A crença de que basta somente a fé para termos o merecimento das bem-aventuranças é algo que se perde na história do Cristianismo. Em uma leitura equivocada, religiosos afirmam buscar nas escrituras base para essas afirmativas.
Paulo, o apóstolo dos gentios, após sua peregrinação por diversos povos divulgando a Boa Nova, constata, através de notícias que, após sua passagem pelas terras de Galácias, este povo, já iniciado na mensagem de Jesus, se volta às práticas do judaísmo, misturando ao Cristianismo nascente, deturpando-o.
Paulo então, com a autoridade reconhecida pelos seguidores do Mestre, escreve, de forma veemente, a carta aos Gálatas, conclamando-os ao raciocínio da crença libertadora da doutrina cristã em contraponto às formalidades preconizadas pelos códigos religiosos vigentes até então (“as obras da lei”, Gl. 2, 16), entre elas a circuncisão, os rituais, cerimônias, dogmas, sacrifícios ou quaisquer exigências de demonstração exterior de crença.
O apóstolo confirma a lei ensinada por Jesus: “Amar a Deus sobre todas as coisas” (Mt. 22, 37), “amando o próximo como a si mesmo” (Mt. 22, 39), esclarecendo que a fé não necessita de nenhum culto exterior, mas sim de obras que a testifiquem; que ter fé só por ter de nada adianta; dizer que simplesmente crê em Cristo não 'salva' ninguém:
“...a quem pensar que ter fé por si só é suficiente, sou levado a dizer: acreditais na existência de Deus? No inferno, os demônios também acreditam e, no entanto, estremecem. Porventura, ainda não vês, ó homem sem percepção, que a fé sem obras é inútil e morta?” (Tg. 2, 19 e 20).
A clareza da carta de Thiago expõe ao cristão o compromisso de não se apegar ao culto externo, mas sim à fé objetiva e operante no bem, como meio de justificar o seu crescimento espiritual.
As recomendações de Paulo aos Gálatas são válidas ainda hoje aos espíritas: Não permitam que, em nome da modernidade, se agreguem à Doutrina outras práticas estranhas que desvirtuem o compromisso da 3ª Revelação, não coadunados com sua pureza e simplicidade ou que criem ritos e dogmas.
A fé raciocinada (“Fé inabalável é somente aquela que pode encarar a razão face a face, em todas as épocas da humanidade” - O Evangelho segundo o Espiritismo), junto às obras do indivíduo (“Fora da caridade não há salvação” - O Evangelho segundo o Espiritismo, cap.15) são os compromissos que todo espírita deve assumir quando entende o Espiritismo como uma forma de religar-se ao Criador e como uma filosofia de vida.
Fontes:
KARDEC, A. O Evangelho segundo o Espiritismo. ed. 120. Rio [de Janeiro]: FEB, 2002;
PALHANO Jr., L. Aos gálatas: a carta da redenção. Niterói, RJ: Lachâtre, 1999.
Por LUIS ROBERTO SCHOLL