“Obreiros da Vida Eterna”, o quarto livro de André Luiz e da série “A Vida no Mundo Espiritual”, psicografia de Francisco Cândido Xavier, fora publicado em 1946 pela Federação Espírita Brasileira, com a seguinte apresentação:

Neste livro, André Luiz comprova os princípios revelados na Doutrina Espírita sobre a existência do mundo espiritual. Onde os espíritos se demoram depois de desencarnados, vivendo uma nova vida e preparando-se para uma nova jornada terrena.

“(…) A morte não extingue a colaboração amiga, o amparo mútuo, a intercessão confortadora, ou o serviço evolutivo. As dimensões vibratórias do Universo são infinitas, como infinitos são os mundos que povoam a Imensidade. 

“Ninguém morre. O aperfeiçoamento prossegue em toda parte. 

“A vida renova, purifica e eleva os quadros múltiplos de seus servidores, conduzindo-os, de maneira vitoriosa e bela, à União Suprema com a Divindade”.

Reflitamos, então, sobre a mensagem e ensinamentos trazidos pelo amorável instrutor no prefácio em exame.

Admirável a capacidade de síntese de Emmanuel. Num único parágrafo, o primeiro deste prefácio, o benemérito instrutor resume bem a constatação de que nem a ciência do século XX – e, podemos afirmar, a do século XXI – com todos os avanços tecnológicos foi capaz de conter a nossa aflição ante o túmulo; somos tomados hoje do mesmo temor que estremeceu o homem das civilizações que floresceram antes do advento do Cristo.

Verifica Emmanuel que, passados os séculos, foram as civilizações egípcia, grega e romana, “refundidas” pelas luzes do desenvolvimento humano, permanecendo, contudo, a mesma perplexidade e incerteza: de nada adiantou todo o progresso conquistado, tememos a morte hoje, como a temíamos milênios atrás; o fenômeno morte ainda “continua ferindo sentimentos e torturando inteligências”.

Alerta Emmanuel que, ainda que com a melhor das boas intenções, as mais variadas escolas religiosas da Terra, representando, não as diretrizes espirituais do Mais Alto, mas sim as de seus patriarcas que, repetindo os equívocos do culto exterior, tem procurado “controlar o campo emotivo dos crentes, acomodando os interesses imediatistas da alma encarnada”.

Para o bondoso instrutor, a Teologia, ao invés de nos conduzir às verdades espirituais, tem mobilizado esforços no sentido de satisfazer os nossos desejos inferiores e imediatos, baixando, para tal, “decretos” que, padronizando “as determinações de Deus”, criaram “regiões definidas” para onde iremos após a morte, ou para gozar da beatitude eterna ou para pagar as nossas penas irremissíveis. O amorável amigo espiritual, conclui, com acerto, que, embora respeitáveis, essas práticas, ultrapassadas que são, ferem à razão e não atendem “aos anseios do coração”.

Todas as questões que Emmanuel lança aos “teólogos sinceros da atualidade” merecem, também de nossa parte, discípulos recém-matriculados na escola da evolução espiritual, uma detida análise, uma sincera reflexão e um acurado exame de consciência.

Convida-nos Emmanuel a submeter todas as questões que levanta, bem como aquelas que nós também termos a arguir, ao exame da razão e da lógica. Os conceitos anteriormente formulados pelos teólogos as respondem com rigorosa coerência? Qual resposta desejamos: a que implica menor esforço ou a que implica em nossa reforma moral?

Quando Emmanuel assevera que as interrogações lançadas não são oportunas aos teólogos que “tentam conjugar esforços na solução do grande e indevassado problema da Humanidade” refere-se àqueles que desejam a manutenção das trevas para melhor manipular as consciências impúberes e assim seguirem com seus amplos processos de dominação. Há que se considerar, por óbvio, que nem todos estão agindo premeditadamente e com má fé; existem aqueles que míopes, apenas entreveem as verdades e aqueles que, por comodidade, mantem os olhos fechados e nada enxergam; são mais ignorantes que maus.

Emmanuel diz que coube ao Espiritismo começar “o inapreciável trabalho de positivar a continuação da vida além da morte, fenômeno natural do caminho de ascensão”; e disse mais: “Esferas múltiplas de atividade espiritual interpenetrem-se nos diversos setores da existência”. Ambas as considerações nos remetem a duas conclusões: a primeira que, se ao Espiritismo coube “começar” o trabalho, este, o trabalho, ainda está longe de ser concluído; a segunda de que este trabalho deverá ser realizado em parceria com todas as demais orientações filosóficas e religiosas de nosso tempo, pois “A morte não extingue a colaboração amiga, o amparo mútuo, a intercessão confortadora, o serviço evolutivo”, afinal, “Ninguém morre”.

Quanta verdade expressa na frase “A vida renova, purifica e eleva os quadros múltiplos de seus servidores, conduzindo-os, vitoriosa e bela, à União Suprema com a Divindade”. A cada estágio, ora no vaso físico, ora na erraticidade, em nos desenvolvendo, vamos, pouco a pouco, nos tornando trabalhadores mais adestrados e qualificados, caminhando rumo à perfeição, estágio este, que, quando atingido, nos será dado ver a face de Deus. Assim é que, a cada geração que reencarna no mundo físico ou reentra no mundo espiritual, conta-se um significativo número de espíritos mais cônscios de si mesmos e de seu papel no teatro da vida e de suas relações com a Divindade.

Emmanuel, de forma mais que oportuna, nos lembra de que a nossa reentrada no mundo espiritual não significará “vaguear em turbilhão aéreo”, sem qualquer responsabilidade ou atividade, mas o contrário. Diz ainda que, “Como acontece aos que chegam à Crosta da Terra, os que saem dela encontram igualmente sociedades e instituições, templos e lares, onde o progresso continua para o Alto”. Nada de ostracismo! A vida que seguirá seu curso natural, sem sobressaltos, rumo à luz.

Noticia ainda, o benemérito instrutor, que André Luiz, nesta obra, nos fornecerá “algumas notícias” do mundo espiritual em especial das zonas “que envolvem a crosta do mundo”. Mas não é só. O autor espiritual “comentando os quadros emocionais que se transportam do ambiente obscuro para as esferas imediatas às cogitações e paixões humanas; mais uma vez, esclarece que a morte é campo de sequência, sem ser fonte milagreira, que aqui ou além o homem é fruto de si mesmo, e que as leis divinas são eternas organizações de justiça e ordem, equilíbrio e evolução”.

Antecipa-nos Emmanuel as notícias consoladoras de que é porta voz o “amigo na eternidade”, André Luiz: “a morte é campo de sequência”!

Reconhece o compreensivo amigo espiritual que em muitos de nós, “companheiros menos avisados”, serão tomados de “estranheza” e envergaremos em nossos rostos um “sorriso irônico” ao tomarmos conhecimento das informações trazidas por André Luiz, entretanto, esta reação, típicas dos “impenitentes incorrigíveis” não afetará o ânimo dos prepostos do Mestre, afinal nem Ele fora, por todos, compreendido.

Por derradeiro, convida-nos Emmanuel, a prosseguir “no serviço da verdade e do bem, cheios de otimismo e bom ânimo, a caminho de Jesus, com Jesus”.

Comentário ao prefácio Rasgando Véus, do livro Obreiros da Vida Eterna, por José Márcio de Almeida.

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