– Em tudo – elucidou Jesus – deve a oração constituir o nosso recurso permanente de comunhão ininterrupta com Deus.
Nesse intercâmbio incessante, as criaturas devem apresentar ao Pai, no segredo das íntimas aspirações, os seus anelos e esperanças, dúvidas e amargores. Essas confidências lhes atenuarão os cansaços do mundo, restaurando-lhes as energias, porque Deus lhes concederá de sua luz.
É necessário, portanto, cultivar a prece, para que ela se torne um elemento natural da vida, como a respiração. É indispensável conheçamos o meio seguro de nos identificarmos com o Nosso Pai.
Entretanto, Pedro, observamos que os homens não se lembram do céu, senão nos dias de incerteza e angústia do coração. Se a ameaça é cruel e iminente o desastre, se a morte do corpo é irremediável, os mais fortes dobram os joelhos.
Mas, quanto não deverá sentir-se o Pai amoroso e leal de que somente o procurem os filhos nos momentos do infortúnio, por eles criados com as suas próprias mãos? Em face do relaxamento dessas relações sagradas, por parte dos homens, indiferentes ao carinho paternal da Providência que tudo lhes concede de útil e agradável, improficuamente desejará o filho uma solução imediata para as suas necessidades e problemas, sem remediar ao longo afastamento em que se conservou do Pai no percurso, postergando-lhe os desígnios, respeito às suas questões íntimas e profundas.
Simão Pedro ouvia o Mestre com uma compreensão nova. Não podia apreender a amplitude daqueles conceitos que transcendiam o âmbito da educação que recebera, mas procurava perceber o alcance daquelas elucidações, a fim de cultivar o intercâmbio perfeito com o Pai sábio e amoroso, cuja assistência generosa Jesus revelara, dentro da luz dos seus divinos ensinamentos.
Decorridos alguns dias, estando o Mestre a ensinar aos companheiros uma nova lição referente ao impulso natural da prece, Simão lhe observou: –
Senhor, tenho procurado, por todos os modos, manter inalterável a minha comunhão com Deus, mas não tenho alcançado o objetivo de minhas súplicas. – E que tens pedido a Deus? – interrogou o Mestre, sem se perturbar. – Tenho implorado à sua bondade que aplaine os meus caminhos, com a solução de certos problemas materiais.
Jesus contemplou longamente o discípulo, como se examinasse a fragilidade dos elementos intelectuais de que podia dispor para a realização da obra evangélica. Contudo, evidenciando mais uma vez o seu profundo amor e boa-vontade, esclareceu com brandura e convicção: – Pedro, enquanto orares pedindo ao Pai a satisfação de teus desejos e caprichos, é possível que te retires da prece inquieto e desalentado.
Mas, sempre que solicitares as bênçãos de Deus, a fim de compreenderes a sua vontade justa e sábia, a teu respeito, receberás pela oração os bens divinos do consolo e da paz. O apóstolo guardou silêncio, demonstrando haver, afinal, compreendido.
Um dos filhos de Alfeu, porém, reconhecendo que o assunto interessava sobremaneira à pequena comunidade ali reunida, adiantou-se para Jesus, pedindo: – Senhor, ensina-nos a orar!…
Dispondo-os então em círculo e como se mergulhasse o pensamento num invisível oceano de luz, o Messias pro 122 –  123 – enunciou, pela primeira vez, a oração que legaria à Humanidade.
Elevando o seu espírito magnânimo ao Pai Celestial e colocando o seu amor acima de todas as coisas, exclamou: –
“Pai Nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome.”
E, ponderando que a redenção da criatura nunca se poderá efetuar sem a misericórdia do Criador, considerada a imensa bagagem das imperfeições humanas, continuou: –
“Venha a nós o teu reino.”
Dando a entender que a vontade de Deus, amorosa e justa, deve cumprir-se em todas as circunstâncias, acrescentou: –
“Seja feita a tua vontade, assim na Terra como nos céus.”
Esclarecendo que todas as possibilidades de saúde, trabalho e experiência chegam invariavelmente, para os homens, da fonte sagrada da proteção divina, prosseguiu: –
“O pão nosso de cada dia dá-nos hoje.”
Mostrando que as criaturas estão sempre sob a ação da lei de compensações e que cada uma precisa desvencilhar-se das penosas algemas do passado obscuro pela exemplificação sublime do amor, acentuou: –
“Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores.”
Conhecedor, porém, das fragilidades humanas, para estabelecer o princípio da luta eterna dos cristãos contra o mal, terminou a sua oração, dizendo com infinita simplicidade: –
“Não nos deixes cair em tentação e livra-nos de todo mal, porque teus são o reino, o poder e glória para sempre.
Assim seja.”
Levi, o mais intelectual dos discípulos, tomou nota das sagradas palavras, para que a prece do Senhor fosse guardada em seus corações humildes e simples.
A rogativa de Jesus continha, em síntese, todo o programa de esforço e edificação do Cristianismo nascente. Desde aquele dia memorável, a oração singela de Jesus se espalhou como um perfume dos céus pelo mundo inteiro.
BOA NOVA – Pelo Espírito: HUMBERTO DE CAMPOS/ Francisco Cândido Xavier

A oração dominical .

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