Anália Emília Franco nasceu em Resende - então, conhecida como Freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Resende -, no estado do Rio de Janeiro, em 1º de fevereiro de 1853. Era filha do Sr. Antônio Mariano Franco Júnior e de Dona Teresa Franco.

 Aos 16 anos de idade, entrou num Concurso de Câmara e conseguiu aprovação para exercer o cargo de professora primária. Trabalhou como assistente de sua própria mãe durante algum tempo. Em 1872, diplomou-se Normalista, em São Paulo. Após casar-se com Francisco Antônio Bastos, seu nome passou a ser Anália Franco Bastos.

 À época, em 1871, acabara de ser sancionada a “Lei do Ventre Livre” no país, quando todos os nascituros de escravas no Brasil Império a partir daquele momento eram considerados livres. Foi quando a verdadeira vocação de Anália Franco se exteriorizou: a literária. Já era notável literata, jornalista e poetisa; entretanto, chegou ao seu conhecimento que os recém-nascidos de escravas estavam previamente destinados à “Roda” da Santa Casa de Misericórdia.

 Já perambulavam pelas estradas e pelas ruas, mendicantes, os negrinhos expulsos das fazendas por impróprios para o trabalho. Nessa ocasião, trocou seu cargo na Capital de São Paulo por outro no interior, a fim de socorrer as criancinhas necessitadas. Em um bairro de uma cidade do norte do Estado paulista, conseguiu uma casa para instalar uma escola primária.

 Uma fazendeira rica lhe cedeu a casa escolar com uma condição, que foi frontalmente repelida por Anália: não deveria haver promiscuidade de crianças brancas e negras. Diante dessa condição humilhante foi recusada a gratuidade do uso da casa, passando a pagar um aluguel. A fazendeira guardou ressentimento à altivez da professora; porém, naquele local, Anália inaugurou a sua primeira e original Casa Maternal.

 Posteriormente, ela foi para a cidade e alugou uma casa velha, pagando de seu bolso o aluguel correspondente à metade do seu ordenado. Como o restante era insuficiente para a alimentação das crianças, não hesitou em ir, pessoalmente, pedir esmolas para a meninada. Partiu de manhã, à pé, levando consigo o grupinho escuro que ela chamava, em seus escritos, de “meus alunos sem mães”.

 Numa folha local anunciou que, ao lado da escola pública, havia um pequeno “abrigo” para as crianças desamparadas. Moça e magra, modesta e altiva, aquela impressionante figura de mulher, que mendigava para filhos de escravas, tornou- se um escândalo. Era uma mulher perigosa, na opinião de muitos. Porém, rugiu a seu favor um grupo de abolicionistas e republicanos, contra o grande grupo de católicos, escravocratas e monarquistas.

 Com o decorrer do tempo, deixando algumas escolas maternais no interior, foi para São Paulo. Lá entrou brilhantemente para o grupo abolicionista e republicano. Sua missão, porém, não era política. Sua preocupação maior era com as crianças desamparadas, o que a levou a fundar, em 1898, uma revista própria, intitulada Álbum das Meninas. O artigo de fundo, do primeiro número, tinha o título “Às mães e educadoras”.

 Seu prestígio no seio do professorado já era grande quando surgiram a abolição da escravatura e a Proclamação da República. O advento dessa nova era encontrou Anália com dois grandes colégios gratuitos para meninas e meninos. E logo que as leis o permitiram, ela, secundada por vinte senhoras amigas, fundou o instituto educacional que se denominou Associação Feminina Beneficente e Instrutiva, no ano de 1901 em São Paulo.

 Em seguida, criou várias “Escolas Maternais” e “Escolas Elementares”, e, em 1902, o Liceu Feminino, com o curso de dois anos para as professoras de “Escolas Maternais”, e de três anos para as “Escolas Elementares”.

 Anália Franco publicou numerosos folhetos e opúsculos referentes aos cursos ministrados em suas escolas, tratados especiais sobre a infância, nos quais as professoras encontraram meios de desenvolver as faculdades afetivas e morais das crianças, instruindo-as ao mesmo tempo. O seu opúsculo “O Novo Manual Educativo” era dividido em três partes: Infância, Adolescência e Juventude.

 Em 1º de dezembro de 1903, passou a publicar a revista mensal A Voz Maternal. Anália mantinha escolas e creches na Capital e no interior, além de bibliotecas, maternais, cursos profissionalizantes, etc., totalizando 37 instituições.

Escreveu diversos livretos para a educação das crianças e para as Escolas, os quais são dignos de serem adotados nas escolas públicas. Era espírita fervorosa, revelando sempre inusitado interesse pelas coisas atinentes à Doutrina Espírita.

 Em 1911, conseguiu, sem qualquer recurso financeiro, adquirir a “Chácara Paraíso”, na qual fundou a Colônia Regeneradora D. Romualdo, internando ali sob direção feminina, os garotos mais aptos para a lavoura, a horticultura e outras atividades agropastoris, recolhendo, ainda, moças ‘desviadas’, conseguindo assim regenerar centenas de mulheres.

 Em sua visão de futuro, Anália criou a Associação de molde a suprir previsíveis deficiências da época: já nos Estatutos incluiu a criação de Liceus para formarem suas professoras; ela própria escreveu os livros didáticos e pedagógicos, raros em língua portuguesa, e montou uma tipografia para imprimi-los; criou meios de subsistência para suas Instituições, de modo a não depender exclusivamente de auxílios e subvenções, procurou não só asilar o desprotegido, mas dar-lhe independência profissionalizando-o e devolvendo-o à sociedade como cidadão útil, pronto a colaborar, nunca a pedir.

 A vasta sementeira de Anália Franco consistiu-se em 71 escolas, dois albergues, uma colônia regeneradora para mulheres, 23 asilos para crianças órfãs, uma Banda Musical Feminina, uma orquestra, um Grupo Dramático, além de oficinas para manufatura de chapéus, flores artificiais, etc., em 24 cidades do interior e da Capital Paulista.

 DESENCARNE

 Anália Franco morreu no dia 20 de janeiro de 1919, em São Paulo, aos 66 anos, vitimada pela gripe espanhola. Sua desencarnação ocorreu precisamente quando havia tomado a deliberação de ir ao Rio de Janeiro fundar mais uma instituição, o “Asilo Anália Franco” - ideia essa concretizada posteriormente pelo seu esposo.

 Considerando a época em que viveu, na qual a mulher era preparada para as atividades do lar e o desempenho da maternidade, pode-se dizer que Anália Franco foi uma mulher ousada e que viveu além do seu tempo, ao realizar uma obra sem parâmetros, que proporcionou benefícios para milhares de órfãos, viúvas, crianças desamparadas e toda gama de desprotegidos da sorte.

 O título “Grande Dama da Educação Brasileira”, criado em sua homenagem, evidencia que ninguém na história pátria mais o mereceu que Anália Franco. Do Amazonas ao Rio Grande do Sul, passando pelo norte, nordeste, sertão mineiro, sudeste, nos idos tempos do começo do século, no engatilhar da comunicação escrita, sua fama correu de cidades grandes a pequenos burgos através do periódico A Voz Maternal, mensageiro de sua exemplar obra de educação e filantropia.

 Nesta sublime caminhada fez-se empresária, empreendedora, escritora, jornalista, educadora, teatróloga, literata, feminista, republicana, abolicionista e espírita vigorosa, numa época de grande domínio clerical. Anália manteve tão profícuas e variadas atividades durante sua vida com seu talento multifacetário, seu coração inclinado à solidariedade humana e sua determinação pertinaz, que parece que seduzia a uns, mas afastava a outros, por se tratar de uma mulher que fugia totalmente aos padrões da época e por realizar uma obra que muitos homens juntos não conseguiram.

 Sua obra foi, incontestavelmente, uma das mais salientes e meritórias da história do Espiritismo.

 Fontes:

- MONTEIRO, Eduardo Carvalho, “Anália Franco - A Grande Dama da Educação Brasileira”, Editora Eldorado Espírita, 1ª edição, São Paulo, abril de 1992;

- GODOY, Paulo Alves, “Grandes Vultos do Espiritismo”, Edições FEESP.

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