André e seu amigo Hilário estão ao lado de Clarêncio quando este recebe um pedido de socorro de uma protegida da colônia, Evelina, que se encontra encarnada. O interessante é que a prece não fora direcionada, à princípio, aos amigos espirituais que a receberam, mas à sua mãe que já estava desencarnada. Acontece que a mãe da moça, Odila, não se encontrava em condições de sequer perceber as preces da filha, por estar enlouquecida de ciúmes do marido que deixara na Terra, já que havia desposado outra moça, Zulmira. A nova esposa de Amaro, o viúvo de Odila, culpa-se pela morte do enteado mais novo, o que abriu portas à obsessão exercida por Odila, agravando-lhe o estado de saúde. Logo no começo do livro, um quadro de obsessão e outro do poder da prece já são apresentados ao leitor.

A trama vai se desenrolando e outros personagens são inseridos, possibilitando desenvolver assuntos graves e que são do interesse da população encarnada. Desajustes familiares, o apego aos afetos, as lutas cotidianas e o esforço no aprimoramento próprio são muito bem exemplificados, conforme acompanhamos o drama real dos personagens dessa obra. O autor nos mostra como funciona a lei de causa e efeito, narrando episódios da vida passada dos personagens que justificam a forma como se encontram na vida presente. Como o adultério pode ser reparado em uma vida futura? O que dizer da morte de uma criança que ainda não tivera tempo para errar ou acertar? Para onde vão essas crianças após o desencarne?

No decorrer da narrativa, André Luiz nos fala um pouco sobre o tema do suicídio, quais as consequências que esse ato impensado pode trazer para o espírito, quais os tipos de dificuldades que a gestante pode ter na encarnação seguinte do espírito que foi suicida, quais as provas que aguardam esse irmão na próxima jornada. André também nos mostra a força que a prece tem, como sempre temos amigos velando por nós, ainda que a situação não pareça favorável e como, muitas vezes, aquele irmão que um dia foi obsessor pode vir a se tornar um grande amigo.

Uma personagem chama bastante atenção no livro, apesar de não aparecer tanto. Trata-se de Blandina, que conhecemos no meio espírita por Meimei. Nessa obra, é contado que ela cuida de crianças recém-desencarnadas em uma instituição própria para esse tipo de situação. Conta-nos o autor que as mães, ainda encarnadas, dessas crianças, podem visitá-las durante o sono físico, aliviando um pouco das saudades que ambos sentem.

Outro personagem que se destaca é o próprio André Luiz, justamente por se colocar cada vez mais à margem dos acontecimentos. Percebemos um amadurecimento do autor espiritual, quando comparamos-no com o André que conhecemos no primeiro livro da série, Nosso Lar. André mostra-se mais sério, mais paciente, mais compreensivo. E cada vez mais veremos André cedendo o protagonismo a outros personagens, cujas histórias narra lindamente.

EntreTerraCeu3

Neste livro, André nos conta uma história que poderia ser a minha, a sua, a do seu vizinho, a do seu chefe, de qualquer um de nós, pois tratam-se de pessoas comuns, como eu e você, nem tão boas e nem tão más, trilhando o caminho da evolução, cometendo erros, fazendo algumas boas ações, tentando não arrumar mais dívidas para as próximas vidas. Esse romance pode fazer-nos pensar que talvez as novelas mexicanas não sejam tão exageradas em suas relações, pois nossas vidas são mesmo um emaranhado, uma teia enorme, em que apenas conseguimos perceber aquela pequena área em que nos achamos grudados.


Chico Xavier -  André Luiz

Deixe seu Comentário