A criatura humana é um feixe de sensações, resultado natural dos períodos primários da evolução, em trânsito para a realidade das emoções. As largas experiências vividas nas faixas primitivas do passado deixaram impressões profundas que se tornaram prevalecente exigência no comportamento pessoal, social e principalmente psicológico. Impulsos e reações fazem parte desse processo que estabelece os paradigmas da conduta, quando fora do crivo da razão.
Nesse estágio da vida, nutre-se emocionalmente das sensações objetivas, dos contatos com o mundo e suas manifestações, comprazendo-se no jogo desmedido do querer ter, longe da aspiração de ser.
Adormecida para as percepções mais sutis da existência, acumula coisas e compraz-se com elas até a saturação, quando se transfere para possuir pessoas, que não são fáceis de se deixarem pertencer, produzindo choques emocionais, que desarticulam a planificação interior do ambicioso. Sentindo a frustração do desejo não transformado em prazer, amargura-se e rebela-se, fugindo, não poucas vezes, para as libações alcoólicas, o tabagismo ou para as drogas aditivas.
É lento o curso de mudança da faixa grosseira do imediatismo para as sutilezas da emoção dignificada. Nesse trânsito, é comum deparar-se com a fase da sensação-emotiva, quando há um descontrole no sistema nervoso e o excesso de emotividade domina-lhe as paisagens comportamentais. Não acostumado às expressões da beleza, da sinceridade, do amor, facilmente se deixa comover, derrapando no desequilíbrio perturbador, no entanto, passo inicial para o clima de harmonia que o aguarda.
O homem-sensação é exigente e possuidor, não se apercebendo do valor da liberdade dos outros, que pretende controlar, nem dos deveres para com a sociedade que se lhe não submete. Sentindo-se marginalizado, graças à hostilidade que mantém em relação a todos quantos se lhe não subaltemizam, volta-se contra os estatutos vigentes e as pessoas livres, brutalizando-se e agredindo, pelos meios ao alcance, os demais.
Ao despertar a emoção, torna-se natural a valorização do próximo e da vida, o respeito pelos valores humanos e gerais, ao mesmo tempo em que trabalha em favor do progresso, que preza, ampliando os horizontes de entendimento e de realização interior.
A sensação é herança do instinto dominador; a emoção é tesouro a conquistar pelos caminhos da ascensão.
Quando desperta a consciência para a necessidade da emoção, a única alternativa que resta é a luta por alcançá-la. Esse empenho torna-se fácil quando o combate se inicia, facultando o encontro com a sua realidade, energia pensante que é e não somente grupo de células em departamentos especializados formando o corpo.
No período da emoção, o indivíduo não está isento das sensações, que lhe permanecem oferecendo prazeres, alegrias e advertências, só que sob controle, em equilíbrio, orientadas e produtivas. Na fase da sensação, igualmente, o ser experimenta emoções algo desordenadas e, vez que outra, propiciadoras de bem-estar, o que lhe constitui estímulo para crescer e esforçar-se por consegui-las.
Nas diferentes psicopatologias há predominância das sensações e grande descontrole das emoções, o que traduz o transtorno da mente, refletindo-se no comportamento alienado.
Podemos encontrar raízes desse estado na estrutura do lar desajustado, de pais imediatistas, ambiciosos, incapazes de amar, que transmitiram aos filhos a ideia de que todo aquele que possui, vale; enquanto que os outros existem para servir aos primeiros.
Essencialmente, porém, é o Espírito, em si mesmo, em fase de desenvolvimento, que se revela no corpo, experimentando mais as expressões fortes em detrimento das manifestações mais elevadas.
O esforço bem direcionado, o cultivo das ideias enobrecedoras e o trabalho edificante promovem de uma para outra faixa todo aquele que aspira a libertação da fase primitiva em que ainda estagia.
Joanna de Ângelis / Divaldo Franco
Do livro "Vida: Desafios e Soluções”