Uma vez no mundo dos Espíritos, a alma conserva as percepções que tinha na vida física e outras que não possuía, porque seu corpo era como um véu que as obscureciam. A inteligência é um atributo do Espírito, mas que se manifesta mais livremente quando não há obstáculos.

Quanto mais o Espírito se aproxima da perfeição, mais sabe. Se é superior, sabe muito; se é inferior, é mais ou menos ignorante sobre todas as coisas.

Os Espíritos vivem fora do tempo, tal como o compreendemos. Os séculos, tão longos para nós, são como instantes aos seus olhos. Não tem mais o véu material que obscurece a inteligência. Lembram de coisas que se apagam em nossa memória, mas não conhecem tudo. Em relação ao futuro, frequentemente eles apenas o entreveem, mas nem sempre tem a permissão de o revelar.

Os Espíritos superiores veem Deus e o compreendem; os inferiores O sentem, não O veem, mas sentem a sua soberania.

O Espírito se transporta com a rapidez do pensamento; veem tudo a uma só vez. Seu pensamento pode irradiar e se dirigir, ao mesmo tempo, sobre vários pontos diferentes.  Essa faculdade depende de sua pureza; quanto menos puro ele for, mais sua visão é limitada. Somente os Espíritos superiores podem ter visão de conjunto.

Todas as percepções são atributos do Espírito e fazem parte do seu ser. Quando está revestido de um corpo material, elas não lhe chegam senão por um canal de órgãos, mas no estado de liberdade, não estão mais localizadas. Percebe os sons; vê e ouve o que ele quiser, isso, em geral, os Espíritos elevados. Os imperfeitos ouvem e vêem aquilo que pode ser útil ao seu adiantamento.

Eles conhecem os nossos sofrimentos físicos, pois os suportaram, mas não sentem materialmente como nós. Não sentem a fadiga como nós entendemos. Não tem necessidade de descanso corporal. O repouso do Espírito não é material, mas sim, intelectual e moral. Quanto mais elevados, menos necessitam de repouso.

O Espírito tem a percepção da dor, mas essa percepção é um efeito. A lembrança pode ser muito penosa, mas não pode ter ação física. Sabemos que as pessoas amputadas sentem dor no membro que não existe mais. Não é nesse membro que está a sede ou o ponto de partida da dor; apenas o cérebro conservou a impressão da dor. Pode-se crer que há alguma coisa de analogia com os sofrimentos do Espírito depois da morte. Liberto do corpo, o Espírito pode sentir as dores, mas esse sofrimento não é corporal. A dor que ele sente não é uma dor física, mas um vago sentimento íntimo que o próprio Espírito nem sempre entende, pois a dor não está localizada e não é produzida por agentes externos. É mais uma lembrança que uma realidade. 

No momento da morte, o perispírito se liberta mais ou menos lentamente do corpo. Durante os primeiros instantes, o Espírito não entende sua situação; não se crê morto porque se sente vivo; vê seu corpo de um lado, sabe que é seu, mas não entende porque está separado dele.  Este estado perdura enquanto existe alguma ligação entre o corpo e o perispírito. Neste momento, a visão do Espírito é sempre confusa e se aclara à medida que se desprende.

Durante a vida, o corpo recebe as impressões exteriores e as transmite ao Espírito por intermédio do perispírito que constitui, provavelmente, o que se chama de fluido nervoso. Após a morte, o perispírito desprendido do corpo, experimenta sensação generalizada. A influência material diminui à medida que o Espírito progride e o próprio perispírito se torna menos grosseiro.

A Alma, ou o Espírito, tem em si mesmo a faculdade de todas as percepções; na vida corpórea elas são limitadas pela grosseria dos órgãos, contudo, na vida extracorpórea são cada vez menos limitadas à medida que se torna menos compacto o envoltório semimaterial, ou perispírito.

Pensávamos que, uma vez desembaraçados do nosso envoltório grosseiro, instrumento de nossas dores, não sofreríamos mais. Mas sofreremos de uma maneira ou de outra. E poderemos sofrer muito e por muito tempo, mas podemos também deixar de sofrer desde o instante em que deixamos a vida corpórea. Os sofrimentos deste mundo, algumas vezes, independem de nós, mas muitos são consequências da nossa vontade. Remontando à origem, veríamos que, em sua maior parte, resultam de causas que poderíamos evitar. O homem que viver sempre sobriamente, sem abusar de nada, com simplicidade de gostos, modesto em seus desejos, se poupará de muitas tribulações. Ocorre o mesmo com o Espírito; os sofrimentos que enfrenta são consequência da maneira que viveu sobre a Terra. 

Esses sofrimentos resultam dos laços que ainda existem entre o Espírito e a matéria. Quanto mais se liberta da influência da matéria, sofre menos as sensações penosas. Depende de cada um libertar-se dessa influência desde a vida atual; temos o nosso livre-arbítrio e podemos escolher entre fazer e não fazer. O sofrimento tem relação direta com a conduta, da qual suportamos as consequências. Se seguirmos o bom caminho, poderemos sentir uma grande felicidade. Os que sofrem, sofrem porque quiseram e só de si mesmos podem queixar-se, tanto encarnados como desencarnados.


Referências:

O Livro dos Espíritos – Livro II - Cap. VI – Allan Kardec.



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