Segundo São Luis: “o dogma da ressurreição da carne será a consagração da reencarnação ensinada pelos Espíritos. Conforme sucede com tantas outras, essas palavras só parecem despropositadas, no entender de algumas pessoas, porque as tomam ao pé da letra. Levam, por isso, à incredulidade. Se dermos uma interpretação lógica a elas, os livres pensadores as admitirão sem dificuldades, precisamente pela razão de que refletem. A doutrina da pluralidade das existências é consentânea com a justiça de Deus; só ela explica o que, sem ela, é inexplicável.
Assim, pelo dogma da ressurreição da carne a própria Igreja ensina a doutrina da reencarnação. Ademais, essa doutrina decorre de muitas coisas que têm passado despercebidas e que dentro em pouco se compreenderão neste sentido. Reconhecer-se-á em breve que o Espiritismo ressalta a cada passo do próprio texto das Escrituras Sagradas. Os Espíritos, portanto, não vêm subverter a religião, como alguns o pretendem. Vêm, ao contrário, confirmá-la, sancioná-la por provas irrecusáveis. Como, porém, são chegados os tempos de não mais empregarem linguagem figurada, eles se exprimem sem alegorias e dão às coisas sentido claro e preciso, que não possa estar sujeito a qualquer interpretação falsa. Por esse motivo, daqui a algum tempo, será maior do que é hoje o número de pessoas sinceramente religiosas e crentes”.
Efetivamente, a Ciência demonstra a impossibilidade da ressurreição, segundo a ideia vulgar. Se os despojos do corpo humano se conservassem homogêneos, embora dispersos e reduzidos a pó, ainda se conceberia que pudessem reunir-se em dado momento. As coisas, porém, não se passam assim. O corpo é formado de elementos diversos: o oxigênio, hidrogênio, azoto, carbono, etc. Pela decomposição, esses elementos se dispersam, mas para servir à formação de novos corpos, de tal sorte que uma mesma molécula, de carbono, por exemplo, terá entrado na composição de muitos milhares de corpos diferentes (relativo aos corpos humanos, sem ter em conta os dos animais); que um indivíduo tem talvez em seu corpo moléculas que já pertenceram a homens das primitivas idades do mundo; que essas mesmas moléculas orgânicas que absorvemos nos alimentos provêm, possivelmente, do corpo de tal outro indivíduo que conhecemos e assim por diante. Existindo em quantidade definida a matéria e sendo indefinidas as suas combinações, como poderia cada um daqueles corpos reconstituir-se com os mesmos elementos? Há aí impossibilidade material. Racionalmente, pois, não se pode admitir a ressurreição da carne, senão como uma figura simbólica do fenômeno da reencarnação. E, então, nada mais há que fuja da razão, que esteja em contradição com os dados da Ciência.
É exato que, segundo o dogma, essa ressurreição só no fim dos tempos se dará, ao passo que, segundo a doutrina espírita, ocorre todos os dias. Se meditarmos a teoria espírita sobre o futuro das almas e sobre a sorte que lhes cabe, por efeito das diferentes provas que lhes cumpre sofrer, veremos que, exceção feita da simultaneidade, o juízo que as condena ou absolve não é uma ficção, como pensam os incrédulos. Notemos ainda que essa teoria é a consequência natural da pluralidade dos mundos, hoje perfeitamente admitida, enquanto que a doutrina do juízo final pressupõe que a Terra seja o único mundo habitado.
Referências:
O Livro dos Espíritos - Quarta Parte - Cap. II - Allan Kardec.