Segundo aprendemos na Doutrina Espírita, Emmanuel (mentor de Francisco Cândido Xavier) e Públio Lentulus são a mesma individualidade. Públio era senador romano e vivia na Palestina, no tempo em que Jesus cumpriu ali Sua missão. Sua história é narrada no romance Há 2000 anos, publicado pela FEB. O orgulhoso senador teve oportunidade de falar pessoalmente com o Cristo, numa passagem difícil de sua existência, mas, segundo ele, deixou escapar aquele momento sagrado, desprezando a vereda de luz que o divino Amigo lhe fizera entrever.

A pedido de Lívia, sua esposa, Públio fora, a contragosto, à procura do sublime Rabi para solicitar-lhe a intervenção em favor da filhinha querida, que se encontrava adoentada. Depois de caminhar longo tempo sem O encontrar, sentou-se em um banco de pedra e deixou-se ficar ali, abismado em suas cogitações, enquanto a noite cobria a região com seu velário imenso. Em dado momento, porém, sob suave torpor, pareceu-lhe haver sido arrebatado em espírito, quando percebeu os passos de alguém: era Jesus que se aproximava de mansinho e o olhava com profunda compaixão.

Envolto por estranho magnetismo, Públio deixou que lágrimas ardentes lhe caíssem dos olhos, enquanto uma força poderosa o fez ajoelhar-se na relva prateada de luar. O entendimento entre ambos que se segue é um dos mais belos já registrados na literatura terrena. Jesus o concita a aproveitar aquele glorioso momento – naquele instante ou daí a alguns milênios –, e lhe promete a cura da filhinha, graças à fé e ao amor presentes no coração de sua esposa. Passado o êxtase, o orgulhoso senador retorna às sombras de sua personalidade terrena e, desprezando aquele minuto decisivo em sua vida, sente-se amargamente humilhado por haver dobrado os joelhos diante daquela figura extraordinária, fato que sobrepôs-se à própria alegria de chegar em casa e ver a filhinha convalescente nos braços da esposa.

“Para mim [diz Emmanuel, no romance citado] essas recordações têm sido muito suaves, mas também muito amargas. Suaves pela rememoração das lembranças amigas, mas profundamente dolorosas, considerando o meu coração empedernido, que não soube aproveitar o minuto radioso que soara no relógio da minha vida de Espírito, há dois mil anos.”

Após uma vida longa e atribulada, Públio desencarna no ano 79, sob os escombros de Pompeia, quando o Vesúvio entrou em erupção.

A página seguinte é uma das mais belas descrições de Jesus em todos os tempos. Dizem historiadores que foi encontrada no arquivo do Duque de Cesarini, em Roma. É uma carta atribuída a Públio Lentulus, então procônsul na Judeia, e foi enviada de Jerusalém ao imperador Tibério César para informá-lo dos acontecimentos na Palestina. Foi traduzida para vários idiomas, publicada em jornais e revistas e distribuída, aos milhares, em forma de folheto.

Eis uma de suas mais divulgadas versões:

Retrato de Jesus

Sabendo que desejas conhecer quanto vou narrar, e existindo em nossos tempos um homem de grandes virtudes chamado Jesus, conhecido do povo como profeta da Verdade e seus discípulos dizem que é Filho de Deus, criador do céu e da terra, e de todas as coisas que nela se acham e nela tenham estado, em verdade, ó César, cada dia mais se ouvem coisas maravilhosas desse Jesus: ressuscita os mortos, cura os enfermos… Em uma palavra: é um homem de estatura justa e muito belo de aspecto, e há tanta majestade em seu rosto que aqueles que o veem são forçados a amá-lo ou temê-lo.

Tem os cabelos da cor da amêndoa bem madura, distendidos até as orelhas e das orelhas até as espáduas: são da cor da terra, porém mais reluzentes. Tem no meio da fronte uma linha separando os cabelos, na forma em uso entre os nazarenos. Seu rosto é cheio, o aspecto é muito sereno e nenhuma ruga ou mancha se vê na sua face de uma cor moderada; o nariz e a boca são irrepreensíveis. A barba é espessa e semelhante aos cabelos, não muito longa, mas separada ao meio; seu olhar é muito afetuoso e grave. Tem os olhos expressivos e claros, e o surpreendente é que resplandecem no seu rosto como os raios do sol. Ninguém pode olhar fixamente o seu semblante, porque, quando resplende, amedronta, e quando ameniza, comove.

Faz-se amar e é alegre com gravidade. Dizem que nunca o viram rir, mas sim chorar. Tem os braços e as mãos muito belos. Na palestra, contenta muito, mas raramente o faz. Quem dele se aproxima verifica que é muito modesto na pessoa e na presença. É o mais belo homem que se pode imaginar, muito semelhante à mãe, que é de rara beleza.

De letras, faz-se admirar por toda a cidade de Jerusalém: ele sabe todas as ciências e nunca estudou nada. Caminha descalço e sem coisa alguma na cabeça. Muitos se riem, vendo-o assim; mas, na sua presença, falando com ele, tremem e o admiram. Dizem que jamais alguém falou como esse homem, por estas redondezas; em verdade, segundo me dizem os hebreus, não se ouviram nunca tais conselhos, de grande doutrina, como ensina esse Jesus. Muitos judeus o têm como divino, enquanto muito outros querelam, afirmando que ele é contra a lei de Tua Majestade, e sou muito molestado por esses malignos hebreus. Diz-se que esse homem nunca fez mal a quem quer que seja, mas, ao contrário, atestam haver dele recebido saúde e benefícios aqueles que o conhecem e com ele convivem.

Se a Majestade Tua, ó César, deseja vê-lo, como no aviso passado escreveste, dá-me ordens e procurarei mandá-lo o mais depressa possível.

À tua obediência estou prontíssimo: aquilo que Tua Majestade ordenar será cumprido. Fidelíssimo e obrigadíssimo – (a) – Publius Lentulus, presidente da Judeia.

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