• Qualquer atividade mental ou espiritual: é conceito amplo, introduzido pelo filósofo francês René Descartes (1596–1650), que afirmou: 

“[…] entendo tudo o que acontece em nós, de tal modo que o percebemos imediatamente por nós mesmos; por isso não só entender, querer e imaginar, mas também sentir é o mesmo que imaginar”. (1) 

  • Atividade do intelecto ou da razão, em oposição aos sentidos e à vontade: “[…] esse termo designa a atividade do intelecto em geral, distinta da sensibilidade, por um lado, e da atividade prática, por outro”. (2) É proposição que reflete o pensamento dos filósofos gregos Sócrates (470–399 a.C.) e Aristóteles (384–322 a.C.).
  • Atividade discursiva ou dianoia, como assinala Platão (428/427–348/347 a.C.) cujo conceito envolve não só o cognitivo (intelecto), mas também a intuição. (3)  
  • Atividade intuitiva ou atividade intelecto-intuitiva, considerada de forma bem ampla. Faz referência à autoconsciência (capacidade intelectiva pensante do ser de se situar como pessoa) e à intuição, que não se limita às percepções, propriamente ditas, mas que também envolve manifestações da sensibilidade (emoções), das fantasias e da vontade humanas. Platão e Aristóteles defendiam alguns aspectos dessa conceituação. (4)  

A evolução histórica do conhecimento sobre o pensamento e suas expressões, sobretudo quando se pensa na cultura vigente nos séculos XIX e XX, reflete as concepções de Descartes de que o pensamento humano é sinônimo de inteligência cognitiva, entendida como a capacidade de pensar, resumida na famosa frase desse conhecido matemático francês: “Penso, logo existo” (do latim: Cogito, ergo sum). No século XX, essa ideia cartesiana do pensamento ser considerado a capacidade de raciocinar foi alimentada pelas ideias do biólogo e educador suíço Jean Piaget (1896–1980), que considera o pensamento humano pautado na inteligência lógico-matemática. Definia-se, dessa forma, a base racional ou lógica do pensamento humano. 

Há, porém, na atualidade fortes indícios que nos apontam para um resgate do pensamento de alguns filósofos da Antiguidade, em especial Platão e Aristóteles, sobretudo quando se pretende unir conceitos de que o pensamento é de natureza discursiva (terceira proposição, anteriormente citada) aos indicados da quarta proposição (atividade intelecto-intuitiva). Esse é o significado transmitido pelo   Espírito André Luiz na mensagem 23 – Pensar, que se encontra no livro Respostas da vida, da qual destacamos este trecho: 

O pensamento é a nossa capacidade criativa em ação. Em qualquer tempo, é muito importante não nos esquecermos disso. A ideia forma a condição; a condição produz o efeito; o efeito cria o destino.  A sua vida será sempre o que você esteja mentalizando constantemente. Em razão disso, qualquer mudança real em seus caminhos virá unicamente da mudança de seus pensamentos. […] 

Em nosso íntimo a liberdade de escolher é absoluta; depois da criação mental que nos pertence, é que nos reconhecemos naturalmente sujeitos a ela. (5) 

Ao fazer uma análise mais aprofundada do assunto, aqui colocado de forma breve, percebe- se que, para o Espiritismo, o pensamento e a inteligência não são sinônimos, o que ainda é considerado postulado científico, sendo ambos, porém, atributos do Espírito ou da mente pensante, como ensinam os orientadores da Codificação: 

“Quando o pensamento está em alguma parte, a alma também aí está, pois é a alma quem pensa. O pensamento é um atributo.” (6) 

“A inteligência é um atributo essencial do espírito, mas ambos se confundem num princípio comum, de sorte que, para vós, são a mesma coisa.” (7) 

Não resta dúvida de que se trata de questão complexa entender que tanto o pensamento quanto a inteligência são atributos do Espírito, da sua mente, considerando-se os ensinos filosóficos científicos dos tempos atuais. Contudo, já existe algum avanço nesse sentido, pois, até pouco mais da metade do século passado, ainda se confundia, em nível acadêmico, inteligência com intelecto. Embora 

sejam palavras relacionadas, há distinção entre ambas: inteligência (do latim intelligence = compreender) é definida: “[…] Capacidade de compreender relações. Capacidade de pensar; de solucionar problemas e de se ajustar a novas situações”. (8) Intelecto ou capacidade intelectual, ainda que possa ser compreendido como a forma geral de pensar (e aí se confunde com inteligência), em sentido restrito é “[…] função cerebral consciente”. (9) Ou, mais precisamente: “[…] como uma atividade ou técnica particular de pensar […]”. (10)  

Um exemplo espírita pode aclarar as duas concepções: inteligência e intelecto. Os habitantes primitivos da Terra eram simples e ignorantes, isto é, os Espíritos detinham a capacidade de pensar, pela emissão de pensamentos contínuos, mas possuíam pouquíssimo conhecimento, visto que seu intelecto ainda se encontrava em fase de construção. Com as reencarnações sucessivas e estágios subsequentes no Plano Espiritual, desenvolvem o intelecto pelos aprendizados adquiridos. Poderíamos até afirmar que a inteligência aperfeiçoada resulta do intelecto desenvolvido. Sendo assim, o pensamento humano se expande, desenvolve, aperfeiçoa.  

Ante tais apontamentos, Emmanuel apresenta-nos este brilhante resumo, relacionado ao que foi registrado até aqui, ao demonstrar que o pensamento, como reflexo da capacidade mental do Espírito, se amplia com as conquistas evolutivas do Espírito: 

A mente é o espelho da vida em toda parte. […] 

Definindo-a por espelho da vida, reconhecemos que o coração lhe é a face e que o cérebro é o centro de suas ondulações, gerando a força do pensamento que tudo move, criando e transformando, destruindo e refazendo para acrisolar e sublimar. (11) 

O benfeitor prossegue em suas elucidações, ampliando-nos o entendimento das ideias de Platão e de Aristóteles quanto aos processos da ressonância mental que é veiculada pela razão (ou raciocínio), intuição, afinidade e sintonia, sendo impossível desvincular, pelo pensamento, a carga emocional, sensibilidade e a imaginação: 

Em todos os domínios do universo vibra, pois, a influência recíproca. Tudo se desloca e renova sob os princípios de interdependência e repercussão. O reflexo esboça a emotividade. A emotividade plasma a ideia.  

A ideia determina a atitude e a palavra que comandam as ações. Em semelhantes manifestações alongam-se os fios geradores das causas de que nascem as circunstâncias, válvulas obliterativas ou alavancas libertadoras da existência. 

Ninguém pode ultrapassar de improviso os recursos da própria mente, muito além do círculo de trabalho em que estagia; contudo, assinalamos, todos nós, os reflexos uns dos outros, dentro da nossa relativa capacidade de assimilação. […] 

O reflexo mental mora nos alicerces da vida. (12) 

O pensamento não se processa, portanto, isoladamente. É influenciado por uma gama de fatores, sobretudo: capacidade cognitiva, própria ou as que lhe são disponibilizadas pelo conhecimento, tecnológico e científico; emoção e sentimentos; consciência de si mesmo e do outro; memória, aprendizagem; percepções – da realidade em que vive o ser e as percepções psíquicas, extrassensoriais – e linguagem.  

Como fechamento do texto, mas não esgotando o assunto, ensina-nos Manoel Philomeno de Miranda: 

Porque o pensamento atua no fluido que a tudo envolve, pelo seu teor vibratório produz natural sintonia com as diversas faixas nas quais se movimentam os Espíritos, na esfera física ou na Erraticidade, estabelecendo vínculos que se estreitam em razão da intensidade mantida. Essa energia fluídica, recebendo a vibração mental, assimila o seu conteúdo emocional e transforma-se, de acordo com as moléculas absorvidas, criando uma psicosfera sadia ou enfermiça em volta daquele que a emite e passa a aspirá-la, experimentando o seu efeito conforme a qualidade de que se constitui. (13) 

Marta Antunes 

 

Referências: 

  1. ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. Trad. Alfredo Bosi e Ivone Castilho Benedetti. 1. ed. São Paulo: Martins Fontes: 2000. Verbete: pensamento, p. 751;  
  2. ______. ______; 
  3. ______. p. 751 e 752 
  4. ______. p. 752;  
  5. XAVIER, Francisco C. Respostas da vida. Pelo Espírito André Luiz. 9. ed. São Paulo: IDEAL, 1980;  
  6. KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 4. ed. 9. imp. Brasília: FEB, 2020. q. 89-a 
  7. ______. ______. q. 24; 
  8. THOMAS, Clayton L. (Coord.). Dicionário médico enciclopédico Taber. [1a edição brasileira]. Trad. Fernando Gomes do Nascimento. 17. ed. ilust. Barueri, SP: 2000. Verbete: inteligência,  p. 957;  
  9. ______. ______. p. 956; 
  10. ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. Trad. Alfredo Bosi e Ivone Castilho Benedetti. 1. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000. Verbete: intelecto, p. 571 
  11.  XAVIER, Francisco C. Pensamento e vida. Pelo Espírito Emmanuel. 19. ed. 4. imp. Brasília: FEB, 2016. cap. 1 – O espelho da vida; 
  12. ______. ______; e 
  13. FRANCO, Divaldo P. Temas da vida e da morte. Pelo Espírito Manoel Philomeno de Miranda. 7. ed. 3. imp. Brasília: FEB, 2018. cap. Pensamento e emoções. 

 

Texto publicado na Revista Reformador (FEB), Ano 138, nº 2.298, de setembro de 2020. 

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