima foi incorporando a ideia central de que era de fato incompetente e ineficaz servidor do Cristo, foi apagando-se por dentro, até desistir em definitivo de sua particular missão. Os obsessores obtiveram êxito, atingiram o calcanhar de Aquiles do trabalhador espírita com poderosas e certeiras flechas mentais de depreciação e desdém!
Há incontáveis artimanhas utilizadas por obsessores para desestruturar, enfraquecer e desestimular àqueles que incomodam os propósitos das Trevas. As armadilhas são muitas, pois nossos calcanhares de Aquiles também o são.
Diante de quadro tão contundente, resta-nos vigiar de perto os nossos possíveis calcanhares de Aquiles, a fim de impedir ligações com as entidades por hora empobrecidas de valores morais vagando na densa atmosfera psíquica do planeta.
Rogério Miguez
Referência:
(1) XAVIER, Francisco C. Ideias e ilustrações. Diversos Espíritos. 1.ed. Rio de Janeiro: FEB, 1970. Do desânimo – O Poder das Trevas. cap. 29.
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