Com o período de transição desaparecem a vegetação colossal e os animais que caracterizavam a época, ou porque as condições atmosféricas já não fossem as mesmas, ou porque uma série de cataclismos tenha aniquilado tudo o que tinha vida na Terra. É provável que as duas causas tenham contribuído para essa mudança, por isso que, de um lado, o estudo dos terrenos que assinalam o fim desse período comprova a ocorrência de grandes subversões oriundas de levantamentos e erupções que derramaram sobre o solo grandes quantidades de lavas, e, de outro lado, porque grandes mudanças se operaram nos três reinos.
O período secundário se caracteriza, sob o aspecto mineral, por numerosas e fortes camadas que atestam uma formação lenta no seio das águas e marcam diferentes épocas bem caracterizadas.
A vegetação é menos rápida e menos colossal que no período precedente, sem dúvida em virtude da diminuição do calor e da umidade e de modificações sobrevindas aos elementos constitutivos da atmosfera. Às plantas herbáceas e polpudas, juntam-se as de caule lenhoso e as primeiras árvores propriamente ditas.
Ainda são aquáticos os animais, ou, quando nada, anfíbios, a vida vegetal progride pouco na terra seca. Desenvolve-se no seio dos mares uma prodigiosa quantidade de animais de conchas, devido à formação das matérias calcáreas. Nascem novos peixes, de organização mais aperfeiçoada do que no período anterior. Aparecem os primeiros cetáceos. Os mais característicos animais dessa época são os répteis monstruosos, entre os quais se notam:
O ictiossauro, espécie de peixe lagarto que chegava a ter 10 metros de comprimento e cujas mandíbulas, prodigiosamente alongadas, eram armadas de 180 dentes. Sua forma geral lembra um pouco a do crocodilo, mas sem couraça escamosa. Seus olhos tinham o volume da cabeça de um homem; possuía barbatanas como a baleia e, como esta, expelia água por aberturas próprias para isso.
O plesiossauro, outro réptil marinho, tão grande quanto o ictiossauro, e cujo pescoço, excessivamente longo, se dobrava, como o do cisne, e lhe dava a aparência de enorme serpente ligada a um corpo de tartaruga. Tinha a cabeça do lagarto e os dentes do crocodilo. Sua pele devia ser lisa, qual a do precedente, porquanto não se lhe descobriu nenhum vestígio de escamas ou de concha.*
* O primeiro fóssil deste animal foi descoberto na Inglaterra, em 1823. Depois, encontraram-se outros na França e na Alemanha.
O teleossauro, que mais se aproxima dos crocodilos atuais, parecendo estes um seu diminutivo. Como os últimos, tinha uma couraça escamosa e vivia, ao mesmo tempo, na água e em terra. Seu talhe era de cerca de 10 metros, dos quais 3 ou 4 só para a cabeça. A boca tinha abertura de 2 metros.
O megalossauro, grande lagarto, espécie de crocodilo, de 14 a 15 metros de comprimento. Essencialmente carnívoro, nutria-se de répteis, de pequenos crocodilos e de tartarugas. Sua formidável mandíbula era armada de dentes em forma de lâmina de podadeira, de gume duplo, recurvados para trás, de tal jeito que, uma vez enterrados na presa, impossível se tornaria a esta desprender-se.
O iguanodonte, o maior dos lagartos que já apareceram na Terra. Tinha de 20 a 25 metros da cabeça à extremidade da cauda e sobre o focinho um chifre ósseo, semelhante ao do iguano da atualidade, do qual parece que não diferia senão pelo tamanho. O último tem apenas 1 metro de comprimento. A forma dos dentes prova que ele era herbívoro e a dos pés que era animal terrestre.
O pterodáctilo, animal estranho, do tamanho de um cisne, participando, simultaneamente, do réptil pelo corpo, do pássaro pela cabeça e do morcego pela membrana carnuda que lhe ligava os dedos prodigiosamente longos. Essa membrana lhe servia de paraquedas quando se precipitava sobre a presa do alto de uma árvore ou de um rochedo. Não possuía bico córneo, como os pássaros, mas os ossos das mandíbulas, do comprimento da metade do corpo e guarnecidos de dentes, terminavam em ponta como um bico.
Durante esse período, que há de ter sido muito longo, como atestam o número e a pujança das camadas geológicas, a vida animal tomou enorme desenvolvimento no seio das águas, tal qual se dera com a vegetação no período que findara. Mais depurado e mais favorável à respiração, o ar começou a permitir que alguns animais vivessem em terra. O mar se deslocou muitas vezes, mas sem abalos violentos. Com esse período, desaparecem, por sua vez, aquelas raças de gigantescos animais aquáticos, substituídos mais tarde por espécies análogas, de formas menos desproporcionais e de menor porte.
O orgulho levou o homem a dizer que todos os animais foram criados por sua causa e para satisfação de suas necessidades. Mas, qual o número dos que lhe servem diretamente, dos que lhe foi possível submeter, comparado ao número incalculável daqueles com os quais nunca teve ele, nem nunca terá, quaisquer relações? Como se pode sustentar semelhante tese, em face das inumeráveis espécies que exclusivamente povoaram a Terra por milhares e milhares de séculos, antes que ele aí surgisse, e que afinal desapareceram? Pode se afirmar que elas foram criadas em seu proveito? Entretanto, tinham todas a sua razão de ser, a sua utilidade. Deus, decerto, não as criou por simples capricho da sua vontade, para dar a si mesmo, em seguida, o prazer de as aniquilar, pois que todas tinham vida, instintos, sensação de dor e de bem-estar. Com que fim Ele o fez? Com um fim que há de ter sido soberanamente sábio, embora ainda não o compreendamos. Certamente, um dia será dado ao homem conhecê-lo, para confusão do seu orgulho; mas, enquanto isso não se verifica, como se lhe ampliam as ideias ante os novos horizontes em que lhe é permitido, agora, mergulhar a vista, em presença do imponente espetáculo dessa criação, tão majestosa no seu lento caminhar, tão admirável na sua previdência, tão pontual, tão precisa e tão invariável nos seus resultados!
Referências:
A Gênese, os milagres e as predições segundo o Espiritismo - Cap. VII - Allan Kardec.