No começo do período de transição, ainda era pequena a espessura da sólida crosta granítica, que, portanto, oferecia resistência muito fraca  à efervescência das matérias que ela cobria e comprimia. Produziam-­se, pois, intumescências, despedaçamentos numerosos, por onde se escapava a lava interior. O solo apresentava desigualdades pouco consideráveis.


As águas, pouco profundas, cobriam quase toda a superfície do globo, com exceção das partes soerguidas, que, formando terrenos baixos, eram frequentemente alagados.


O ar gradativamente se livrara das matérias mais pesadas, temporariamente em estado gasoso, as quais, condensando­-se por efeito do resfriamento, se haviam precipitado na superfície do solo, sendo depois arrastadas e dissolvidas pelas águas.


Quando se fala de resfriamento naquela época, deve­-se entender essa palavra em sentido relativo, isto é, em relação ao estado primitivo, porquanto a temperatura ainda havia de ser ardente.


Os espessos vapores aquosos que se elevavam de todos os lados da imensa superfície líquida, recaiam em chuvas copiosas e quentes, que obscureciam o ar. Entretanto, os raios ­do ­Sol começavam a aparecer, através dessa atmosfera brumosa.


Uma das últimas substâncias de que o ar teve de expurgar­-se, por ser gasoso o seu estado natural, foi o ácido carbônico, então um dos seus componentes.


Por essa época, começaram a formar­-se as camadas de terrenos de sedimento, depositadas pelas águas carregadas de limo e de matérias diversas, apropriadas à vida orgânica.


Surgem aí os primeiros seres vivos do reino vegetal e do reino animal. Deles se encontram vestígios, a princípio em número reduzido, porém, depois, cada vez mais frequentes, à medida que se vai passando às camadas mais elevadas dessa formação. É digno de nota que por toda parte a vida se manifesta, logo que lhe são propícias as condições, nascendo cada espécie desde que se realizam as condições próprias à sua existência.


Os primeiros seres orgânicos que apareceram na Terra foram os vegetais de organização menos complicada, designados em botânica sob os nomes de criptógamos, acotiledôneos, monocotiledôneos, isto é, liquens, cogumelos, musgos, fetos e plantas herbáceas. Absolutamente, ainda se não vêem árvores de tronco lenhoso, mas, apenas, as do gênero palmeira, cuja haste esponjosa é análoga à das ervas.


Os animais desse período, que apareceram em seguida aos primeiros vegetais, eram exclusivamente marinhos: primeiramente, polipeiros, raiados, zoófitos, animais cuja organização simples e, por assim dizer, rudimentar, se aproxima, no máximo grau, da dos vegetais. Mais tarde, aparecem crustáceos e peixes de espécies que já não existem.


Sob o império do calor e da umidade e em virtude do excesso de ácido carbônico espalhado no ar, gás impróprio à respiração dos animais terrestres, mas necessário às plantas, os terrenos expostos se cobriram rapidamente de uma vegetação pujante, ao mesmo tempo que as plantas aquáticas se multiplicavam no seio dos pântanos. Plantas que, nos dias atuais, são simples ervas de alguns centímetros, atingiam altura e grossura prodigiosas. Assim é que havia florestas de fetos arborescentes de 8 a 10 metros de altura e de proporcional grossura. Licopódios (marroio, gênero de musgo), do mesmo porte; cavalinhos*, de 4 a 5 metros, e cuja altura não passa hoje de um metro, e uma infinidade de espécies que não mais existem. Pelos fins do período, começam a aparecer algumas árvores do gênero conífero ou pinheiros.


Em consequência do deslocamento das águas, os terrenos que produziam essas massas de vegetais foram submergidos, cobertos de novos sedimentos terrosos, enquanto os que se achavam emersos se adornavam, a seu turno, de vegetação semelhante. Houve assim muitas gerações de vegetais alternativamente aniquiladas e renovadas. O mesmo não se deu com os animais que, sendo todos aquáticos, não estavam sujeitos a essas alternativas.


Acumulados durante longa série de séculos, esses destroços formaram camadas de grande espessura. Sob a ação do calor, da umidade, da pressão exercida, pelos posteriores depósitos terrosos e, sem dúvida, de diversos agentes químicos, dos gases, dos ácidos e dos sais produzidos pela combinação dos elementos primitivos, aquelas matérias vegetais sofreram uma fermentação que as converteu em hulha ou carvão ­de ­pedra. As minas de hulha são, pois, produto direto da decomposição dos acervos de vegetais acumulados durante o período de transição. É por isso que são encontrados em quase todas as regiões*.


* A turfa se formou da mesma maneira, pela decomposição dos amontoados de vegetais, em terrenos pantanosos; mas, com a diferença de que, sendo de formação muito mais recente e sem dúvida noutras condições, ela não teve tempo de se carbonizar.


Os restos fósseis da pujante vegetação dessa época, achando-­se hoje sob os gelos das terras polares, tanto quanto na zona tórrida, segue­-se que, uma vez que a vegetação era uniforme, também a temperatura o havia de ser. Os pólos, portanto, não se achavam cobertos de gelo, como agora. É que, então, a Terra tirava de si mesma o calor, do fogo central que aquecia de igual modo toda a camada sólida, ainda pouco espessa. Esse calor era superior de muito ao que podia provir dos raios solares, enfraquecidos, ao demais, pela densidade da atmosfera. Só mais tarde, quando a ação do calor central se tornou muito fraca ou nula sobre a superfície exterior do globo, a do Sol passou a preponderar e as regiões polares, que apenas recebiam raios oblíquos, portadores de pequena quantidade de calor, se cobriram de gelo. Compreende­-se que na época de que falamos e ainda muito tempo depois, o gelo era desconhecido na Terra. Deve ter sido muito longo esse período, a julgar pelo número e pela espessura das camadas de hulha.




Referências:

A Gênese, os milagres e as predições segundo o Espiritismo  - Cap. VII  - Allan Kardec.


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