O melhor caminho da oração se encontra a perceber que não somos os únicos, aqui, neste plano, a enfrentar os dissabores da vida’’.

Muitos já devem ter ouvido a expressão, melhor só, do que mal acompanhado, não é mesmo? Aproveito a oportunidade, proposital, de chamar a quem estará por ler esse texto, com a finalidade de abordar a questão da solidão, da perda de conexão, de proximidade, de interatividade com outras pessoas. É bem verdade, apesar de haver todo um discurso de encontrarmos muitos amigos, por meio das redes sociais, na mais concreta verdade, percebe-se uma perda sentida de amigos próximos, de amigos que nos escutam, de amigos companheiros, de amigos não perfeitos, de amigos gente. Quer queiramos ou não, a realidade que nos cerca se forma pela ilusão de estarmos durante vinte e quatro horas a disposição, prontos para agir e responder, para consumir e descartar. Por consequência, quando se fala em amizade, em doar o tempo, parar para escutar, causa estranheza. A vida moderna deixou de ser mais cadenciada, mais previsível, mais pausada, tudo se submete as engrenagens do não cessar, da dinâmica continua, do tempo é dinheiro e corremos tresloucados, para lá e cá, em busca de mais, de mais uma distração, de mais um compromisso, de mais um evento, de mais um curso, de mais uma esticada, sem cogitar de que nossa humanidade se define e se forma, na maneira como somos através de outros, como se liga e interliga com outras pessoas. Sinceramente, como nos esquecemos da interdependência, tanto ao nascer quanto ao morrer, tanto ao amadurecer quanto ao envelhecer, tanto nos bons quanto nos maus momentos. Se compreendessemos o quanto as particularidades e as diferenças não são necessariamente um obstáculo e, em direção oposta, a compaixão, o ser compassivo nos faz próximos uns dos outros. Eis o desafio a qual temos adiante, ou seja, resgatarmos a intensidade e o compartilhar de vida, como fundamentos indispensáveis para tirar as pessoas da solidão. Afinal de contas, posso estar sozinho, mas não solitário, não com essa sensação de vazio, de abandono, de sem valia. Digo isso, porque não posso tocar a Deus, não ir até o mesmo, mesmo assim, posso vivenciar isso, por meio da forma como me relaciono com os filhos e filhas de Deus, com o privilégio de não ser enredado por um estado de abismo ou por ser solitário. Não por menos, se estivermos cheios de raiva, de uma visão obscura da vida, de um leitura de culpa e condenação dos outros, adentraremos no labirinto de sermos solitários: receosos, desconfiados, indiferentes. Agora, a postura que adoto pode me ajudar a apresentar uma atitude diferenciada e saudável de confiança e amizade, de companheirismo e compromisso, com quem está ou não, ao meu lado. Sem sombra de dúvida, sem afeto e afeição, sem importância e atenção pelas pessoas, jamais encontraremos uma dimensão de esperança, de confiança, com a diminuição do receio e o aumento dos vínculos, da amizade, do compartilhar e reconhecer que não, necessariamente, deve ser melhor estar sozinho, do que mal acompanhado. Indo ao texto de Mateus 5.9, podemos extrair os atributos da amizade, de ser amigo, de ser um animo. As pessoas se superam, diante da confiança e do companheirismo; em contrapartida, seremos receosos e desconfiados, caso venhamos a não aceitar esse chamado e o resultado será a solidão, será esse vácuo, será está na multidão de mais de sete bilhões de seres humanos, sem qualquer encontro de vidas. Vou adiante, começamos a desaguar uma vida de alienação e de solidão, de não ver o outro como irmão. Ouso parafrasear uma música interpretada por Gilberto Gil, a qual declara se eu quiser falar com Deus e pontuo ser vital de que, eu e você, como os sete bilhões de pessoas, torna-se no caminho para se chegar, até o mesmo, conforme disse acima. Talvez o nosso desafio passa por não culpar e muito menos condenar as pessoas solitárias, não considerar como algo que atinge a muitos, porque ninguém se torna solitário por querer, ocorre por motivos específicos, não há um catálogo para essa situação. O caminho a ser feito se estabelece na aceitação e no acolhimento, de ser sensível de que quem se isolou, se confinou, se escondeu enfrenta o temor da rejeição, do julgamento, das justificativas. Somos a geração dos condomínios, das metrópoles, da era digital, dos entretenimentos e não conseguimos mais atentar para o nosso vizinho, para o nosso irmão de comunidade, para o nosso colega de trabalho, para as nossa família. Ademais, somos chamados para acreditar que faz bem estar acompanhado, sim e sim, por amigos, pela amizade, basta observar para o conceito de Deus, dentro da fé cristã, se refere a uma trindade, a um unir-se, a um conectar-se, a um partilhar e compartilhar.

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