Guerras
O que impele o homem à guerra é a predominância da natureza animal sobre a natureza espiritual e transbordamento das paixões. No estado de barbaria, os povos um só direito conhecem: o do mais forte. Por isso é que, para tais povos, a guerra é um estado normal. À medida que o homem progride, menos frequente se torna a guerra, porque ele lhe evita as causas. E, quando se torna necessária, sabe fazê-la com humanidade.
Quando os homens compreenderem a justiça e praticarem a lei de Deus a guerra desaparecerá da Terra. Nesse dia, todos os povos serão irmãos.
A Providência, tornou necessária a guerra para que houvesse a liberdade e o progresso.
A subjugação que resulta das guerras é temporária, para pressionar os povos, a fim de fazê-los progredir mais depressa.
Aquele que suscita a guerra para proveito seu é um grande culpado e muitas existências lhe serão necessárias para expiar todos os assassínios que tenha causado, porquanto responderá por todos os homens cuja morte foi responsável para satisfazer a sua ambição.
Assassínio
Grande crime é o assassínio, pois aquele que tira a vida ao seu semelhante corta o fio de uma existência de expiação ou de missão. Aí é que está o mal.
Deus é justo, julga mais pela intenção do que pelo fato. Por isso, não é sempre do mesmo grau a culpabilidade em todos os casos de assassínio.
Em caso de legítima defesa, só a necessidade o pode escusar. Mas se o agredido puder preservar sua vida sem atentar contra a de seu agressor, deverá fazê-lo.
O homem não tem culpa dos assassínios que pratica durante a guerra quando constrangido pela força; mas é culpado das crueldades que comete, sendo-lhe também levado em conta o sentimento de humanidade com que proceda.
Mesmo entre alguns povos, já adiantados sob o ponto de vista intelectual, o infanticídio seja um costume e esteja consagrado pela legislação. Pois o desenvolvimento intelectual não implica a necessidade do bem. Um Espírito superior em inteligência pode ser mau. Isso se dá com aquele que muito tem vivido sem se melhorar: apenas sabe.
Crueldade
O sentimento de crueldade é o instinto de destruição no que tem de pior, porquanto, se, algumas vezes, a destruição constitui uma necessidade, com a crueldade jamais se dá o mesmo. Ela resulta sempre de uma natureza má.
Nos povos primitivos, a matéria prepondera sobre o Espírito. Eles se entregam aos instintos do bruto e, como não experimentam outras necessidades além das da vida do corpo, só da conservação pessoal cogitam, e é o que os torna, em geral, cruéis. Ademais, os povos de imperfeito desenvolvimento se conservam sob o império de Espíritos também imperfeitos, que lhes são simpáticos, até que povos mais adiantados venham destruir ou enfraquecer essa influência.
A crueldade deriva da falta de desenvolvimento do senso moral; porquanto o senso moral existe, como princípio, em todos os homens. É esse senso moral que dos seres cruéis fará mais tarde seres bons e humanos. Ele, pois, existe no selvagem, mas como o princípio do perfume no gérmen da flor que ainda não desabrochou.
Em estado rudimentar ou latente, todas as faculdades existem no homem. Desenvolvem-se, conforme lhes sejam mais ou menos favoráveis as circunstâncias. O desenvolvimento excessivo de uma detém ou neutraliza o das outras. A sobre-excitação dos instintos materiais abafa, por assim dizer, o senso moral, como o desenvolvimento do senso moral enfraquece pouco a pouco as faculdades puramente animais.
No seio da mais adiantada civilização encontram-se seres às vezes tão cruéis quanto os selvagens. Espíritos de ordem inferior e muito atrasados podem encarnar entre homens adiantados, na esperança de também se adiantarem. Mas se a prova é por demais pesada, predomina a natureza primitiva.
A humanidade progride. Esses homens, em quem o instinto do mal domina e que se acham deslocados entre pessoas de bem, desaparecerão gradualmente, como o mau grão se separa do bom, quando este é joeirado. Mas desaparecerão para renascer sob outros envoltórios. Como então terão mais experiência, compreenderão melhor o bem e o mal. Só ao cabo de muitas gerações o desenvolvimento se torna completo.
Referências:
O Livro dos Espíritos - Terceira parte - Cap. VI - Allan Kardec