Breves reflexões sobre a morte.
A principal
surpresa do indivíduo ao se defrontar com a experiência da morte é a de que
continua vivo. A morte não existe. Acreditar na imortalidade
espiritual implica em modificar por completo os padrões de vida quando
comparados com o perfil do materialista, que não crê em nada além da morte.
Aquele que imagina o fim absoluto ao término da existência física não tem razão
alguma para ser uma boa pessoa, ajudar o outro, ser honesto, solidário,
caridoso. Tudo deixará de existir mesmo; então, para que considerar a ética e
os valores defendidos pelos moralistas? No entanto, quando admitimos a
continuidade existencial após o sepulcro, somos naturalmente impelidos a adotar
mínimas providências para considerar como ficará nossa situação do outro lado
da vida. As concepções religiosas acerca do assunto são variadas e, às vezes,
conflitantes. Mas, esta é a razão da existência de diversas religiões, pois
cada uma explica à sua maneira como ficará a alma após a morte do corpo físico.
Céu, inferno, purgatório, sono eterno, espera de julgamento são opções
tradicionais que as doutrinas dogmáticas ofertam a seus profitentes. O
Espiritismo tem mais a oferecer. A vida futura contém a explicação para o
entendimento da mensagem de Jesus. Sem a perspectiva do porvir, ficamos
limitados a estreitos horizontes que nos impedem de ampliar a visão para entendimento
mais amplo do verdadeiro significado da vida, em sua expressão de imortalidade.
Um amigo comentava ainda outro dia: “o maior patrimônio que Deus ofereceu ao
homem foi conferir-lhe o dom de ser imortal”. Essa condição é inerente à nossa
natureza. Portanto, não há como excluí-la, por mais que alguém tenha esse
propósito. Nem nós mesmos conseguimos eliminar a essência divina que guardamos
na intimidade do ser, pois reconhecer a paternidade de Deus implica assumir a
postura de filhos. Entretanto, por mais que tenhamos a ideia de nossa
imortalidade, a experiência da morte física é algo que ainda nos causa
estranheza, surpresa e, por que não dizer, em algumas situações, mal-estar. Nascemos,
morremos, renascemos inúmeras vezes, e continuamos nos acertos e desacertos das
provas e expiações, repetindo lições não aprendidas, indo e vindo e tornando a
voltar... E a morte, ainda nos causando enorme impacto! Quando observamos e
acompanhamos entes queridos, familiares ou amigos próximos, despedindo-se da
vida impermanente e acessando o portal da realidade imorredoura, é quase
inevitável refletirmos sobre a transitoriedade da existência passageira e a importância
da vida perene. É indispensável que tais reflexões se manifestem enquanto
estivermos a caminho, do lado de cá. E o Espiritismo concede-nos essa
extraordinária oportunidade, por nos oferecer os elementos indispensáveis para
que pensemos mais amplamente, entendendo a essência da vida no antes e depois
da breve passagem pela vida material. Do outro lado da vida não há milagres. E
a morte não nos transformará num “passe de mágica”. A situação a ser encontrada
por lá é exatamente a que estamos construindo aqui neste momento. Por isso, não
percamos tempo em dúvidas e questionamentos desnecessários; esforcemo-nos por
praticar a lei de justiça, amor e caridade em sua essência e plenitude. Isso
sim é que fará a diferença fundamental entre a nossa felicidade ou infelicidade
no grande amanhã que aguarda a todos.
Referências: KARDEC, Allan. O evangelho segundo o
espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 130. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB,
2011. Cap. 28, it. 40 e 41. O livro dos espíritos. Trad. Evandro Noleto
Bezerra. 2. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Q. 165. SIMONETTI,
Richard. Quem tem medo da morte? 3. ed. Bauru, SP: CEAC, 2003. XAVIER,
Francisco C. Voltei. Pelo Espírito Irmão Jacob. 28. ed. 4. R