“…O mundo está cheio dessas pessoas que tem o sorriso nos lábios e o veneno no coração; que são brandas, contanto, que nada as machuque, mas que mordem à menor contrariedade; cuja língua se transmuda em dardo envenenado, quando estão por detrás”. (E.S.E. Capítulo IX).
É próprio do ser humano agir dessa forma, principalmente, no estágio em que os habitantes do planeta Terra se encontram. Vivemos um momento em que primitivismo, provas e expiações e regeneração se interagem no propósito de encontrar seu espaço, cada qual estagiando nas próprias dores e dificuldades.
Como abandonar milênios de “certezas” para aceitar milhares de “dúvidas”? Como despojar o homem velho que me dá uma aparente segurança, para incorporar o homem novo que preciso? Essa inconstância nos causa insegurança e medo. Medo do novo, medo de desconstruir ideias, medo de errar, enfim, medo de olhar para dentro e ter que sofrer com coisas que julgávamos mortas, como diz o cantor Raimundo Fagner em sua música “Revelação”: “Sentimento ilhado, morto, amordaçado, volta incomodar”.
Nada morre, tudo se transforma. Mas para que haja transformação, será necessário fazer essa viagem interior, olhar com carinho nossas mazelas, aceitarmo-nos como realmente somos para então fazer a transição tão necessária. Aprender a desconstruir, para reconstruir com bases mais sólidas nossas ideias e ações.
Enquanto estivermos nessa “guerra interior”, nossas ações serão baseadas naquilo que sentimos, enxergamos e damos conta de fazer. Perdoar a si mesmo é uma meta dolorosa de atingir, mas, extremamente, necessária, porque quando isso acontecer, não existirão mais culpados em nossa vida, e nosso relacionamento íntimo ou com os demais será gratificante e não doloroso.
“Ai daquele que diz, nunca perdoarei, pois pronuncia sua própria condenação (Paulo Apóstolo E.S.E. Cap. X, Item 15)”.
A afirmação do apóstolo Paulo tem que ser analisada com carinho. A partir do momento em que eu digo “nunca perdoarei” realmente estarei me condenando a sofrer todas as vezes em que eu me deparar com aquela pessoa que me feriu; sofrer quando alguém me falar dela; sofrer quando ouvir o nome dela; enfim, condenado a me tornar escravo daquilo que me disseram, mesmo sabendo eu que nem tudo que foi dito era verdade.
Essa preocupação com o que o outro pode pensar, me faz sofrer e por medo de sofrer me afasto cada vez mais das pessoas, buscando a solidão que considero uma proteção para meu íntimo incompreendido.
Lembrando que dor e sofrimento não é castigo, nem evolução. São sinalizadores que alguma coisa tem que mudar; significa que você está contra você. A “compreensão” da dor, isso sim é evolução. Não basta eu identificar “o que” sinto, mas “porque” sinto. Todo crescimento causa dor, mas quando consigo superar essa dor, a recompensa é gratificante.
Mágoa, rancor, insegurança, tristeza, doença, são “produtos” afins, derivados da falta de perdão. Analisemos:
• Seria mais interessante, embora penoso, discutir o que faremos para perdoar um inimigo;
• Como vencer um hábito sexual;
• Como vencer impulsos menos dignos para com alguém;
• Como ser uma criatura agradável onde vivemos;
• Porque nos ofendemos com uma determinada forma de agir;
• Qual a razão de nos irritarmos perante um fato específico;
• Qual a origem de certas fantasias que nos acompanham compulsivamente;
• Porque determinada tarefa é trabalhosa para nós;
• Onde as causas da preguiça para estudar;
• Como se sentir motivado para a leitura edificante;
• O que podemos fazer para ajudar alguém que todos querem excluir;
• Qual a causa dos pensamentos de vingança que costumam surgir em nossa tela mental;
• Quais os traumas da infância que ainda nos influenciam na adulta idade;
• Qual o motivo da atração ou rejeição por uma pessoa em particular…
São muitas as perguntas das quais fugimos por serem dolorosas, mas quando obtivermos essas respostas encontraremos o caminho da felicidade porque teremos a certeza que o perdão liberta.
Francisco Ortolan
Revista Agenda Espírita Brasil