Reunião pública de 24/8/59
Questão nº 936
Nenhum sofrimento, na Terra, será talvez comparável ao daquele coração
que se debruça sobre outro coração regelado e querido que o ataúde
transporta para o grande silêncio.
Ver a névoa da morte estampar-se, inexorável, na fisionomia dos que mais
amamos, e cerrar-lhes os olhos no adeus indescritível, é como despedaçar a
própria alma e prosseguir vivendo.
Digam aqueles que já estreitaram de encontro ao peito um filhinho
transfigurado em anjo da agonia; um esposo que se despede, procurando
debalde mover os lábios mudos; uma companheira cujas mãos consagradas à
ternura pendem extintas; um amigo que tomba desfalecente para não mais se
erguer, ou um semblante materno acostumado a abençoar, e que nada mais
consegue exprimir senão a dor da extrema separação, através da última
lágrima.
Falem aqueles que, um dia, se inclinaram, esmagados de solidão, à frente
de um túmulo; os que se rojaram em prece nas cinzas que recobrem a
derradeira recordação dos entes inesquecíveis; os que caíram, varados de
saudade, carregando no seio o esquife dos próprios sonhos; os que tatearam,
gemendo, a lousa imóvel, e os que soluçaram de angústia, no ádito dos
próprios pensamentos, perguntando, em vão, pela presença dos que partiram.
Todavia, quando semelhante provação te bata à porta, reprime o desespero
e dilui a corrente da mágoa na fonte viva da oração, porque os chamados
mortos São apenas ausentes e as gotas de teu pranto lhes fustigam a alma
como chuva de fel.
Também eles pensam e lutam, sentem e choram. Atravessam a faixa do
sepulcro como quem se desvencilha da noite, mas, na madrugada do novo dia,
inquietam-se pelos que ficaram... Ouvem-lhes os gritos e as súplicas, na onda
mental que rompe a barreira da grande sombra e tremem cada vez que os
laços afetivos da retaguarda se rendem à inconformação ou se voltam para o
suicídio.
Lamentam-se quanto aos erros praticados e trabalham, com afinco, na
regeneração que lhes diz respeito.
Estimulam-te à prática do bem, partilhando-te as dores e as alegrias.
Rejubilam-se com as tuas vitórias no mundo interior e consolam-te nas
horas amargas para que te não percas no frio do desencanto.
Tranquiliza, desse modo, os companheiros que demandam o Além,
suportando corajosamente a despedida temporária, e honra-lhes a memória,
abraçando com nobreza os deveres que te legaram.
Recorda que, em futuro mais próximo que imaginas, respirarás entre eles,
comungando-lhes as necessidades e os problemas, porquanto terminarás
também a própria viagem no mar das provas redentoras.
E, vencendo para sempre o terror da morte, não nos será lícito esquecer
que Jesus, O nosso Divino Mestre e Herói do Túmulo Vazio, nasceu em noite
escura, viveu entre os infortúnios da Terra e expirou na cruz, em tarde
pardacenta, sobre o monte empedrado, mas ressuscitou aos cânticos da
manhã, no fulgor de um jardim.